Subiu para 101 o número de mortos na sequência da explosão de 17 de novembro de um camião-cisterna em Caphiridzange, província moçambicana de Tete. E 40 feridos ainda estão em tratamento. Incidente deixa muitas marcas.
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Quatro doentes vítimas da explosão do camião-cisterna que estavam internadas no Hospital Provincial de Tete, no centro do pais, receberam alta esta quinta-feira (01.12). Entre eles estava Claire Adelino. "Estou bem. O tratamento foi bom", disse à saída do hospital.
"Mais de dez doentes a partir da próxima semana também poderão voltar para as suas casas", anunciou Ussene Isse, diretor nacional de Assistência Médica, que chefia a equipa enviada a Tete pelo Governo central.
02.12.16 Tragédia de Caphirizange - MP3-Stereo
Os pacientes que receberam alta vão poder continuar com os tratamentos na localidade de Caphirizange. "Reforçamos o centro de saúde de Caphirizange com medicamentos, pessoal e material cirúrgico", assegurou Ussene Isse.
Continuam internados no hospital provincial de Tete 40 sinistrados, cuja evolução clínica é satisfatória, segundo o diretor nacional de Assistência Médica. "Estão fora de perigo. Mas há ainda um trabalho por fazer. Estamos agora a lidar com as feridas. Estão a secar e com bom prognóstico", disse Isse.
Polícia sem pistas
Duas semanas depois da tragédia de Caphirizange, as autoridades policiais moçambicanas ainda não têm pistas sobre os autores criminais deste incidente. Continua detido, na cidade de Tete, um jovem comerciante de combustíveis em Moatize suspeito de envolvimento no incêndio que provocou a tragédia.
O comando provincial da polícia de Tete garantiu à DW África que a corporação ainda está à procura do motorista do camião-cisterna, atualmente em local desconhecido.
O camião que explodiu pertencia a uma companhia malauiana que transportava dois tanques de combustível. Ter-se-á desviado da rota para vender combustível a revendedores de rua, segundo a agência Lusa. Mas uma das secções do tanque incendiou-se. Os motoristas ter-se-ão posto em fuga e a população começou a retirar combustível da segunda secção do tanque, onde se deu a explosão.
Na quinta-feira (01.12), o comandante-geral da Polícia da República de Moçambique (PRM), Júlio Jane visitou a localidade de Caphirizange, para se inteirar dos trabalhos da equipa de inquérito criada pelo Governo, que dentro de dias deverá apresentar os resultados da investigação.
As marcas da tragédia jamais serão esquecidas. Dados preliminares apontam para uma centena de crianças órfãs. E quem sobreviveu as queimaduras promete que não voltará a vender combustível, palavras de Claire "Não vou fazer mais. Aquilo ai é um perigo", admite Claire Adelino.
Tragédia em Tete
A explosão de um camião-cisterna em Tete, centro de Moçambique, durante um roubo coletivo de combustível causou 93 mortos. Dezenas de famílias ficaram desestruturadas e sem base de sustento.
Foto: DW/A. Zacarias
A explosão
A explosão deste camião-cisterna (17.11) que transportava combustível, em Nhacathale, localidade de Caphiridzange, província de Tete, centro de Moçambique, matou 93 pessoas, segundo o último balanço oficial. Entre as vítimas, há duas grávidas e 12 crianças, que estavam envolvidas no roubo coletivo do combustível, quando se deu a explosão. Há 50 feridos no hospital provincial, 13 em estado crítico.
Foto: DW/A. Zacarias
Camião abandonado
Este camião de uma companhia malauiana transportava dois tanques de combustível. Ter-se-á desviado da rota, para vender combustível a revendedores de rua, segundo a agência Lusa. Mas uma das secções do tanque incendiou-se. Os motoristas ter-se-ão posto em fuga e, na ausência das autoridades, a população começou a retirar combustível da segunda secção do tanque, onde se deu a explosão.
Foto: DW/A. Zacarias
Roubo de combustível fatal
Esta moto foi usada por alguns populares para o transporte de combustível, desde o local onde se encontrava o camião, em Nhacathale, na localidade de Caphiridzange, para as casas dos populares, para posteriormente ser vendido.
Foto: DW/A. Zacarias
Aldeia de luto
Em Nhacathale quase todas as famílias estão de luto. Há órfãos, viúvas e há casas onde todos perderam a vida. Dezenas de famílias ficaram desestruturadas e perderam a base de sustento. No sábado (19.11), pelo menos 22 corpos foram a enterrar no cemitério local.
Foto: DW/A. Zacarias
Causas ainda por apurar
A ministra da moçambicana da Administração Estatal e Função Pública, Carmelita Namashulua, visitou o local da tragédia, cujas causas permanecem incertas, disse.
A ministra anunciou que o Governo criou uma comissão para assegurar que a desintegração das famílias não conduza os sobreviventes para um caos social. A comissão de apoio social deverá fazer um levantamento das necessidades.
Foto: DW/A. Zacarias
Sozinho com 11 filhos
Manuel António ficou viúvo. Tinha duas esposas, as duas morreram carbonizadas no local da tragédia. António tem agora 11 filhos menores à sua guarda. O carpinteiro de 57 anos conta que quando a explosão aconteceu estava no mato à procura de madeira para sua carpintaria.
Foto: DW/A. Zacarias
Lágrimas
Helena chora pela irmã. Muitas famílias estão desesperadas, porque a cada dia há mais mortes no hospital e há novas famílias atingidas ou repetindo o luto. Vários residentes dizem que vai demorar ainda muito tempo até que a aldeia recupere da dor da tragédia.
Foto: DW/A. Zacarias
Famílias desestruturadas
Joseph, de 51 anos, perdeu três elementos da família na explosão do camião-cisterna. Sobrinho, irmão e cunhado, todos morreram no local da tragédia. Moçambique cumpriu três dias de luto nacional.
Foto: DW/A. Zacarias
Sofrimento generalizado
Enquanto se choram os mortos, trata-se dos feridos. O Governo moçambicano anunciou que reforçou a capacidade de intervenção dos serviços de saúde, nomeadamente do Hospital Provincial de Tete, incluindo mais médicos, medicamentos e a disponibilização de dispositivos de climatização para os blocos de enfermaria. Ainda nenhum dos feridos teve alta.
Foto: DW/A. Zacarias
Órfãos
Muitos menores ficaram órfãos em Nhacathale, na sequência da explosão do camião-cisterna que transportava combustível. Na aldeia, quase ninguém sai à rua para consolar os vizinhos em luto, como é tradicional na cultura moçambicana. Isto porque quase todas as casas estão de luto.