Tragédia em estádio angolano gera comoção internacional
Lusa | DPA | kg
11 de fevereiro de 2017
UEFA, equipas portuguesas e autoridades enviam condolências aos familiares das 17 pessoas mortas em tumulto durante jogo de abertura do campeonato angolano de futebol. Pelo menos 60 pessoas ficaram feridas.
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A morte de 17 torcedores durante o jogo de abertura do campeonato de futebol angolano (Girabola) gerou reações de clubes esportivos e autoridades internacionais este sábado (11.02).
A União das Federações Europeias de Futebol (UEFA) expressou solidariedade à Federação Angolana de Futebol pela tragédia ocorrida esta sexta-feira no Estádio Municipal 4 de Janeiro, em Uíge, no norte do país. "Queremos expressar as condolências profundas às famílias das vítimas", escreveu em nota o presidente da organização, Aleksander Ceferin.
O incidente ocorreu nos primeiros minutos da partida entre o Santa Rita de Cássia e o Recreativo do Libolo, quando torcedores forçaram a entrada por um dos portões do estádio, que acabou por ceder. As vítimas foram pisoteadas e muitas sofreram asfixia, incluindo crianças. Pelo menos, 59 pessoas ficaram feridas, sete delas em estado grave.
O Presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, enviou condolências ao presidente de Angola, José Eduardo dos Santos. "Foi com grande pesar que tomei conhecimento do acidente ocorrido hoje no jogo de estreia do Girabola 2017, que vitimou numerosas pessoas, entre as quais crianças", afirmou.
"Nesta hora difícil, quero transmitir-lhe, senhor Presidente, em meu nome e em nome do povo português, toda a solidariedade para com o povo angolano, para com os adeptos e profissionais dos clubes que estavam em campo, e especialmente para com as famílias das vítimas, a quem envio, através de Vossa Excelência, as mais sinceras condolências", escreve na mensagem.
A liga espanhola de futebol decretou um minuto de silêncio nos jogos dos dois campeonatos profissionais deste fim de semana em memória das vítimas da tragédia. A Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF) aceitou o pedido da liga, com o minuto de silêncio a respeitar-se antes dos jogos da 22ª jornada do primeiro escalão e da 25ª do segundo. O FC Porto, Sporting e Benfica também enviaram mensagens de solidariedade.
Inquérito
O presidente angolano exigiu a abertura de um inquérito para investigar as causas da tragédia e instruiu o governo provincial de Uíge a prestar apoio aos familiares das vítimas e aos feridos. O Ministério da Juventude e Desportos solicitou à Federação Angolana de Futebol, à Associação de futebol local e às autoridades da província do Uíge que tomem as medidas necessárias. Segundo a agência Lusa, a investigação está a ser coordenada pela delegação provincial do Uíge do Ministério do Interior.
Apesar das mortes, a partida não foi interrompida e terminou em 1 a 0, com vitória dos forasteiros. Apesar da conquista, o Recreativo do Libolo expressou consternação. "Enquanto dentro do terreno, os jogadores disputavam cada lance, lá fora, os adeptos tentavam entrar no estádio e um dos portões terá cedido à pressão, fazendo com que muita gente fosse literalmente esmagada pela força da multidão, ávida de assistir ao encontro", explica comunicado publicado no site da equipa.
O presidente do Santa Rita, Pedro Nzolonzi, responsabilizou a polícia pela tragédia. "Ocorreu um erro grave da polícia, ao deixar a população aproximar-se do campo. Muitos não queriam pagar e os que tinham bilhetes não conseguiam entrar. Depois começou a confusão. É muito triste", explicou o dirigente à agência Lusa. "Uíge é um povo que gosta de futebol e todo o mundo queria entrar no campo. Foi uma falha grave."
O treinador português do Santa Rita, Sérgio Traguil, lamentou a tragédia. "É uma coisa que ultrapassa qualquer resultado. Não interessa nem vitória, nem derrota. O meu pensamento está com as famílias que viram os seus filhos falecer desta forma, pessoas que tentaram a todo o custo ver os seus ídolos. É uma tragédia enorme, estou devastado. Nunca pensei que fosse passar por um momento destes", afirmou.
Angola: Os contrastes de um gigante petrolífero
O "boom" do petróleo ainda não é para todos. Ao mesmo tempo que Angola oferece oportunidades de investimento a empresas nacionais e estrangeiras, mais de um terço da população vive com menos de um dólar por dia.
Foto: DW/R. Krieger
Lama no cotidiano
O bairro Cazenga é o mais populoso de Luanda – ali, vivem mais de 400 mil pessoas numa área de 40 quilômetros quadrados. Em outubro de 2012, chuvas fortes obrigaram muitos habitantes a andar na lama. Do Cazenga saíram muitos políticos do partido governista angolano MPLA. "Uma das prioridades de políticos pobres é a riqueza rápida", diz o economista angolano Fernando Heitor.
Foto: DW/R. Krieger
Dominância do MPLA
Euricleurival Vasco, 27, votou no MPLA nas eleições gerais de agosto de 2012: "É o partido do presidente. Desde a guerra civil, ele tenta deixar o poder, mas a população não deixa". Críticos dizem que José Eduardo dos Santos não cumpriu nenhuma promessa eleitoral, como acesso à água e à eletricidade. Mas o governo lançou um plano de desenvolvimento em novembro para dar esses direitos à população.
Foto: DW/R. Krieger
Economia informal em Angola
Muitos angolanos esperam riqueza do chamado "boom" do petróleo. Mas grande parte da população é ativa na economia informal, como estas vendedoras de bolachas na capital, Luanda. Segundo a ONU, 37% da população vivem com menos de um dólar por dia. Elias Isaac, da organização de defesa dos direitos humanos Open Society, considera este um "contrassenso" entre "crescimento e desenvolvimento".
Foto: DW/R. Krieger
Uma infraestrutura de fachada?
A capital angolana Luanda é considerada uma das cidades mais caras do mundo. Um prato de sopa pode custar cerca de 10 dólares num restaurante, o aluguel de um apartamento mais de cinco mil dólares por mês. A Baía de Luanda é testemunho constante do "boom" do petróleo: guindastes e arranha-céus disputam quem é mais alto.
Foto: DW/Renate Krieger
O "Capitólio" de Angola
Próximo à Baía de Luanda, surge a nova sede do parlamento angolano. O partido governista MPLA vai ocupar a maior parte dos 220 assentos: elegeu 175 deputados em agosto de 2012. Por outro lado, o MPLA perdeu 18 assentos em comparação à eleição de 2008. A UNITA, maior partido da oposição, ganhou 32 assentos em 2012 – mas tem pouco espaço...
Foto: DW/R. Krieger
O presidente no cotidiano de Luanda
…porque, segundo críticos, o presidente José Eduardo dos Santos (numa foto da campanha eleitoral) "domina tudo": o poder Executivo, o Judiciário e o Legislativo, diz o economista Fernando Heitor. José Eduardo dos Santos também parece dominar muitas ruas de Luanda: em novembro de 2012, quase todas as imagens eram da campanha do partido no poder, o MPLA.
Foto: DW/R. Krieger
Dormir nos carros
Os engarrafamentos são frequentes em Luanda. Por isso, muitos funcionários que moram em locais mais afastados já partem para a capital angolana de madrugada. Ao chegarem em Luanda, dormem nos carros até a hora de ir trabalhar – juntamente com as crianças que precisam ir à escola. A foto foi tirada às 06:00h da manhã perto do Palácio da Justiça em novembro de 2012.
Foto: DW/R. Krieger
A riqueza em recursos naturais de Angola
Angola é o segundo maior produtor de petróleo da África, mas também tem potencial para se tornar um dos maiores exportadores de gás natural. A primeira unidade de produção de LNG – Gás Natural Liquefeito, em inglês – foi construída no Soyo, norte do país, mas ainda está em fase de testes. A fábrica tem uma capacidade de produção de 5,2 milhões de toneladas de LNG por ano.
Foto: DW/Renate Krieger
Para acabar com a dependência do petróleo...
A diversificação da economia poderia ser uma solução, diz o Fundo Monetário Internacional (FMI). O governo angolano criou um fundo soberano do petróleo para investir no país e no estrangeiro, e para ter uma reserva caso haja oscilações no preço do chamado "ouro negro". Uma alternativa, segundo especialistas, poderia ser a agricultura, já que o petróleo só deve durar mais 20 ou 30 anos.
Foto: DW/R. Krieger
Angola atrai estrangeiros
Vêem-se muitas placas em chinês e empresas chinesas em Angola. Os chineses são a maior comunidade estrangeira no país. Em seguida, vêm os portugueses, que em parte fogem à crise económica europeia. Depois, os brasileiros, por causa da proximidade cultural. Todos querem uma parte da riqueza angolana ou investem na reconstrução do país.
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Homem X Asfalto
Para o educador Fernando Pinto Ndondi, o governo angolano deveria investir "no homem e não no asfalto". Há cinco anos, Fernando e sua famíla foram desalojados da ilha de Luanda por causa da construção de uma estrada. Agora vivem nestas casas precárias. O governo constrói novas casas para a população. Porém, os preços, a partir de 90 mil dólares, são altos demais para a maior parte dos angolanos.
Foto: DW/Renate Krieger
Para onde vai o dinheiro?
O que aconteceu com 32 mil milhões de dólares lucrados pela empresa petrolífera estatal angolana Sonangol entre 2007 e 2011? Um relatório do FMI constatou, em 2011, que faltava essa soma nos cofres públicos. A Sonangol diz ter investido o dinheiro em infraestrutura. Elias Isaac, da Open Society, diz que o governo disponibiliza mais informações – o que "não é sinônimo de transparência".