Em Angola, muitas mulheres optam, cada vez mais, por fazer tranças africanas tradicionais, em vez de aplicar tissagens brasileiras ou postiços. Para várias, é uma questão de valorização da cultura nacional.
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Nos salões de beleza, um pouco por toda Angola, há cada vez mais mulheres a pedir para fazer tranças tradicionais. A época festiva aproxima-se e a procura é tão grande, que os preços aumentaram. As tranças podem custar até 4.000 kwanzas (mais de 20 euros).
Angelina Isabel é uma cliente assídua de um salão de beleza improvisado no Huambo.
"Normalmente, neste mês, como tem muita aderência, elas estão a aumentar muito os preços. Pelo menos, eu vou pagar quatro mil", revela.
É caro, mas compensa, diz a cliente.
"Para mim, ser mais africana é melhor. Aconselho às mulheres, para mudar um pouco o visual, usando as nossas tranças tradicionais, o postiço de mão, tem escama também. São tranças que tornam a pessoa mais identificada", considera.
Áudio Tranças corrigido - MP3-Stereo
Grande procura
Victorina Graça trabalha há um ano como "trançadeira" e confirma que há cada vez mais mulheres a pedir para fazer tranças. Quanto aos preços, sai mais caro ao fim de semana.
"Os preços não são muito elevados, depende do tipo de tranças. Cada trança tem o seu preço. Por exemplo, as tranças de mão compridas, cobramos 3.000 kwanzas [cerca de 15 euros]. Afro, cobramos 4.000 kwanzas. Trançamos também crianças", descreve.
O negócio corre bem, de acordo com Rosalina Maurício, outra "trançadeira", que está há oito anos no ofício.
As tranças estão, de facto, na moda, segundo a profissional. E as redes sociais ajudaram.
"Muita procura, principalmente neste mês de dezembro. Acho que [as mulheres] estão a dar mais importância por causa da internet, acho eu. Há muita procura sim", afirma Rosalina Maurício.
O conceito africano da beleza
O conceito do que é belo em África é diverso e está em constante mudança. Máscaras centenárias mostram que muito do que foi tido como belo é hoje questionado – não apenas em África.
Foto: Dirndl à l´Africaine
Orgulho de ser negro
Colonialistas europeus pensavam que os africanos não era civilizados e, além disso, feios. Os africanos reagiram a essa arrogância. Enquanto alguns adotaram a moda e o estilo das elites urbanas europeias, outros se ativeram aos ideiais tradicionais de beleza. Na América do Norte e na África do Sul, desenvolveu-se o grito de protesto "Black is beautiful" (Ser negro é lindo, em inglês).
Foto: Getty Images/Hulton Archive
Cabelos sensíveis
Penteados são, geralmente, não apenas mera expressão de um estilo pessoal, mas também indicam a idade, origem e status de uma pessoa. De todos os tipos de cabelo, o africano é o mais sensível. Facilmente, ele fica seco e sem vida. Hoje em dia, tornou-se novamente popular deixar o cabelo natural, sem recorrer a cabelos sintéticos ou perucas.
Foto: DW/H. Fischer
Cremes de branqueamento
Óleos, cremes e maquiagem são para muitos africanos garantia de uma pele bonita e saudável. Cremes de branqueamento são populares em vários países. Mais de 75% das mulheres nigerianas clareiam a própria pele com cremes especiais. Em toda África, campanhas alertam para a presença de químicos fortes na composição dos cosméticos, que podem causar danos à pele.
Foto: DW/H. Fischer
Moda de protesto
Durante o período colonial, muitos congoleses queriam mostrar que poderiam ser como os europeus. A mera imitação da Moda de Paris evoluiu para um estilo único. Entre os anos 1970 e 1980, os chamados "Sapeurs", os homens extraordinariamente bem vestidos do Congo, passaram a usar as marcas de luxo ocidentais.
Foto: Getty Images/AFP/Junior D. Kannah
O que dita a moda na Tanzânia
Essa escultura também é parte da mostra "Africa's Top Models" em Hamburgo. Para o grupo étnico Maconde, na Tanzânia, um ideal de beleza feminino são os lábios grandes. Na boca é feito um orifício onde é colocado um alargador, que é trocado ao longo do tempo por outros maiores. Alargadores são também usados nas orelhas em alguns locais no Ocidente. Será que eles vão se tornar a próxima tendência?
Foto: DW/H. Fischer
Estilo à moda antiga
Pele avermelhada, cabelos trançados extravagantes e olhos semicerrados. Esta máscara de mais de 100 anos representa uma mulher bonita da etnia Chokwe, na República Democrática do Congo. Muitos povos africanos traduzem desde séculos o ambiente ao seu redor em forma de máscaras e figuras. Os artistas Chokwe faziam as máscaras inspirados em modelos, que eram proibidas de ver o resultado final.
Foto: DW/H. Fischer
Joias como objetos de proteção
Ouro, prata, pérolas, pedras preciosas, cobre, coral, couro e marfim são acessórios de beleza não apenas em África. Mas no continente africano elas carregam uma simbologia. As joias servem como proteção contra maldições e também como talimãs da sorte. Em algumas regiões, pessoas consideradas belas usam joias especiais para se proteger da inveja alheia.
Foto: DW/H. Fischer
Beleza como expressão de bons costumes
Na língua do grupo étnico Ibibio, da Nigéria, a palavra "mfon" significa "belo" e "moralmente bom". "Idiok" quer dizer "odioso" e "moralmente ruim". Os ancestrais da boa moral eram representados por belas máscaras: elas são simétricas, a cor da pele é clara, a testa é alta e as feições são delicadas. As máscaras de ancestrais imorais têm narizes tortos e são desfiguradas.
Foto: DW/H. Fischer
A verdadeira beleza vem de dentro
"Um rosto bonito e um belo vestido não constituem um belo caráter", diz um provérbio congolês. Em muitas culturas africanas, o pensamento é de que os que agem moralmente também são belos. Um comportamento reservado e a bondade altruísta são considerados em muitos lugares, especialmente na Índia, como expressão da "beleza interna".
Foto: DW/H. Fischer
A África é chique!
Não é apenas o Ocidente que exporta o seu conceito de beleza para o mundo. Designers africanos também conquistam as passarelas. Tecidos africanos e cortes tradicionais são populares em outros continentes. Ideais de beleza antigos, como os penteados trançados, são muito populares na Europa e Estados Unidos.