Dos nomes do relatório entregue pela "Mãos Livres" constam "altas figuras" do anterior Governo, entre elas, o ex-Presidente angolano José Eduardo dos Santos e o ex-vice-Presidente, Manuel Vicente.
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A história do combate à corrupção e repatriamento de capital continua a merecer a atenção dos angolanos, sobretudo de políticos e de organizações da sociedade civil, nomeadamente a Associação "Mãos Livres".
Há menos de uma semana, Marcy Lopes, Secretário do Presidente da República para os Assuntos Políticos, Constitucionais e Parlamentares, afirmou, na Assembleia Nacional, no âmbito da discussão na especialidade da proposta deLei do Repatriamento de Recursos Financeiros Domiciliados no Exterior do país, que o Governo tem dificuldades em identificar a quantidade de dinheiro existente no exterior. Face à esta declaração, a associação angolana de defesa dos direitos humanos "Mãos Livres" respondeu com um relatório que apresenta nomes de presumíveis infratores, imagens, contas bancárias, incluindo as transações feitas.Segundo Salvador Freire, advogado e presidente da "Mãos Livres" "foi dito pelo próprio Governo angolano de que tem dificuldades para localizar as contas bancárias, e como nós associação Mãos Livres, temos feito este trabalho de investigação, com determinadas organizações não só nacionais, mas também internacionais, decidimos dar a nossa contribuição, dispensando relatórios que vêm com todos os dados importantes, onde constam as contas bancárias, os valores retirados e, naturalmente, a transacção que foi feita dentro deste processo de corrupção".
Angola: Manifestantes pedem repatriamento justo de capitais
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Primeiro relatório
Para Freire, trata-se do primeiro relatório tendo acrescentado que a associação que preside "está disposta a dar mais outras contribuições, caso o Governo angolano esteja interessado. Há envolvimento de personalidade, de figuras de proa, e como tal, é necessário que estas denúncias funcionem. É necessário que as autoridades prestem atenção às organizações da sociedade civil, que têm trabalhado com outras organizações internacionais, que sabem, de facto, como funciona este processo de corrupção feito por angolanos".Dos nomes do relatório constam "altas figuras" do anterior Governo angolano, entre elas, o ex-Presidente angolano José Eduardo dos Santos, o ex-vice-Presidente, Manuel Vicente, o ex-Ministro das Finanças, José Pedro de Morais ou o antigo chefe da Casa de Segurança do PR angolano, general Hélder Vieira Dias "Kopelipa".
Colaboração com o Governo
"Mãos Livres" está disposta a colaborar com o Governo angolano porque acredita na presidência de João Lourenço, mas que, irá pensar diferente, se as autoridades ignorarem os dados do relatório.
"Há todo o interesse de salvaguardar nomes de determinadas pessoas. Mas queremos alertar o próprio Governo angolano, se tem dificuldades em localizar estas pessoas que estão envolvidas em atos ilícitos, nós vamos apresentar nomes e provas. E o próprio Governo, com estas provas que tem, é meio caminho andado para identificar outras pessoas corruptas também. É um desafio que fazemos ao próprio Governo angolano, e vamos ver qual será a reação", sublinha Salvador Freire para em seguida concluir que "se, de facto, o Governo não conseguir chamar estas pessoas, porque estão ligadas ao próprio partido que governa o país, como aconteceu no passado com a Procuradoria Geral da República anterior que quase não via absolutamente nada, então vamos dizer que o Governo não tem capacidade para combater a corrupção. Isto vai demonstrar que os métodos do passado são os mesmos de hoje, apenas com rosto diferente. Mas acredito que, neste novo Governo, há uma boa vontade, e vamos esperar que uma decisão seja tomada", concluiu.O relatório foi entregue esta segunda-feira (14.05) ao Banco Nacional de Angola, amanhã será a vez do Ministério das Finanças tomar contacto com o mesmo e, na quinta-feira, será a Procuradoria-Geral da República.
Transferências ilícitas: BNA já tem os nomes
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A DW África tentou falar com o Secretário do Presidente da República para os Assuntos Políticos, Constitucionais e Parlamentares, mas não obteve êxito.
Mesmo sem a Sonangol, Isabel dos Santos ainda tem um império empresarial
A mulher mais rica de África, filha do ex-Presidente José Eduardo dos Santos, foi exonerada da liderança da petrolífera estatal angolana. Mas continua a ter uma grande influência económica em Angola e Portugal.
Foto: DW/P. Borralho
Bilionária angolana diz adeus à Sonangol
A 15 de novembro, Isabel dos Santos teve de renunciar à presidência do conselho de administração da Sonangol. Em meados de 2016, o seu pai, o então Presidente José Eduardo dos Santos, nomeou-a para liderar a companhia petrolífera estatal. A nomeação era ilegal aos olhos da lei angolana. O novo Presidente angolano, João Lourenço, estava, por isso, sob pressão para demitir Isabel dos Santos.
Foto: picture-alliance/dpa
Carreira brilhante à sombra do pai
Isabel dos Santos, filha de José Eduardo dos Santos e da sua primeira mulher, a jogadora de xadrez russa Tatiana Kunakova, nasceu em 1973, em Baku. Durante o regime do seu pai, no poder entre 1979 e 2017, Isabel dos Santos conseguiu construir um império empresarial. Em meados de 2016, a liderança da Sonangol, a maior empresa de Angola, entrou para o seu currículo.
Foto: picture-alliance/dpa
Conversão aos princípios "dos Santos"
Isabel dos Santos converteu o grupo Sonangol, sediado em Luanda (foto), às suas ideias. Nomeou cidadãos portugueses da sua confiança para importantes cargos de gestão e foi muito criticada pela ausência de angolanos em posições-chave na empresa.
Foto: DW/N. Sul d'Angola
Presença firme nas telecomunicações
Mesmo após o fim da sua carreira na Sonangol, Isabel dos Santos continua forte no meio empresarial: possui 25% da UNITEL desde o seu lançamento, em 2001, a empresa tornou-se a principal fornecedora de serviços móveis e de internet em Angola. Através da UNITEL, dos Santos conseguiu estabelecer vários contactos comerciais e parcerias com outras empresas internacionais, como a Portugal Telecom.
Foto: DW/P. Borralho
Redes móveis em Portugal e Cabo Verde
Isabel dos Santos detém a participação maioritária na ZON, a terceira maior empresa de telecomunicações de Portugal, através de uma sociedade com o grupo português Sonae. Também em Cabo Verde, dos Santos - com uma fortuna estimada em 3,1 mil milhões de dólares, segundo a revista Forbes - está presente nas telecomunicações com a subsidiária UNITEL T+.
Foto: DW/J. Carlos
Expansão com a televisão por satélite
Lançada em 2010 por Isabel dos Santos, a ZAP Angola apresenta-se como o maior fornecedor de televisão por satélite no país. Desde 2011, a ZAP está presente também em Moçambique, onde conquistou uma parcela importante do setor. Em Moçambique, a empresa compete com o antigo líder de mercado, a Multichoice (DSTV), da África do Sul.
Foto: DW/P. Borralho
Bancos: o segundo pilar do império
Atrás das telecomunicações, o setor financeiro é o segundo pilar do império empresarial de Isabel dos Santos. A empresária detém o banco BIC juntamente com o grupo português Américo Amorim - o empresário português conhecido como "o rei da cortiça" que morreu em julho de 2017. É um dos maiores bancos de Angola, com cerca de 200 agências. É também o único banco angolano com agências em Portugal.
Foto: DW/P. Borralho
Com a GALP no negócio do petróleo
Também no petróleo, dos Santos fez parceria com Américo Amorim. Através da empresa Esperanza Holding B.V., sedeada em Amesterdão, a empresária angolana está envolvida na Amorim Energia que, por sua vez, é a maior acionista da petrolífera portuguesa GALP. A GALP também administra os postos de gasolina em Moçambique (na foto) e em Angola onde, curiosamente, compete com a Sonangol.
Foto: DW/B.Jequete
Supermercado em Luanda
Em 2016, abriu em Luanda o Avennida Shopping, um dos maiores centros comerciais da capital angolana. Várias empresas do império dos Santos operam neste centro comercial, como o Banco BIC, a ZAP e a UNITEL. Assim, a empresária beneficia em várias frentes do crescente mercado de bens de consumo em Luanda.
Foto: DW/P. Borralho
350 milhões de dólares em supermercados
Uma das maiores lojas do Avennida Shopping é o hipermercado Candando. É operado pelo grupo Contidis, controlado por Isabel dos Santos. Nos próximos anos, deverão ser construídos em Angola vários Candando. No total, a Contidis quer investir mais de 350 milhões de dólares nas filiais.