Transportadores acumulam prejuízo, devido a custos de operação e à manutenção das tarifas há nove anos. Residentes de Maputo e Matola queixam-se. Governo defende que melhoria na economia resolverá o problema.
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Os transportadores da cidade de Maputo e Matola estão indignados com o Governo, porque os preços dos transportes semi-coletivos de passageiros não se alteram há nove anos. O Governo apenas subsidia os combustíveis e não as peças de viaturas que agora estão mais caras, devido à depreciação do metical face ao rand e ao dólar.
Os transportadores referem que os custos de operação dispararam e são agora insustentáveis.
Queixas dos residentes
As cidades de Maputo e Matola já estão a ressentir-se da falta de transporte. Há utentes que se fazem transportar em camionetas que não reúnem condições de segurança. Entre as queixas dos residentes que falaram à DW África está a necessidade de "madrugar” para ter um transporte. Um outro residente diz que se "pode estar ficar durante uma hora, duas horas” à espera de um transporte.
Em 2008, a última vez que houve um aumento da tarifa de transporte, os populares das duas cidades saíram à rua em protesto contra a medida.
Desde então, segundo Alexandre Ngovene da FEMATRO, Federação dos Transportes Rodoviários, o setor está acumular prejuízos."Vamos completar nove anos a cobrar o mesmo preço é só imaginar o que é isso aí. E o metical perdeu o seu valor quantas vezes? O pneu que comprava a três mil meticais [60 euros] hoje compro a sete mil meticais [100 euros] e continuo a cobrar o preço ínfimo.”
Transportes em Moçambique à beira do colapso
Situação crónica
A situação torna insustentável a atividade, porque, segundo o empresário Luís Pedro, as taxas de importação de veículos de passageiros estão mais caras.
"Se pudessem, na medida do possível, influenciar no sentido de, logo que estejam reunidas todas as condições, baixarem as taxas de juro porque não há investimento que resista a 30% das taxas de juro e com a desvalorização do metical. Ou seja, a taxa de juro real neste momento é extremamente elevada” argumenta o empresário.
Por sua vez, o administrador da Empresa Municipal de Transportes da Matola, Eduardo Mussengue nota que recebeu, em 2014, 75 autocarros mas agora apenas 10 estão em operação. A falta de peças é uma "situação crónica”: "Ou porque não há peças no mercado ou porque não temos dinheiro para o efeito. O Ministério dos Transportes está a trabalhar no assunto para evitar muitas marcas na empresa”.
O Governo apenas exigiu que as transportadoras não encurtem as rotas para merecerem apoio. O ministro da Economia e Finanças defende que, com a retoma da economia nacional, o problema pode ser resolvido.
"A aposta agora é olharmos como é que nós produzimos e é só com a produção que nós podemos avançar. Tudo o resto resolve-se mas sem a produção é impossível. Então todas as questões estão mais viradas para essa perspetiva.”
Bicicletas táxi em Moçambique
Quem em Quelimane se quiser movimentar rapidamente, apanha uma bicicleta táxi. As ruas da cidade são muito más para os transportes convencionais. Para muitos, a bicicleta táxi é uma forma de poderem obter algum dinheiro.
Foto: Gerald Henzinger
Bicicletas em alternativa aos carros
Quelimane é uma cidade na costa de Moçambique. Quem por aqui se quiser movimentar rapidamente, apanha uma bicicleta táxi. As ruas da cidade são muito más para os convencionais táxis e autocarro. Além disso, para muitas pessoas, a bicicleta táxi é uma das poucas formas de poderem obter algum dinheiro.
Foto: Gerald Henzinger
Estradas intransitáveis para carros
Quelimane é a capital da província moçambicana da Zambézia. No entanto, as estradas estão em estado deplorável. As pistas de terra estão cheias de buracos. Quando chove, enchem-se de água e tornam as estradas intransitáveis para os carros e para os miniautocarros. As bicicletas táxi, porém, podem contornar as poças de água.
Foto: Gerald Henzinger
Viajar de bicicleta táxi
Dependendo da distância, uma viagem de bicicleta táxi pode custar entre 5 e 20 meticais (aproximadamente entre 15 e 60 cêntimos de euro). Primeiro, o preço é negociado com o motorista. Depois, ocupa-se o lugar almofadado, que é feito especialmente por medida.
Foto: Gerald Henzinger
A bicicleta como alternativa ao desemprego
Em vez estarem desempregados, muitos moradores de Quelimane preferem conduzir uma bicicleta táxi. No entanto, o mercado está saturado com os vários milhares de bicicletas táxi que existem. Lutam todos por clientes entre os cerca de 200 mil habitantes. Isso faz baixar os preços e, por isso, as bicicletas táxi são um negócio difícil.
Foto: Gerald Henzinger
Samuel, taxista de bicicleta
Quando Samuel não está a trabalhar como motorista de serviço, está a estudar. Quando era criança só frequentou a escola até ao sexto ano. Os seus pais não tinham dinheiro e não podiam continuar a pagar os seus estudos. Agora, o jovem de 27 anos tenta obter o diploma do ensino secundário. “Se não o terminar, não vou conseguir um trabalho decente”, diz.
Foto: Gerald Henzinger
Francis, mecânico de bicicletas
Parafusos soltos e pneus lisos estão entre as preocupações quotidianas de um taxista de bicicleta. Francis arranja bicicletas no Mercado Central de Quelimane. Por cada tubo que remenda recebe cinco meticais (cerca de 20 cêntimos). Ganha cerca de 85 euros por mês. Desta forma, consegue alimentar a sua família.
Foto: Gerald Henzinger
Licença controversa
A Câmara Municipal de Quelimane quer reduzir o número de taxistas de bicicleta nas suas estradas. Por isso, no início de 2010, criou uma espécie de licença para estes condutores. Oficialmente, deveria custar cerca de 12 euros, mas os motoristas protestaram. A Câmara Municipal cedeu e suspendeu a licença.
Foto: Gerald Henzinger
Andar de bicicleta para cumprir um sonho
Para o jovem Francisco Manuel, de 19 anos, a bicicleta táxi é uma forma de financiar a sua formação. O seu trabalho de sonho é ser polícia. “Eu não quero roubar para sobreviver”, diz. Assim, optou pela bicicleta táxi. Com os 2,50 euros que ganha diariamente, consegue manter-se a si e ao seu filho.
Foto: Gerald Henzinger
Uma bicicleta táxi para toda a família
Na sua última viagem, Armando só conseguiu ganhar 80 meticais (cerca de três euros). “Foi um bom turno nocturno”, afirma, em jeito de balanço. Desde que o seu pai morreu, tem de ganhar dinheiro para toda a família com a bicicleta táxi. Armando não aprendeu a ler e a escrever, já que abandonou a escola por causa de uma deficiência visual após a terceira classe.
Foto: Gerald Henzinger
Pouco dinheiro para sobreviver
As bicicletas táxi ajudam muitas pessoas sem formação a obter algum dinheiro de forma legal. No entanto, depois de deduzidos os custos, muitas vezes sobram apenas um ou dois euros por dia. E quando estes taxistas ficam doentes, já não entra mais dinheiro em caixa.