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História

Traumas dos madgermanes ao vivo nos palcos

26 de junho de 2012

“Alemanha Cheira a Pétalas” é uma nova produção teatral do Centro de Produção de Artes Dramáticas que retrata a frustrante vida dos moçambicanos regressados da ex-República Democrática Alemã.

Wandgemälde zu Ex-Präsident Samora Machel in Lichinga
Mural em Lichinga, província do Niassa, sobre a amizade entre os países socialistasFoto: DW/Johannes Beck

Na peça pode-se entender também a saudade que os moçambicanos sentem da Alemanha, facto que levou Ernesto, personagem principal da peça, a vestir roupa de inverno alemão num país muito quente como Moçambique.

Eles, os “madgermanes” como são conhecidos em Moçambique, quando regressaram da então República Democrática Alemã tinham a expetativa de conseguir uma vida melhor no seu país. Mas agora sentem-se marginalizados e desprezados pelo governo de Moçambique. E têm saudades do frio, túneis e estações de metro.

Na verdade “Alemanha Cheira a Pétalas” é uma denúncia de uma série de distúrbios e complicações que os madgermanes enfrentam no país e lhes atormentam a mente.
Para Ernesto, personagem principal, a sua esposa e filhos, e o seu trabalho encontravam-se na Alemanha, então, a sua dignidade como homem encontrava-se naquele país europeu.

Mas o mais melancólico é que, no seu país, Ernesto é impelido a reconhecer que, enquanto a sua família vive na prosperidade da Europa, sem imaginar sequer o cruel destino do pai em Moçambique, para ele a sua vida é como se a luz do sol aparecesse todos os dias sem iluminar a sua alma.

Paulo Guambe, interpreta Ernesto nesta peça, descreve o seu personagem: “Ele vive num país tão quente. Ele tem saudades imensas da Alemanha de tal maneira que se comporta como se estivesse lá, e acaba morrendo assim por causa das saudades desse lugar que um dia deu a dignidade de ser homem.”

Os madgermanes tem uma ligação sentimental muito grande com a ex-RDAFoto: AP

Uma oposição paralela em permanente nostalgia

“Alemanha Cheira a Pétalas” é uma peça em que os madgermanes, na óptica de Guambe, merecem alguma atenção no espaço social e percebe-se que se faz uma oposição verdadeira ao Governo.

A peça retrata a história dos ex-trabalhadores moçambicanos que hoje estão desenquadrados socialmente no seu próprio país, economicamente marginalizados. Vivem uma nostalgia e comparam esse lugar como um lugar de amor, de alegria e esse lugar cheira a pétalas.”

Mas antes, Ernesto, o “madgermane” tinha-se envolvido com uma mulher moçambicana que nada mais fez do que explorar os seus bens e abandoná-lo. Ernesto teve de vender os bens para satisfazer os seus caprichos. Um dia também ela sonhou ir para Alemanha com Ernesto antes de o extorquir.

A obra que associa três atores em palco, Paulo Gwambe, António Aquirasse e Kátia Balate foi exibida no Centro Cultural Franco-Moçambicano, em estreia, devendo ser novamente exibida no próximo mês no “Franco-Moçambicano” em reconhecimento ao seu impacto social.

Os madgermanes manifestam-se com regularidade contra o governo. Eles exigem o pagamento de reformas e outros subsídios acumulados na ex-RDAFoto: Ismael Miquidade

 

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