Tribunal condena 42 garimpeiros que ameaçavam a Gorongosa
Lusa
5 de julho de 2021
Um total de 42 garimpeiros ilegais foram condenados a penas entre oito e 14 meses de prisão, mais multas, depois de apanhados em flagrante junto ao Parque da Gorongosa, zona de conservação no centro de Moçambique.
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A informação do flagrante, detenção e condenação dos garimpeiros foi avançada pelo próprio Parque Nacional da Gorongosa esta segunda-feira (05.07).
O garimpo ilegal em busca de diversos recursos, como ouro, é um problema que afeta várias zonas do interior do país, provocando destruição de terras de forma desorganizada e insegura.
No caso, a operação conjunta da fiscalização do parque com a polícia apanhou os garimpeiros em flagrante no dia 24 de junho, "a fazerem extração ilegal de recursos minerais", em Nhandzeia, distrito de Gorongosa, zona tampão da reserva natural.
Alerta ignorado
Segundo um comunicado do Parque da Gorongosa, os garimpeiros já tinham sido alertados verbalmente "para que abandonassem aquele local e atividade". "Prometeram abandonar, mas não o fizeram: optaram por continuar e intensificar a sua atividade, adquirindo inclusive nova maquinaria", descreve o parque.
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Além de equipamento, "possuíam também produtos altamente tóxicos e nocivos ao meio ambiente, que eram usados no processo de garimpo".
"O garimpo e desflorestamento ilegal são as principais ameaças à sobrevivência do parque, pois afetam diretamente os rios" que atravessam aquela área protegida.
Sentença
A sentença dos 42 garimpeiros foi proferida na terça-feira, dia 29 de junho, pelo Tribunal Judicial do Distrito de Gorongosa. Foi igualmente decidido pelo tribunal que todo o material que foi apreendido reverte a favor do Estado para a área de conservação.
O Parque Nacional da Gorongosa é hoje uma das principais áreas de conservação de Moçambique, com uma grande variedade de vida selvagem.
Localiza-se na província de Sofala, na extremidade sul do Vale do Rift do leste africano, com uma área de cerca de 4.000 quilómetros quadrados.
Parque Nacional da Gorongosa: uma história de sucesso
Depois de dizimado com a guerra civil moçambicana, muitos desistiram de recuperar a vida sevagem do parque. Mas uma fundação apostou na recuperação. O maior parque de vida selvagem do país é hoje exemplo de prosperidade.
Foto: Gorongosa National Park/Clive Dreyer
Só, nunca mais
O Parque Nacional da Gorongosa tem uma história turbulenta. Até há uns anos, este leão poderia sentir-se solitário, mas entretanto a população de leões cresceu. Hoje o parque tem uma área de mais de 4.000 quilómetros quadrados, com uma zona tampão adicional de 3.300 quilómetros quadrados. Uma relíquia num país de 25 milhões de habitantes.
Foto: Gorongosa National Park/Ticky Rosa
Paisagem de perder de vista
O parque está localizado no extremo sul do Grande Vale do Rift, que vai desde a Etiópia, Quénia e Tanzânia, antes de terminar em Moçambique. Esta característica geológica única cria um enorme vale cercado de planaltos. No geral, cerca de dois terços do vale são constituídos por savana, 20% são pastagens e o restante é área de floresta.
Foto: Gorongosa National Park/James Byrne
Memória de elefante
Embora parte da área do parque tenha sido reservada para zona privada de caça, em 1920, as autoridades coloniais portuguesas criaram o parque nacional até 1960. Depois da guerra de libertação, Moçambique tornou-se independente em 1975. Seguiu-se a guerra civil que terminou em 1992. Alguns elefantes mais velhos estão ainda traumatizados pelo conflito.
Foto: Gorongosa National Park/Jean Paul Vermeulen
Dias sombrios do parque
Em 1977, dois anos depois da independência, Moçambique mergulhou numa violenta guerra civil. O parque foi duramente afetado. A Resistência Nacional Moçambicana instalou o seu comando central numa zona do parque. As duas partes em conflito dizimaram animais para alimentação e tráfico de marfim, para financiar a guerra. Em 1983, o parque foi encerrado e abandonado.
Foto: Gorongosa National Park/Jean Paul Vermeulen
O regresso a casa
Depois da guerra civil ter terminado em 1992, o parque permaneceu fechado. Estima-se que entre 90% e 95% da vida selvagem do parque se tenha perdido. Dados daquela altura apontam para apenas 15 búfalos, 5 zebras, 6 leões, 100 hipopótamos e 300 elefantes. Os primeiros animais a regressar foram aves. Hoje, o parque alberga mais de 400 espécies.
Foto: Gorongosa National Park/Piotr Naskrecki
Clima especial para circunstâncias especiais
Devido à sua topografia, o parque tem vários microclimas e um ciclo anual de estações húmidas e secas, o que contribui para a sua diversidade.
Num esforço para revitalizar o parque, foram contratados novos funcionários, em 1994, com o apoio do Banco Africano de Desenvolvimento e da União Europeia. Lentamente, o espaço estava a recuperar, mas às vezes a natureza precisa de uma mão amiga.
Foto: Gorongosa National Park/Paul Kerrison
Esforços de todas as partes
Em 2004, a Fundação Carr, com sede nos Estados Unidos, aliou-se ao Governo de Moçambique num projeto para reconstruir o parque e reintroduzir animais. Um esforço para restaurar vida selvagem devastada. Este projeto piloto teve tanto sucesso que em 2008 a fundação e seu fundador, Gregory Carr, concordaram em continuar a recuperar o parque, acordando numa gestão conjunta por mais 20 anos.
Foto: Gorongosa National Park/Piotr Naskrecki
Um verdadeiro final feliz
O Parque Nacional da Gorongosa passou por várias etapas: de reserva de caça privada, a parque nacional e campo de batalha antes de voltar a ser um parque nacional. Nos últimos anos, muitos milhões foram investidos no parque e nas comunidades locais. É a prova viva que a vida selvagem pode renascer das cinzas - com paciência, muita força de vontade e dinheiro.