Tribunal sudanês aceita acusações contra Omar al-Bashir
AP | AFP | Reuters | cvt
1 de setembro de 2019
Um tribunal sudanês indiciou formalmente o Presidente deposto Omar al-Bashir por aquisição e uso ilegal de moeda estrangeira. Al-Bashir falou à corte pela primeira vez neste processo.
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Al-Bashir está a ser acusado de lavagem de dinheiro, depois que milhões de dólares americanos, euros e libras sudanesas foram apreendidos em sua casa logo após a sua deposição.
Na audiência deste sábado (31.08), o ex-Presidente disse que recebeu através do gerente de seu gabinete, 25 milhões de dólares do príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed Bin Salman.
"O gerente do meu gabinete havia recebido um telefonema do príncipe Mohammed bin Salman dizendo que ele tinha uma 'mensagem' que seria enviada em uma jato privado", disse ele.
Al-Bashir disse ainda que o príncipe herdeiro não queria revelar ser a fonte dos fundos.
"Se depositássemos o dinheiro no Banco Central do Ministério das Finanças, a fonte teria sido identificada", argumentou.
O ex-líder disse também que o dinheiro estava sendo usado para doações e não em benefício próprio.
Pelo menos dois milhões de dólares foram para um hospital militar e três milhões de dólares para uma universidade sudanesa, afirmou al-Bashir.
Segundo Al-Bashir, cinco milhões de dólares foram doados para as Forças de Apoio Rápido, uma unidade paramilitar que surgiu para combater as milícias que surgiram no Darfur nos anos 2000.
A organização é dirigida pelo general Mohammed Hamdan Dagalo, conhecido como Hemedti, que também é membro do recém-nomeado Conselho Soberano que deverá governar o Sudão durante a transição prevista para durar três anos.
Manifestantes acusam as Forças de Apoio Rápido de liderar a repressão contra eles, que começou com a brutal dissolução do seu acampamento em Cartum, no início de junho.
O ex-líder sudanês não forneceu documentos ou registos das despesas.
Um advogado do al-Bashir disse que o seu cliente negou as acusações e que as testemunhas da defesa seriam apresentadas na próxima audiência.
Se condenado por corrupção, al-Bashir pode ser sentenciado a até 10 anos de prisão.
Este julgamento não inclui as acusações contra al-Bashir sobre o assassinato de manifestantes durante a revolta popular que eclodiu no final do ano passado, inicialmente devido a condições económicas adversas.
Dezenas de manifestantes foram mortos nos meses anteriores à sua deposição, em abril.
Al-Bashir está detido desde que foi deposto pelos militares, em abril, depois de meses de protestos em massa contra três décadas de seu governo autoritário.
O tribunal deverá reunir-se novamente em uma semana.
Al-Bashir está também na mira do Tribunal Penal Internacional sob acusações de crimes de guerra e genocídio relacionados com o conflito do Darfur nos anos 2000, mas os militares sudaneses disseram que não o extraditariam para Haia.
O povo contra o exército - Cronologia da luta pelo poder no Sudão
A evacuação violenta de um campo de protesto na capital sudanesa, Cartum, exacerbou as tensões entre manifestantes e militares. A luta pelo poder documentada em imagens.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
Protesto
Durante semanas, manifestantes sudaneses resistiram diante do Ministério da Defesa. Milhares exigiram um conselho de transição que incluísse civis, para poderem também decidir sobre o futuro do país. No início de junho, os militares atacaram violentamente os manifestantes. Dezenas de pessoas morreram.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
Em nome da nação
Um manifestante com a bandeira nacional perto do quartel-general do exército. A bandeira representa a exigência dos manifestantes de civis nos comandos para moldarem o futuro do país juntamente com os militares. A acontecer, este seria um passo importante para a democracia.
Foto: Reuters
Sinais de alarme
Os militares aumentaram massivamente a presença nas ruas, nos dias que antecederam o massacre no início de junho. Muitos manifestantes interpretaram a situação como prova de que o exército não queria abandonar o poder. Mas esta tinha sido a grade esperança de muitos sudaneses após a queda do ditador Omar al-Bashir.
Foto: Getty Images/AFP
Uma era chega ao fim
Omar al-Bashir governou o Sudão desde 1993 até sua queda, em abril de 2019. Os seus críticos foram violentamente reprimidos. Para manter o poder, al-Bashir chegou a dissolver o Parlamento, em 1999. Na mesma altura, concedeu asilo ao líder da Al-Qaeda, Osama bin Laden. Acima de tudo, porém, o seu nome continua associado à guerra sangrenta contra os separatistas na província de Darfur.
Foto: Reuters/M. Nureldin Abdallah
Ditador em tribunal
Ver o ditador em tribunal era um sonho antigo de muitos sudaneses. A 16 de junho, Omar al-Bashir apareceu no processo contra ele instaurado. Para já, é acusado de corrupção e posse ilegal de moeda estrangeira. Depois da sua queda, a polícia encontrou na sua residência sacos de dinheiro no valor de mais de cem milhões de dólares.
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As mulheres querem ser ouvidas
Muitas mulheres participaram nos protestos. As mulheres no Sudão sempre beneficiaram de uma liberdade relativamente significante. Agora, não só reforçam quantitativamente as manifestações, como também lhes dão um rosto diferente. A sua presença expressa o desejo de democracia e igualdade de muitos cidadãos.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
Ícone da revolução
A estudante de arquitetura Alaa Salah tornou-se a face da revolução. Quando subiu ao telhado de um carro em abril para falar com os manifestantes, um fotógrafo atento fez esta imagem. Desde então, ela tem sido partilhada inúmeras vezes nas redes sociais. Fotos como estas tornaram-se uma parte importante da revolução, porque convidam os cidadãos a identificarem-se com os protestos.
Foto: Getty Images/AFP
Solidariedade internacional
Graças às plataformas sociais online, a notícia dos protestos no Sudão rapidamente correu o mundo. E logo mereceram apoio internacional, como aqui em Edimburgo, Escócia. Recentemente os ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia também se fizeram ouvir: "A UE apela ao fim imediato de toda a violência contra o povo sudanês", disseram numa declaração oficial.
No entanto, a oposição ao exército no poder não é consensual. Muitos sudaneses apoiam os militares, porque acreditam que só uma governação autoritária pode conduzir o país a um futuro próspero. Os apoiantes dos militares consideram que o General Abdel Fattah Burhan, presidente do Conselho Militar, representado no cartaz, reúne as condições para cumprir a tarefa.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
À espera
Mas a eminência parda General Mohammed Hamdan Daglu, conhecido por Hemeti, é tido como o homem forte do regime de transição. Daglu comandou a tropa que reprimiu os protestos em frente ao quartel-general militar. Durante a guerra do Darfur, liderou as milícias Janjaweed, que combateram brutalmente os rebeldes. Os manifestantes temem que ele possa vir a ser o novo governante do país.
Foto: Reuters/M.N. Abdallah
O Golfo preocupado
Políticos de outros países árabes também olham com nervosismo para o Sudão. Por exemplo, Mohamed bin Zayad al-Nahyan, o Príncipe Herdeiro dos Emirados Árabes Unidos. Tal como a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos temem que o protesto possa ser um exemplo de uma revolução popular bem-sucedida na região, pondo em questão governos autoritários. Ambos os países apoiam os militares sudaneses.
Foto: picture-alliance/AP Photo/Ministry of Presidential Affairs/M. Al Hammadi
Os vizinhos a norte
Também no Cairo se olha com preocupação para Cartum. O Governo do Presidente Abdel-Fattah al-Sisi receia que a Irmandade Muçulmana possa ganhar influência no Sudão - precisamente o grupo contra o qual o Governo egípcio está a agir com todas as suas forças no seu próprio país. Se a Irmandade Muçulmana se estabelecesse no Sudão, poderia, a partir daí, voltar a exercer uma forte influência no Egito.
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Protestos sem fim à vista
No Sudão prosseguem os protestos. No dia 14 de junho, Sadiq al-Mahdi, uma das principais figuras da oposição do país durante décadas, exigiu uma investigação da evacuação violenta do campo de protesto. É algo que não pode agradar aos militares. As tensões poderão voltar a agravar-se.