Triplo atentado suicida causa 19 mortes na Nigéria
17 de fevereiro de 2018
Explosões em mercado no nordeste do país deixou 70 pessoas feridas. Milícias que apoiam o Exército nigeriano atribuem ataque ao grupo extremista Boko Haram.
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Pelo menos 19 pessoas morreram e 70 ficaram feridas num triplo atentado suicida num mercado de peixes em Kodunga, no nordeste da Nigéria, na noite de sexta-feira (16.02). Segundo o porta-voz da polícia local, Joseph Kwaji, um homem e uma mulher bombistas explodiram os artefatos no mercado e uma terceira pessoa explodiu outra bomba nas imediações.
Os terroristas teriam saído dos esconderijos que as forças militares destruíram nas últimas operações, segundo o oficial da Agência Nacional de Gestão de Emergências, Bashir Garga. "Já não têm um refúgio fixo, porque foi destruído pelas operações militares", disse.
O ataque é atribuído ao Boko Haram por milícias que lutam contra o grupo extremista. Dos 70 feridos, 22 estão em condições críticas, informou Babakura Kolo, líder da milícia que trabalha com o Exército nigeriano contra os jihadistas. Entre os mortos, estão 18 civis e um soldado.
Nos últimos meses, o número de ataques suicidas na Nigéria subiu apesar de os terroristas terem perdido controle de alguns territórios devido às operações feitas pelas forças de segurança.
Insurgência
Em represália, os jihadistas adaptaram os ataques a locais considerados como pontos fracos, como locais de oração, escolas e campos de deslocados.
No discurso de ano novo, o Presidente nigeriano, Muhammadu Buhari, disse que a Nigéria "acabou com o Boko Haram". Em 2015, o chefe de Estado já tinha dito que o grupo jihadista estava "tecnicamente derrotado". Os recorrentes ataques estão a deixar a população desiludida com as autoridades.
"A culpa do que está a acontecer não é do Governo. Eles [Boko Haram] querem mostrar aos militares que ainda conseguem movimentar-se, apesar dos sinais de segurança e das estratégias introduzidas na região", afirmou o politólogo nigeriano Umar Baba em entrevista à DW.
Mais de 20 mil pessoas morreram desde o começo da insurgência jihadista na zona, em 2009. Cerca de 1,7 milhão de pessoas foram obrigadas a deixar suas casas, segundo as Nações Unidas.
O Boko Haram tem por objetivo impor um Estado islâmico na Nigéria, país de maioria muçulmana no norte e predominantemente cristã no sul.
Nigéria: Dar e receber para sobreviver
Fugiram do grupo terrorista Boko Haram e vivem sem dinheiro no campo de refugiados de Bakasi, na Nigéria. A troca de produtos foi a solução que muitos encontraram para sobreviver e satisfazer necessidades básicas.
Foto: Reuters/A. Sotunde
Alguma autonomia
Os alimentos e os produtos doados nem sempre são os desejados. Dinheiro e trabalhos remunerados são raros no campo de refugiados de Bakasi, no nordeste da Nigéria. Com a troca de produtos, os refugiados encontraram uma maneira de satisfazer as suas necessidades.
Foto: Reuters/A. Sotunde
Dinheiro significa corrupção
"Nós não ganhamos dinheiro. Por isso é que fazemos as trocas", explica Umaru Usman Kaski. O refugiado quer trocar um molho de lenha no valor de 50 nairas (cerca de 11 cêntimos de euro) por alimentos para a família de oito membros. Muitos residentes preferiam receber dinheiro. Mas o risco é grande porque a corrupção na rede de distribuição do campo é generalizada.
Foto: Reuters/A. Sotunde
Arroz em troca de farinha
Falmata Madu (à dir.) troca arroz pela farinha de milho de Hadisa Adamu. As refugiadas fazem parte dos dois milhões de pessoas que fugiram do Boko Haram. Uns refugiaram-se no interior do país, outros no estrangeiro. Há mais de oito anos que o grupo terrorista aterroriza o nordeste da Nigéria, onde quer estabelecer um califado. Segundo a ONU, esta é uma das piores crises humanitárias mundiais.
Foto: Reuters/A. Sotunde
Milhares de refugiados
Há 670.000 refugiados nos vários campos espalhados pelo nordeste da Nigéria. No campo de Bakasi, nos arredores da cidade de Maiduguri, capital do estado de Borno, vivem 21 mil pessoas. Em troca do seu milho, Falmata Ahmadu recebe folhas de amaranto de Musa Ali Wala.
Foto: Reuters/A. Sotunde
"Não havia mais nada"
Abdulwahal Abdulla não gosta muito de peixe. Mas as pequenas tilápias foram a única coisa que conseguiu comprar porque os produtos são muitos escassos. Em vez do peixe seco, que custou 150 nairas (cerca de 36 cêntimos de euro), o refugiado de 50 anos, que vive no campo de Bakasi há três anos, preferia ter comprado óleo.
Foto: Reuters/A. Sotunde
Necessidades alteram-se
Nasiru Buba (à dir.) comprou detergente com o dinheiro que conseguiu a trabalhar como porteiro na cidade. Na altura, não precisava de nada especial. Agora precisa urgentemente de amendoins, mas já não tem dinheiro. "A minha mulher acabou de ter um bébé, mas não tem leite", diz Buba. Acredita-se que os amendoins estimulam a produção de leite.
Foto: Reuters/A. Sotunde
Violência sem fim à vista
Maiduguri é considerada o berço do Boko Haram e centro de violência. Em finais de dezembro de 2017, pelo menos nove pessoas morreram num ataque do grupo terrorista na capital do estado de Borno. Face a este cenário, é pouco provável que os refugiados deixem o campo de Bakasi em breve. Por enquanto, a troca direta de bens deverá continuar.