Tropas francesas matam 33 terroristas em operação no Mali
AFP | Lusa | nn
22 de dezembro de 2019
O presidente de França, Emmanuel Macron, anunciou no sábado (21.12) que as tropas francesas destacadas no Mali mataram 33 terroristas, no âmbito de uma operação militar na região do Sahel.
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"Graças ao compromisso das nossas tropas, conseguimos neutralizar no Sahel 33 terroristas, capturar um prisioneiro e libertar dois polícias malianos sequestrados. [Estou] orgulhoso dos nossos soldados que nos protegem", escreveu Macron no Twitter.
A operação envolvendo equipas de comandos e helicópteros de ataque na cidade de Mopti, no centro do Mali, ocorreu algumas semanas depois de 13 soldados franceses morrerem num acidente de helicóptero no âmbito de uma ação militar contra jihadistas no norte do país.
Apesar da presença de tropas francesas e de uma força de manutenção da paz da ONU de 13.000 pessoas no Mali, o conflito que eclodiu no centro do país em 2012 tomou conta da região, espalhando-se pelos vizinhos Burkina Faso e Níger.
O anúncio da operação francesa foi feito na Costa do Marfim, onde Macron está numa visita oficial de cerca de 48 horas. O chefe de Estado francês foi recebido na sexta-feira (20.12) pelo Presidente do país, Alassane Ouattara, e jantou com militares franceses que atuam na região.
"Pelo Natal, desde o início do meu mandato, decidi encontrar-me com nossas forças em operação, aquelas que estão mobilizadas, que vigiam, que estão comprometidas no terreno", disse Macron.
Há dois anos, Macron esteve no Níger, onde também estão destacadas tropas francesas. No ano passado, o chefe do Palácio do Eliseu esteve com militares que estão em Djamena, capital do Chade.
França mantém cerca de 4.500 militares em cinco países do Sahel - Mali, Mauritânia, Níger, Chade e Burkina Faso - com o objetivo declarado de apoiar as tropas locais e impedir a formação de santuários terroristas na região.
Soldados franceses estão no Mali desde 2013, após ordem do então presidente do país, François Hollande, para ajudar a desmantelar bases de grupos jihadistas que se estabeleceram no norte do país. Além do Mali, Burkina Faso e Níger são os mais afetados pela ameaça terrorista. Grupos afiliados à al-Qaeda e ao Estado Islâmico atuam em regiões dos três países. Já Nigéria, Chade, Níger e Camarões são alvos habituais do Boko Haram.
Presidente francês reconhece outra vez que "colonialismo foi um erro profundo"
Na visita oficial à Costa do Marfim, Emmanuel Macron reconheceu que "o colonialismo foi um erro profundo". Em conferência de imprensa em Abidjan, acompanhado pelo Presidente da Costa do Marfim, Alassane Ouattara, o chefe de Estado francês disse que "demasiadas vezes, ainda hoje, a França é percebida" como tendo "um olhar de hegemonia e de um colonialismo ridículo, que foi um erro profundo, uma falta da República" francesa, assumiu, frisando que é preciso "virar uma nova página" nas relações com os países francófonos.
A declaração de Macron remete para as suas afirmações quando era candidato à presidência francesa, em fevereiro de 2017, a uma televisão argelina, à qual disse que a colonização foi "um crime contra a humanidade" e "uma barbárie".
A colonização "faz parte do passado", mas deve ser olhada "de frente", realçou, na altura, defendendo que se peça "desculpa" aos que foram alvo do colonialismo.
Os Presidentes francês e marfinense anunciaram também o fim do franco CFA, a moeda criada em 1945 e contestada por uma grande parte das opiniões públicas dos agora países independentes como um resquício da presença colonial francesa.
O que é o Estado Islâmico?
As origens do grupo terrorista remontam à invasão americana do Iraque, em 2003. Nasceu como oposição sunita ao domínio xiita. Inicialmente chamou-se "Estado Islâmico do Iraque e do Levante" e virou ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com o derrube do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo surgiu da união de diversas organizações extremistas sunitas e grupos leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra o domínio dos xiitas no Governo do Iraque.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al-Qaeda
A insurreição tornou-se cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi (foto), fundador da Al-Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram as suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
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Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea. Foi então sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Abdullah ar-Raschid al-Baghdadi (ambos mortos em 2010). A Al-Qaeda no Iraque (AQI) mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). Nos anos seguintes, Washington intensificou a sua presença militar no país.
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Regresso dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a reagrupar-se, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
Foto: picture alliance/dpa
Ruptura com Al-Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o Estado Islâmico atravessou a fronteira para participar da luta contra o Presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram uma fusão com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al-Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EI e a central da Al-Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
Foto: dapd
Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do desentendimento com a Al-Qaeda, o EI fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando a sua segunda maior cidade, Mossul, a 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já tinha sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
Foto: picture alliance / AP Photo
Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana de Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista estratégico quanto económico. Ela é um importante ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Com a tomada de Mossul, o EI também conquistou 429 milhões de dólares na filial local do Banco Central do Iraque. Assim sendo, o Daesh - como é conhecido em árabe - tornou-se um dos grupos terroristas mais ricos.
Foto: Getty Images
O califado do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho de 2014, a organização declarou um califado, um estado islâmico que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e faz lembrar os califados muçulmanos históricos. Abu Bakr al-Bagdadi foi apresentado como "califa".
Foto: Reuters
As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da sharia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado". Muitos foram executados, mulheres violadas e vendidas como escravas a jihadistas do EI. Os xiitas também têm sido alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o património histórico
O EI já destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. O EI diz que as esculturas antigas entram em contradição com a sua interpretação radical dos princípios do Islão. Especialistas afirmam, porém, que o grupo vende ilegalmente estátuas pequenas no mercado internacional, enquanto as maiores são destruídas.
Foto: Fotolia/bbbar
Ameaça terrorista
Nas suas ofensivas armadas, o grupo tem saqueado centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupado diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Os seus militantes também se apoderaram de armamento militar de fabrico americano das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional. Seguidores da ideologia do EI perpetraram vários atentados terroristas na Europa.