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PolíticaEstados Unidos

100 dias de Trump: EUA virados do avesso

DW (Deutsche Welle)
29 de abril de 2025

Em 100 dias, Trump transformou os Estados Unidos: reaproximação da Rússia, cortes à ajuda à Ucrânia, deportações em massa e tarifas polémicas. Um regresso à Casa Branca marcado por turbulência.

Presidente Donald Trump
Donald Trump na Casa Branca durante os primeiros 100 dias do seu segundo mandato, marcados por decisões polémicas e reviravoltas políticasFoto: Mark Schiefelbein/AP Photo/picture alliance

Com a suatomada de posse a 20 de Janeiro de 2025, Donald Trump tornou-se, pela segunda vez, Presidente dos Estados Unidos. Desde então, a política norte-americana mudou tanto que 100 dias parecem ser um período incrivelmente curto para a reviravolta de 180 graus que o país sofreu. Desde alterações profundas na política externa até à introdução de tarifas sobre produtos oriundos de todo o mundo, quase não passa um dia sem que surjam "breaking news" vindas da Casa Branca.

"Independentemente do lado em que se esteja, a maioria das pessoas confirmaria que tem acontecido muita coisa", afirma Patrick Malone, professor de administração pública e política na American University, em entrevista à DW sobre o mandato atual de Trump. O Presidente "disparou em todas as direcções desde o primeiro momento".

Por trás disso, há uma estratégia. Com o bombardeamento constante de notícias sobre medidas extremas — muitas das quais põem em causa a substância democrática dos EUA —, procura-se paralisar os adversários políticos, deixá-los "congelados de choque". E os cidadãos norte-americanos que não concordam com o novo rumo nem sabem contra o que protestar primeiro: o total desprezo de Trump pelas alterações climáticas e os planos de intensificar a exploração petrolífera? A violação da separação de poderes quando o Governo ignora ordens claras de juízes federais e deporta migrantes? Ou a limitação da liberdade de imprensa e de expressão, com a expulsão de meios de comunicação indesejados da Casa Branca e o corte de financiamento a investigadores e até universidades inteiras?

Donald Trump está de regresso, e agora?

04:31

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A segunda presidência de Trump divide o país como nunca antes. Resta saber: quantas das promessas feitas aos seus apoiantes antes das eleições de Novembro de 2024 cumpriu ele nos primeiros tempos deste novo mandato?

Nada de paz na Ucrânia em 24 horas

Durante um evento em New Hampshire, em Maio de 2023, Trump afirmou que, se fosse eleito, acabaria com a guerra na Ucrânia "num piscar de olhos". "Estão a morrer, russos e ucranianos. Quero que parem de morrer", disse. "E eu vou tratar disso — em 24 horas estará resolvido."

A guerra, no entanto, continua. Trump já teve de reconhecer que nem ele consegue resolver o conflito num só dia. Os EUA estão a tentar encontrar uma solução sem grande coordenação com os parceiros aliados — e estão, nesse processo, mais próximos de Moscovo do que de Kiev. Já no primeiro telefonema com o presidente russo, Vladimir Putin, Trump fez-lhe concessões de grande alcance.

O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, por sua vez, foi humilhado por Trump e pelo vice-presidente JD Vance na Casa Branca, por alegada ingratidão. A ajuda militar à Ucrânia foi suspensa. Mais recentemente, Trump criticou Kiev por insistir na devolução da Crimeia, sugerindo que a península deveria ser entregue à Rússia em nome da paz. Os ucranianos, esgotados pela guerra, estão chocados com a reviravolta do seu maior aliado.

Preocupações também entre os aliados ocidentais

Trump voltou a pôr em causa a fidelidade dos EUA à NATO. Chegou a afirmar que não defenderia países-membros da NATO que, segundo ele, não investem o suficiente na sua própria defesa, em caso de ataque por parte da Rússia. Mais tarde recuou nessa posição. Ainda assim, ficou claro: os países europeus já não podem contar com a antiga amizade dos americanos.

Ucrânia e UE rejeitam acordo Trump-Putin

05:11

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Trump: "Criminosos sedentos de sangue para fora"

A política de imigração foi um dos temas preferidos de Trump durante a campanha. Em Outubro de 2024, num comício em Nova Iorque, prometeu iniciar o maior programa de deportações da história dos EUA, caso fosse eleito. "Vou meter os criminosos sedentos de sangue na prisão e depois expulsá-los do nosso país o mais depressa possível", declarou.

Em Fevereiro, primeiro mês completo do novo mandato, o Governo deportou cerca de 11.000 migrantes. Em comparação, no primeiro mês de Joe Biden, em 2021, foram cerca de 12.000. Contudo, segundo a NBC News, sob Trump entram menos pessoas pela fronteira sul com o México.

Trump dificultou claramente a imigração, diz Patrick Malone: "Alguns consideram isso um sucesso, outros acham incompatível com os valores americanos".

Economia: "A América está de volta"

Trump prometeu um forte relançamento da economia norte-americana. Um dos seus lemas era "make America affordable again" — prometendo baixar os preços desde o primeiro dia, incluindo os provocados pela guerra na Ucrânia.

Em alguns sectores, isso aconteceu. Os preços dos combustíveis, das viagens e de hotéis caíram, assim como a inflação geral. Os "core prices" — média dos preços excluindo os mais voláteis, como gasolina e alimentos — subiram apenas 2,8% em Março, o aumento mais baixo em quase quatro anos, segundo a agência AP.

Das tarifas à mediação de conflitos: Trump está em todas

05:23

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"A política do Presidente Trump está a conter a inflação", disse Stephen Miran, chefe do Conselho de Assessores Económicos da Casa Branca, à CNBC. "Com o que se está a passar no comércio, podemos dizer: a América está de volta."

No entanto, muitos americanos continuam a achar as idas ao supermercado tão caras como no início do mandato. Uma compra semanal para dois adultos pode ultrapassar os 150 dólares, mesmo fora das grandes cidades.

Taxas alfandegárias: promessa cumprida, mas à custa de quê?

Após a vitória eleitoral, Trump prometeu acabar com as "fronteiras ridiculamente abertas" e com o défice comercial dos EUA. Disse que imporia tarifas da mesma magnitude que os parceiros comerciais aplicam aos produtos americanos. Em Abril, cumpriu: impôs tarifas — muitas vezes ainda mais elevadas do que as cobradas pelos outros.

Mas isso tornou vários produtos mais caros para os consumidores americanos e ameaçou relações comerciais consolidadas. Segundo uma sondagem do instituto Pew, os americanos vêem agora a economia do país com mais pessimismo do que em Fevereiro, pouco após a tomada de posse e antes do anúncio das tarifas.

Na altura, 40% acreditavam que a situação económica melhoraria até Fevereiro de 2026. Em Abril, apenas 36% mantinham essa esperança. Já 45% achavam que a situação iria piorar.

"Não há estabilidade no Governo"

Parte desta incerteza pode estar relacionada com o facto de a administração Trump suspender ou revogar tarifas com a mesma rapidez com que as impõe. Esse vaivém, afirma Malone, é prejudicial para a estabilidade — um pilar essencial de qualquer Governo funcional.

"Os primeiros 100 dias foram um turbilhão, e nem sempre no bom sentido", resume o professor. Muitas medidas foram introduzidas e depois revertidas. Isso aconteceu com as tarifas, mas também com os despedimentos em massa nos ministérios. Milhares foram demitidos, apenas para serem recontratados quando se percebeu que eram essenciais — como os que trabalhavam na segurança aérea ou nuclear.

"É muito difícil governar assim", conclui Malone. "Todos os governos precisam de consistência, previsibilidade e estabilidade. E é isso que não temos neste momento."

Poderá a NATO sobreviver sem os Estados Unidos?

03:18

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