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PolíticaMédio Oriente

Visita de Trump: Países do Golfo esperam bons negócios

Jennifer Holleis | Reuters | Lusa
13 de maio de 2025

O Presidente Donald Trump visita a Arábia Saudita, o Qatar e os Emirados Árabes Unidos. Há muito em jogo para os EUA e para os líderes regionais, que procuram reforçar os laços. Estarão Gaza e Israel em cima da mesa?

USA Washington D.C. 2025 | Donald Trump verlässt das Weiße Haus
Foto: Hu Yousong/Xinhua/picture alliance

O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, visita a partir de hoje e até sexta-feira (15.05) a Arábia Saudita, o Qatar e os Emirados Árabes Unidos, na sua primeira deslocação oficial ao estrangeiro desde que tomou posse em janeiro.

Antes de seguir viagem, o norte-americano anunciou ontem que passará a se referir ao Golfo Pérsico como "Golfo Árabe". Uma mudança que, embora não oficial, tem um forte peso político. A região é historicamente disputada entre o Irão e os países árabes do Golfo.

Durante a viagem, Trump prometeu ainda um anúncio que classificou de "muito importante". Mas não deu pistas sobre o conteúdo. As questões políticas, mas sobretudo económicas, estão na ordem do dia do Presidente dos EUA no Golfo. 

Para Burcu Ozcelik, investigadora sénior em segurança no Médio Oriente no Royal United Services Institute, cada país do Golfo tem expectativas específicas em relação à visita do Presidente americano.

"Riad precisa de investimento estrangeiro para cumprir as metas do seu plano Visão 2030. E não quer ficar de fora das oportunidades que os Emirados garantiram ao aderir aos Acordos de Abraão (Israel e países Árabes", diz.

Das tarifas à mediação de conflitos: Trump está em todas

05:23

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Antes da guerra na Faixa de Gaza, Arábia Sauditae Israel estavam perto de estabelecer relações diplomáticas. Mas depois veio o ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023 e a guerra subsequente, que já fez milhares de mortos na Faixa de Gaza, fez parar a aproximação. 

"O Reino não pode recuar da sua linha vermelha: é preciso haver um caminho credível para a criação de um Estado palestiniano", lembra Ozcelik.

"Economia é fator-chave"

Apesar disso, os sauditas e a administração Trump continuam a negociar noutras frentes. Emily Tasinato, investigadora do Conselho Europeu de Relações Externas, destaca os interesses económicos.

"Riad, Doha e Abu Dhabi prometeram grandes investimentos nos EUA. Só a Arábia Saudita fala em 600 mil milhões de dólares em quatro anos. E os Emirados planeiam investir áreas como inteligência artificial e semicondutores, mais de 1,4 biliões de dólares", explica.

Mas afinal, qual será o grande anúncio de Trump? Ozcelik acredita que pode estar relacionado com os reféns do Hamas ainda detidos em Gaza. "Seria uma vitória moral e diplomática se um acordo de libertação fosse alcançado durante a visita", considera.

É pouco provável que Trump se encontre com o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, durante a sua viagem. Sanam Vakil, da Chatham House, acredita que o conflito entre Israel e Gaza será posto de lado durante a visita.

Donald Trump visitou a Arábia Saudita durante o seu primeiro mandato: aqui em conversa com o príncipe herdeiro Mohammed binFoto: Mandel Ngan/AFP/Getty Images

Novo acordo nuclear ou cessar-fogo?

"Os países árabes esperam que a visita de Trump promova um maior envolvimento económico, e que se foque na cooperação regional em matéria de segurança, com destaque para a reunião do Conselho de Cooperação do Golfo", afirma.

Por seu turno, Emily Tasinato aponta para outras possibilidades que poderão sair desta deslocação do estadista norte-americano ao Médio Oriente, tais como: um novo acordo nuclear com o Irão ou o cessar-fogo com os houthis no Iémen, mediado por Omã. "Há um alinhamento crescente entre os EUA e a Arábia Saudita para incluir o dossiê do Iémen nas negociações nucleares com Teerão."

E sobre o Irão, o líder americano voltou a insistir que Teerão não poder armamento nuclear. "Estamos a falar com eles e, neste momento, estão a agir de forma muito inteligente. Queremos que o Irão seja rico, maravilhoso, feliz e fantástico, mas não pode ter uma arma nuclear. É muito simples."

Para os analistas, Trump quer reforçar os laços com os países do Golfo, garantir investimentos e preparar o terreno para uma retirada estratégica dos EUA da região, com foco crescente na China. "Trump reconhece as oportunidades comerciais no Golfo e quer confiar a segurança regional aos próprios atores locais."

Donald Trump está de regresso, e agora?

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Trump diz que seria "estúpido" recusar avião

Donald Trump visita ao Médio Oriente sob críticas dos seus opositores e defensores da boa governação, que o acusam de possíveis conflitos de interesse. O republicano terá aceitado um avião luxuoso de 400 milhões de dólares, como presente da família real do Qatar. Mas também, Trump tem projectos empresariais, no Qatar, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos.

"Donald Trump possui propriedades nos três países que vai visitar. Também tem o negócio de criptomoeda, que ainda na semana passada foi anunciada uma transação de 2 mil milhões de dólares que inclui a empresa de criptomoeda de Donald Trump com uma entidade ligada ao governo dos Emirados Árabes", afirma Noah Bookbinder, presidente da Citizens for Responsibility and Ethics in Washington, uma ONG defensora da ética.

Sobre a oferta de avião, Bookbinder lembra que o presente pode violar a Cláusula de Emolumentos da Constituição que estabelece que "nenhuma pessoa que ocupe qualquer cargo de lucro ou confiança sob eles, deve, sem o consentimento do Congresso, aceitar qualquer presente, emolumento, cargo ou título, de qualquer tipo, de qualquer rei, príncipe ou Estado estrangeiro."

Trump defende-se, dizendo que seria "estúpido" recusar o avião oferecido pelo Qatar.

Lusa Agência de notícias
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