Tshisekedi procura nova maioria parlamentar na RDC
Lusa
7 de dezembro de 2020
O Presidente da República Democrática do Congo, Félix Tshisekedi, está à procura de uma nova maioria depois da rejeição da coligação com as forças do seu antecessor, Joseph Kabila, que tem maioria no Parlamento.
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"Decidi nomear um informador que será responsável pela identificação de uma nova coligação com uma maioria absoluta de membros na Assembleia Nacional", um procedimento previsto na Constituição congolesa, disse Félix Tshisekedi num discurso transmitido pela estação de televisão estatal RTNC.
O chefe de Estado ameaçou ainda dissolver o Parlamento se a procura de uma nova maioria falhar. "Caso contrário, usarei as prerrogativas constitucionais que me foram concedidas, para voltar a vós, povo soberano, e pedir-vos uma maioria", disse.
Durante a intervenção, Félix Tshisekedi deu conta dos resultados das "consultas políticas" que realizou ao longo de novembro com as forças políticas e representantes da sociedade.
Estas consultas "salientaram, por esmagadora maioria, a rejeição da coligação entre a Frente Comum do Congo (FCC), pró-Kabila, e o partido Rumo à Mudança (Cach, na sigla em francês, pró-Tshisekedi)", disse. "Notei que o acordo da coligação Cach-FCC, considerado como a principal razão para o atual impasse, deve ser rescindido", acrescentou.
O discurso provocou reações de satisfação entre as centenas de apoiantes reunidos em Kinshasa em frente à sede do partido presidencial.
O que diz a Constituição
Segundo a Constituição da RDC, na ausência de uma maioria, o Presidente "confia uma missão de averiguação a uma personalidade, a fim de identificar uma coligação".
"A missão de averiguação é de 30 dias, renovável uma vez", acrescenta a Constituição. A FCC reúne 305 dos 500 deputados da Assembleia Nacional congolesa.
Um acordo secreto da coligação permitiu, em janeiro de 2019, a primeira transição pacífica de poder na história da RDCongo, com Kabila a ceder o lugar a Tshisekedi, declarado vencedor das eleições presidenciais de 30 de dezembro de 2018.
Envolvido em tensões com a FCC, o Presidente congolês organizou consultas políticas para criar uma "união sagrada" da nação.
As consultas tendem "corajosamente para uma requalificação desta maioria", através de uma "recomposição de alianças" que permita dar ao Presidente "espaço de manobra suficiente", disse o gabinete de comunicação da presidência na semana passada.
Os aeroportos dos presidentes em África
São uma espécie de monumento auto-instituído: vários líderes africanos construíram os seus próprios aeroportos em locais remotos. Hoje, são estruturas esquecidas, paralisadas ou dão grandes prejuízos.
Foto: Getty Images/AFP/L. Bonaventure
O aeroporto esquecido de uma capital esquecida
Nos anos 60, o Presidente Félix Houphouët-Boigny decidiu fazer da sua cidade natal, Yamoussoukro, a capital da Costa do Marfim. Construiu avenidas imponentes, uma enorme igreja, vários edifícios e um aeroporto. Tanto a cidade como o Aeroporto Internacional de Yamoussoukro acabaram por cair na insignificância. Hoje em dia, o aeroporto está praticamente abandonado.
Foto: Getty Images/AFP/L. Bonaventure
Perdido na selva
Também Mobuto Sese Seko, ex-Presidente da RDC, se instalou com toda a pompa e circunstância na sua cidade natal, Gbadolite, com três palácios e edifícios representativos. Há também um aeroporto, rodeado por floresta tropical. Não há indústria nem turismo nas redondezas e a capital, Kinshasa, fica a 1400 quilómetros. Mobutu e a mulher gostavam de voar de Gbadolite para Paris – num Concorde alugado.
Foto: Getty Images/AFP/J. Wessels
O ditador com a sua própria pista de aterragem
Mobutu foi também recebido pelo ditador da vizinha República Centro-Africana, Jean-Bedel Bokassa (segundo à direita). Na residência de Bokassa, a cerca de 80 quilómetros de distância, havia também uma pista de aterragem para passageiros. Há muito que Bokassa morreu e a sua pista desintegra-se – tal como os seus palácios.
Foto: Getty Images/AFP/OFF
Boas-vindas a um convidado alemão
Mesmo antes de se tornar um aeroporto internacional - a mando do antigo Presidente Daniel Arap Moi - o aeródromo de Eldoret, no centro-oeste do Quénia, recebia o chanceler Helmut Kohl, em 1987. Eldoret é o centro económico dos Kalenjin – o grupo étnico do Presidente Moi. Apesar do nome, o aeroporto serve apenas para voos domésticos.
Foto: Imago Images/D. Bauer
O aeroporto inviável do ex-Presidente da Nigéria
O ex-Presidente da Nigéria, Umaru Yar'Adua, também converteu o aeroporto da sua cidade natal, Katsina, em aeroporto internacional durante o seu mandato (2007-2010). Mas o projeto preferido do antigo Presidente, que morreu em 2010, não é rentável. O Governo está a ponderar a entrada da autoridade aeronáutica nacional na equipa de gestão do aeroporto de Katsina.
Foto: Getty Images/AFP/P. Utomi Ekpei
Rumo a Chato?
A companhia aérea tanzaniana Precision Air poderá voar em breve para Chato, cidade natal do Presidente John Magufuli. O chefe de Estado quer expandir este aeroporto para impulsionar o turismo. Mas uma comissão parlamentar apela à renovação das infraestruturas já existentes em vez de novos projetos. Apenas 5 dos 58 aeroportos e pistas de aterragem do país contribuem para o PIB, dizem os deputados.