"Tudo é possível na Guiné Equatorial com a família Obiang"
Meyre Brito
29 de dezembro de 2017
O ativista Tutu Alicante diz não duvidar que o Presidente Teodoro Obiang seja capaz de recorrer à violência, cercar a sede da oposição e até matar para não perder o poder. Opositores foram acusados de tentativa de golpe.
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Se esta quinta-feira (28.12) houve de facto uma tentativa de golpe de Estado ou se há planos para tal em curso na Guiné Equatorial ninguém pode ainda confirmar. Certo é que o país está a ferver como uma panela de pressão prestes a explodir a qualquer momento. Esta é a sensação do ativista Tutu Alicante, advogado de direitos humanos da Guiné Equatorial.
De um lado, defensores do regime de Obiang afirmam que um general tentou "derrubar" o chefe de Estado com uma operação perto da localidade de Kye-Ossi, na fronteira com os Camarões. De outro, membros do partido da oposição Cidadãos para Inovação (CI) dizem estar a ser perseguidos e presos e a correr risco de vida.
Entre dúvidas e certezas
Em entrevista à DW África, Tutu Alicante, diretor da organização não-governamental EG Justice, disse que a única certeza até o momento é que mais de 500 oficiais da polícia cercaram a sede do CI em Malabo, capital do país, desde a manhã de quinta-feira.
Fontes afirmaram que a polícia planeava prender o líder do CI, Gabriel Nsé Obiang. Alicante contou que tentou localizar um advogado que representasse o partido, a fim de obter uma informação imparcial, mas até agora não conseguiu. De acordo com os membros do partido, aproximadamente 30 militantes foram presos em Malabo e um número ainda maior foi levado da sede do CI em Bata, capital económica da Guiné Equatorial.
Depois do resultado das eleições parlamentares na Guiné Equatorial, em 12 de novembro, voltou a aumentar a pressão em torno de um dos chefes de Estado há mais tempo no poder no mundo: Teodoro Obiang Nguema, hoje com 75 anos, governa o país há quase 39 anos.
Indignação gera violência
"Ninguém pode imaginar em nenhuma sociedade o que foram os resultados das urnas", disse Alicante. "99 das 100 cadeiras do Parlamento foram para o partido do Governo e apenas um lugar foi para a oposição. Isso não acontece em nenhuma democracia do mundo, só na Guiné Equatorial. A oposição não vê outra saída senão manifestar-se com violência", completou o advogado.
"Tudo é possível na Guiné Equatorial com a família Obiang"
Os rumores são muitos. Há informações de que o regime está a fazer planos para aniquilar membros da CI até o próximo dia 15 de janeiro. O ativista de direitos humanos não acredita que o Governo de Obiang, que está a tentar ganhar legitimidade, inclusive internacionalmente, iria envolver-se abertamente num massacre sangrento contra os membros do partido que eles derrotaram nas eleições. "Mas tudo é possível na Guiné Equatorial com a família Obiang", salientou Alicante.
Para o advogado, uma coisa é certa: pode-se esperar que o Presidente Obiang e o seu regime dificultem ao máximo possível que o partido "Cidadãos para Inovação”, ou qualquer outro partido da oposição, ganhe espaço no país. "E se para isso for preciso violência, cercar a sede do partido, atirar nas pessoas e, possivelmente, até matá-las, não tenho dúvida de que ele chegaria a esse ponto", afirmou.
À espera do fim de uma era
Alicante acredita que para aqueles que amam a liberdade, a igualdade, para os que defendem e lutam pelos direitos humanos, o fim desse regime não está a chegar tão cedo. Ele espera, no entanto, que a ditadura tenha fim na Guiné Equatorial.
"Mas essa é uma longa jornada. Este é um dos governos que está há mais tempo no poder no mundo, e que se segura no poder anulando todo e qualquer direito que os cidadãos têm, usurpando todos os recursos naturais do país. Tudo controlado por uma única família. Enquanto a maioria das pessoas vive na mais absoluta pobreza, o Presidente e a família dele estão entre os mais ricos do mundo", apontou o advogado.
A esperança de Alicante é que o fim desse regime não seja violento, mas que haja espaço na Guiné Equaltorial para surgir um governo democrático. "Eventualmente, isso vai acabar em violência, como vimos acontecer em outros lugares da África", concluiu.
Os chefes de Estado há mais tempo no poder
São presidentes, príncipes, reis ou sultões, de África, da Ásia ou da Europa. Estes são os dez chefes de Estado há mais tempo no poder.
Foto: Jack Taylor/Getty Images
Do golpe de Estado até hoje - Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo assumiu a Presidência da Guiné Equatorial em 1979, ainda antes de José Eduardo dos Santos. Teodoro Obiang Nguema derrubou o seu tio do poder: Francisco Macías Nguema foi executado em setembro de 1979. A Guiné Equatorial é um dos países mais ricos de África devido às receitas do petróleo e do gás, mas a maioria dos cidadãos não beneficia dessa riqueza.
Foto: DW/R. Graça
O Presidente que adora luxo - Paul Biya
Paul Biya é chefe de Estado dos Camarões desde novembro de 1982. Muitos dos camaroneses que falam inglês sentem-se excluídos pelo francófono Biya. E o Presidente também tem sido alvo de críticas pelas despesas que faz. Durante as férias, terá pago alegadamente 25 mil euros por dia pelo aluguer de uma vivenda. Na foto, está acompanhado da mulher Chantal Biya.
Foto: Reuters
Mudou a Constituição para viabilizar a reeleição - Yoweri Museveni
Yoweri Museveni já foi confirmado seis vezes como Presidente do Uganda. Para poder concorrer às eleições de 2021, Museveni mudou a Constituição e retirou o limite de idade de 75 anos. Venceu o pleito com 58,6% dos votos, reafirmando-se como um dos líderes autoritários mais antigos do mundo. O candidato da oposição, Bobi Wine, alegou fraude generalizada na votação e rejeitou os resultados oficiais.
Foto: Getty Images/AFP/I. Kasamani
"O Leão de Eswatini" - Mswati III
Mswati III é o último governante absolutista de África. Desde 1986, dirige o reino de Eswatini, a antiga Suazilândia. Acredita-se que tem 210 irmãos; o seu pai Sobhuza II teve 70 mulheres. A tradição da poligamia continua no seu reinado: até 2020, Mswati III teve 15 esposas. O seu estilo de vida luxuoso causou protestos no país, mas a polícia costuma reprimir as manifestações no reino.
Foto: Getty Images/AFP/J. Jackson
O sultão acima de tudo - Haji Hassanal Bolkiah
Há quase cinco décadas que o sultão Haji Hassanal Bolkiah é chefe de Estado e Governo e ministro dos Negócios Estrangeiros, do Comércio, das Finanças e da Defesa do Brunei. Há mais de 600 anos que a política do país é dirigida por sultões. Hassanal Bolkiah, de 74 anos, é um dos últimos manarcas absolutos no mundo.
Foto: Imago/Xinhua/J. Wong
Monarca bilionário - Hans-Adam II
Desde 1989, Hans-Adam II (esq.) é chefe de Estado do Liechtenstein, um pequeno principado situado entre a Áustria e a Suiça. Em 2004, nomeou o filho Aloísio (dir.) como seu representante, embora continue a chefiar o país. Hans-Adam II é dono do grupo bancário LGT. Com uma fortuna pessoal estimada em mais de 3 mil milhões de euros é considerado o soberano europeu mais rico.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Nieboer
De pastor a parceiro do Ocidente - Idriss Déby
Idriss Déby (à esq.) foi Presidente do Chade de 1990 a 2021. Filho de pastores, Déby formou-se em França como piloto de combate. Apesar do seu autoritarismo, Déby foi um parceiro do Ocidente na luta contra o extremismo islâmico (na foto com o Presidente francês Macron). Em abril de 2021, um apenas dia após após a confirmação da sua sexta vitória eleitoral, Déby foi morto num combate com rebeldes.
Foto: Eliot Blondet/abaca/picture alliance
Procurado por genocídio - Omar al-Bashir
Omar al-Bashir foi Presidente do Sudão entre 1993 e 2019. Chegou ao poder em 1989 depois de um golpe de Estado sangrento. O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu em 2009 um mandado de captura contra al-Bashir por alegada implicação em crimes de genocídio e de guerra no Darfur. Em 2019, foi deposto e preso após uma onda de protestos no país.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
O adeus - José Eduardo dos Santos
José Eduardo dos Santos foi, durante 38 anos (de 1979 a 2017), chefe de Estado de Angola. Mas não se recandidatou nas eleições de 2017. Apesar do boom económico durante o seu mandato, grande parte da população continua a viver na pobreza. José Eduardo dos Santos tem sido frequentemente acusado de corrupção e de desvio das receitas da venda do petróleo. A sua família é uma das mais ricas de África.
Foto: picture-alliance/dpa/P.Novais
Fã de si próprio - Robert Mugabe
Robert Mugabe chegou a ser o mais velho chefe de Estado do mundo (com uma idade de 93 anos). O Presidente do Zimbabué esteve quase 30 anos na Presidência. Antes foi o primeiro-ministro. Naquela época, aconteceram vários massacres que vitimaram milhares de pessoas. Também foi criticado por alegada corrupção. Após um levantamento militar, renunciou à Presidência em 2017. Morreu dois anos mais tarde.