Em entrevista à DW, um dos líderes da oposição na Tanzânia disse vai concorrer às presidenciais de outubro. Tundu Lissu deixou o país há três anos depois de ter sido vítima de uma tentativa de assassinato.
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O antigo deputado do Parlamento da Tanzânia Tundu Lissu fixou uma data para regressar ao seu país-natal e concorrer à Presidência pelo Chadema, o principal partido da oposição, nas próximas eleições de outubro. Em entrevista à DW, confirmou que vai voltar à Tanzânia ainda em julho.
O anúncio ocorre três anos depois de Tundu Lissu sobreviver a uma tentativa de assassinato. Na altura, atacantes armados com metralhadoras cravejaram o seu carro com balas. Lissu foi levado de avião a um hospital em Nairobi, no Quénia, e depois mudou-se para a Bélgica, onde ainda mora, para receber tratamento.
O advogado de direitos humanos e meio ambiente é um crítico da corrupção no seio do Governo da Tanzânia e do atual Presidente do país, John Magufuli. Foi preso várias vezes no passado e ainda responde na Justiça por crimes de sedição contra a autoridade estatal da Tanzânia.
DW: Como pode concorrer à Presidência enquanto ainda está no exterior? Planeja voltar para a Tanzânia em breve?
Tundu Lissu (TL): A resposta simples e rápida à sua pergunta é: Sim, estou a voltar para casa e vou regressar a 28 de julho, daqui a menos de três semanas.
DW: É acusado de crimes de sedição [sublevação contra qualquer autoridade constituída] na Tanzânia. Acha que essas acusações podem prejudicar as suas ambições presidenciais?
TL: Não é sedição fazer declarações que mostrem que o Governo está errado nas suas ações, políticas e práticas. Não é sedição querer remover o Governo do poder por meios constitucionais. Não é sedição criticar o Governo. Não é sedição usar meios democráticos para tentar livrar-se do Presidente John Magufuli. Fiz declarações públicas que mostraram que o Governo estava errado. Isso não é sedição, mesmo sob essa lei terrível. Portanto, não estou nem um pouco perturbado com a existência destas acusações.
DW: Quando analisamos a maioria das discussões em andamento na Tanzânia, vemos que há muitas pessoas a dizer que há alguns desenvolvimentos em termos de infraestrutura. O Banco Mundial recentemente classificou a Tanzânia como um país de renda média baixa. Quando olha para essas conquistas do atual Presidente, não acha que John Magufuli tem uma boa chance de ser reeleito?
TL: Mwalimu [Julius] Nyerere [que foi Presidente da Tanzânia por 24 anos] construiu projetos de infraestrutura, como a ferrovia Tazara, com 2.400 quilómetros de extensão da capital Dar es Salam até Kapiri Mposhi, na Zâmbia. Ele construiu estradas, estradas pavimentadas. O [antigo] Presidente [Ali Hassan] Mwinyi construiu estradas, [Benjamin] Mkapa construiu estradas, Jakaya Kikwete construiu estradas. Isso não impediu-nos de exigir uma Tanzânia melhor, mais democrática e mais justa.
Então, sim, Magufuli construiu todas essas coisas de que está a falar. Isso não justifica um desgoverno. Isso não justifica o exercício dessas políticas draconianas e muito autoritárias que impôs ao país. Isso não justifica ou legitima a destruição dos nossos processos democráticos.
Os chefes de Estado há mais tempo no poder
São presidentes, príncipes, reis ou sultões, de África, da Ásia ou da Europa. Estes são os dez chefes de Estado há mais tempo no poder.
Foto: Jack Taylor/Getty Images
Do golpe de Estado até hoje - Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo assumiu a Presidência da Guiné Equatorial em 1979, ainda antes de José Eduardo dos Santos. Teodoro Obiang Nguema derrubou o seu tio do poder: Francisco Macías Nguema foi executado em setembro de 1979. A Guiné Equatorial é um dos países mais ricos de África devido às receitas do petróleo e do gás, mas a maioria dos cidadãos não beneficia dessa riqueza.
Foto: DW/R. Graça
O Presidente que adora luxo - Paul Biya
Paul Biya é chefe de Estado dos Camarões desde novembro de 1982. Muitos dos camaroneses que falam inglês sentem-se excluídos pelo francófono Biya. E o Presidente também tem sido alvo de críticas pelas despesas que faz. Durante as férias, terá pago alegadamente 25 mil euros por dia pelo aluguer de uma vivenda. Na foto, está acompanhado da mulher Chantal Biya.
Foto: Reuters
Mudou a Constituição para viabilizar a reeleição - Yoweri Museveni
Yoweri Museveni já foi confirmado seis vezes como Presidente do Uganda. Para poder concorrer às eleições de 2021, Museveni mudou a Constituição e retirou o limite de idade de 75 anos. Venceu o pleito com 58,6% dos votos, reafirmando-se como um dos líderes autoritários mais antigos do mundo. O candidato da oposição, Bobi Wine, alegou fraude generalizada na votação e rejeitou os resultados oficiais.
Foto: Getty Images/AFP/I. Kasamani
"O Leão de Eswatini" - Mswati III
Mswati III é o último governante absolutista de África. Desde 1986, dirige o reino de Eswatini, a antiga Suazilândia. Acredita-se que tem 210 irmãos; o seu pai Sobhuza II teve 70 mulheres. A tradição da poligamia continua no seu reinado: até 2020, Mswati III teve 15 esposas. O seu estilo de vida luxuoso causou protestos no país, mas a polícia costuma reprimir as manifestações no reino.
Foto: Getty Images/AFP/J. Jackson
O sultão acima de tudo - Haji Hassanal Bolkiah
Há quase cinco décadas que o sultão Haji Hassanal Bolkiah é chefe de Estado e Governo e ministro dos Negócios Estrangeiros, do Comércio, das Finanças e da Defesa do Brunei. Há mais de 600 anos que a política do país é dirigida por sultões. Hassanal Bolkiah, de 74 anos, é um dos últimos manarcas absolutos no mundo.
Foto: Imago/Xinhua/J. Wong
Monarca bilionário - Hans-Adam II
Desde 1989, Hans-Adam II (esq.) é chefe de Estado do Liechtenstein, um pequeno principado situado entre a Áustria e a Suiça. Em 2004, nomeou o filho Aloísio (dir.) como seu representante, embora continue a chefiar o país. Hans-Adam II é dono do grupo bancário LGT. Com uma fortuna pessoal estimada em mais de 3 mil milhões de euros é considerado o soberano europeu mais rico.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Nieboer
De pastor a parceiro do Ocidente - Idriss Déby
Idriss Déby (à esq.) foi Presidente do Chade de 1990 a 2021. Filho de pastores, Déby formou-se em França como piloto de combate. Apesar do seu autoritarismo, Déby foi um parceiro do Ocidente na luta contra o extremismo islâmico (na foto com o Presidente francês Macron). Em abril de 2021, um apenas dia após após a confirmação da sua sexta vitória eleitoral, Déby foi morto num combate com rebeldes.
Foto: Eliot Blondet/abaca/picture alliance
Procurado por genocídio - Omar al-Bashir
Omar al-Bashir foi Presidente do Sudão entre 1993 e 2019. Chegou ao poder em 1989 depois de um golpe de Estado sangrento. O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu em 2009 um mandado de captura contra al-Bashir por alegada implicação em crimes de genocídio e de guerra no Darfur. Em 2019, foi deposto e preso após uma onda de protestos no país.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
O adeus - José Eduardo dos Santos
José Eduardo dos Santos foi, durante 38 anos (de 1979 a 2017), chefe de Estado de Angola. Mas não se recandidatou nas eleições de 2017. Apesar do boom económico durante o seu mandato, grande parte da população continua a viver na pobreza. José Eduardo dos Santos tem sido frequentemente acusado de corrupção e de desvio das receitas da venda do petróleo. A sua família é uma das mais ricas de África.
Foto: picture-alliance/dpa/P.Novais
Fã de si próprio - Robert Mugabe
Robert Mugabe chegou a ser o mais velho chefe de Estado do mundo (com uma idade de 93 anos). O Presidente do Zimbabué esteve quase 30 anos na Presidência. Antes foi o primeiro-ministro. Naquela época, aconteceram vários massacres que vitimaram milhares de pessoas. Também foi criticado por alegada corrupção. Após um levantamento militar, renunciou à Presidência em 2017. Morreu dois anos mais tarde.