Maputo acolhe a conferência internacional Turismo Baseado na Natureza. O encontro junta académicos e especialistas de 25 países para debater a conservação da biodiversidade no mundo.
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Na abertura da conferência de três dias, esta quinta-feira (07.06), o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, apontou como principais desafios para o desenvolvimento do turismo no país a eliminação da corrupção e da burocracia que bloqueiam o ambiente são de negócios e inibem os investimentos do setor privado.
Nyusi indicou algumas medidas que o Governo está a levar a cabo para impulsionar a cadeia de valor do turismo, de modo a tornar este sector um dos principais pilares de desenvolvimento do país: "Liberalizámos o espaço aéreo nacional para voos internacionais diretos para Moçambique e voos domésticos e criámos facilidades de obtenção de vistos de turismo nos pontos de entrada".
A conservação da natureza é também um dos pontos em destaque. "O processo em curso de reabilitação dos nossos parques e reservas coloca Moçambique no roteiro mundial de áreas com destaque para a conservação de referência", disse Nyusi.
Investir na conservação
As áreas de conservação em Moçambique ocupam 25% do território, o que correspondente a cerca de 200 mil metros quadrados.
Turismo e natureza de mãos dadas em Moçambique
"Como forma de melhor conviver com a natureza, estamos a realizar mais estudos de investigação que têm revelado descobertas de novas espécies de plantas, insetos, novas espécies de morcegos. Temos estado a devolver um efetivo de fauna com mais de quatro mil animais reintroduzidos nos parques e reservas nacionais desde 2015", sublinhou o Presidente moçambicano.
Presente no encontro, Peter Lindsey, da Wildfile Conservation Network, defendeu que o continente deve investir na conservação, com o envolvimento não só dos governos, mas também das ONG e de outros parceiros. Segundo Lindsey, muitos países estão a perder a vida selvagem por falta de fundos para a sua proteção.
Envolver as comunidades
Também o antigo Presidente do Botsuana Ian Kama defendeu o investimento na proteção: "Para África continuar a beneficiar dos recursos naturais que possui, deve proteger a sua terra, e, depois, tornar os ganhos do turismo em coisas tangíveis, com investimentos em infra-estruturas", sublinhou.
Por outro lado, acrescentou Ian Kama, "é importante que a natureza seja utilizada para o benefício da comunidade e para a erradicação da pobreza".
Na mesma linha, Luke Bailes, fundador da Singita, defendeu que as comunidades devem ser envolvidas na conservação da natureza, de modo a combater a caça furtiva.
Em Moçambique, as populações que vivem em redor dos parques e reservas beneficiam de 20% das receitas geradas nas respectivas áreas.
As áreas de conservação produziram em 2017 receitas que atingiram um montante equivalente a cerca de um milhão e quatrocentos mil euros, representando um aumento de 30% comparativamente aos dois anos anteriores.
O diretor-geral da Administração Nacional das Áreas de Conservação em Moçambique, Mateus Mutemba, reconhece que a problemática da caça furtiva está no topo da agenda, mas refere que este "já é um problema que é abordado de forma multissectorial". "Há intervenções que estão a ser feitas quer do ponto de vista de educação e sensibilização como também intervenções que estão orientadas para a aplicação da lei", sublinha.
Oportunidade ou perigo? A extração de areia em Moçambique
A extração de areia movimenta muito dinheiro na província moçambicana da Zambézia. Ambientalistas alertam para os perigos ambientais. Mas para quem trabalha neste negócio no distrito de Nicoadala, parar seria difícil.
Foto: DW/M. Mueia
O negócio da areia em Nicoadala
Já foram devastadas extensas áreas de terra devido ao negócio da areia no distrito de Nicoadala, no centro de Moçambique. São sobretudo os jovens naturais da região que trabalham aqui.
Foto: DW/M. Mueia
Trabalho duro
Extrair areia é um trabalho duro. Os trabalhadores queixam-se frequentemente de dores na coluna e dores de cabeça, entre outras coisas. Ainda assim, o trabalho dá para "manter a vida" e sustentar a família, afirmam. Conseguem, assim, pagar a escola aos filhos, comprar-lhes roupas e adquirir bicicletas, o principal meio de transporte familiar nesta zona.
Foto: DW/M. Mueia
Longe da escola
Os jovens que trabalham aqui contam que não puderam estudar por falta de condições financeiras. A maioria não concluiu o ensino primário.
Foto: DW/M. Mueia
Areia para a região
A areia do tipo "mina" é extraída e, depois, vendida a camionistas. O número de clientes cresce durante o verão.
Foto: DW/M. Mueia
À espera do camião
Estima-se que, todos os dias, mais de 30 veículos pesados entram na região de extração de areia. A atividade rende diariamente à Associação dos Garimpeiros de Nicoadala entre 20 a 35 mil meticais (entre 280 e 490 euros). O valor é acumulado durante uma semana para posteriormente ser distribuído pelos 26 associados.
Foto: DW/M. Mueia
Contas em dia
Membros da Associação dos Garimpeiros de Nicoadala: na foto, à frente, o presidente da associação, João Mariano (direita) e o fiscal Bito Lucas (esquerda), que tem a função de passar faturas e receber o dinheiro dos camionistas.
Foto: DW/M. Mueia
Preços da areia
O valor da areia é fixo, segundo os "garimpeiros": no terreno, os camionistas compram 1.600kg de areia a 500 meticais (o equivalente a sete euros), mas o valor dispara na revenda. A mesma quantidade de areia é revendida na cidade de Quelimane a 8.000 meticais (mais de cem euros).
Foto: DW/M. Mueia
A caminho da cidade
A areia é transportada pelos camionistas até à cidade de Quelimane, na província moçambicana da Zambézia. A maioria dos imóveis na região é construída com areia de Nicoadala.
Foto: DW/M. Mueia
Blocos de cimento e areia
Para produzir blocos de construção, é preciso juntar um saco de cimento de 50kg a 80kg de areia. Aos poucos, coloca-se água e vai-se misturando com uma pá durante 30 minutos. A massa final é posta em pequenas máquinas manuais para moldar o bloco.
Foto: DW/M. Mueia
Cenário desolador
Para trás, fica um cenário desolador. Estes são os efeitos secundários da extração de areia. Áreas que eram mais elevadas estão agora assim, com pequenas lagoas e vastas planícies. Já foram retiradas dezenas de toneladas de areia para construir edifícios em Quelimane, incluindo edifícios de instituições públicas, no próprio distrito de Nicoadala.
Foto: DW/M. Mueia
Terrenos impróprios
Zonas anteriormente exploradas pelos "garimpeiros" não servem para a prática de agricultura nem para a pastagem de gado. Isso por serem consideradas áreas de difícil acesso em época de chuvas, com solos bastantes arenosos.
Foto: DW/M. Mueia
Para camionistas, parar não é solução
Os camionistas dizem estar conscientes do perigo ambiental, mas sublinham que não têm outra alternativa. Sem este negócio, muitas famílias passariam mal e "deixaria de haver a construção de habitações convencionais", frisa o camionista Carlos Manuel, que diz que quem mais lucra com o negócio são os proprietários das viaturas.