Turquia abre fronteiras para refugiados chegarem à Europa
Sabine Kinkartz | rl | Reuters | AFP
3 de março de 2020
Depois da abertura ordenada pelo Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, milhares de refugiados e migrantes aguardam na fronteira que divide a Turquia e Grécia pela autorização de entrada em território europeu.
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As imagens que chegam da fronteira que divide a Turquia da Grécia são chocantes. Milhares de refugiados e migrantes aguardam por detrás de um "muro" de arame farpado que lhe concedam a entrada na Europa, ao mesmo tempo que a polícia grega dispara gás lacrimogéneo para impedir que entrem.
O Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan anunciou, durante o fim de semana, a abertura das fronteiras do país para a Europa. Uma ação que, justificou, se deve ao facto de a União Europeia (UE) não ter cumprido a sua parte do acordo firmado entre as partes em 2016.
"Se centenas de milhares [de pessoas] estão a forçar as portas [da Europa] hoje, há uma razão. Infelizmente, a União Europeia não cumpriu a sua promessa", afirmou o Presidente turco.
Abertura das fronteiras
Depois de várias ameaças, Erdogan abriu as fronteiras do seu país para conseguir o apoio da UE e da NATO (Organização do Tratado do Atlêncito Norte) no conflito na Síria. No entanto, a chanceler alemã Angela Merkel disse, esta segunda-feira (02.03), que "é inaceitável" que a Turquia exerça pressão sobre a União Europeia à custa dos refugiados.
Turquia abre fronteiras para refugiados chegaram à Europa
"Os refugiados foram agora colocados numa situação em que foram para a fronteira e basicamente acabam num beco sem saída. No entanto, a nossa política, e é por isso que existe o acordo entre a UE e a Turquia, não é uma política que se faz à custa dos refugiados. Pretende-se fechar acordos entre Estados precisamente para não colocar os refugiados numa situação difícil, nem facilitar ou tornar possível o trabalho dos traficantes e contrabandistas", disse a chanceler.
Na Europa, e especialmente na Alemanha, a crise migratória de 2015 continua bem presente. A própria chanceler Angela Merkel tem repetido várias vezes que o erro de abrir as fronteiras do país, permitindo a entrada de migrantes e refugiados em massa, não deve ser repetido.
Quem também rejeitou a ação do Governo turco foi o comissário europeu com a pasta das Migrações, Margaritis Schinas, que advertiu Erdogan de que "não pode chantagear a UE", até porque, segundo o comissário europeu, "cada vez que a União Europeia é submetida a uma prova, como é o caso atualmente, deve prevalecer a unidade", completa Margaritis Schinas.
Apoio europeu
Grécia e Bulgária, os dois países europeus que fazem fronteira com a Turquia, já solicitaram apoio europeu para lidar com a situação que se pode agravar, uma vez que existem cerca de 3,5 milhões de refugiados sírios a viver na Turquia.
No entanto, e de acordo com a Oganização das Nações Unidas (ONU), após a abertura das fronteiras turcas no fim de semana, aguardam a oportunidade de entrar em território grego cerca de 13 mil pessoas.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, viaja para a Grécia na terça-feira (03.03), acompanhada do primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, e dos presidentes do Conselho e do Parlamento Europeu, Charles Michel e David Sassoli.
Cronologia da Guerra na Síria
Começou com protestos pacíficos em 2011, mas tornou-se numa guerra civil que já matou 350 000 pessoas e fez milhões de refugiados. Um conflito complexo com vários atores e repercussões à escala internacional.
Foto: Getty Images/AFP/G. Ourfalian
2011: O início e uma Primavera que não foi
A “Primavera Árabe” estende-se à Síria e começam a emergir protestos contra a família Assad, que lidera o país há mais de quarenta anos. O movimento contra o Governo ganhou amplitude na cidade de Deraa, no sul, alargando-se a todo o país. Ao contrário de outros países, onde as manifestações resultaram em mudanças quase imediatas, na Síria marcavam o início de um conflito sem fim à vista.
Foto: picture-alliance/dpa
2012: Escalada de violência e formação da oposição
A violenta repressão por parte de milícias do Governo de al-Assad contra manifestantes desarmados fez escalar a onda de violência. Grupos da oposição, representativos das diferentes ideologias e fações religiosas, começam a organizar-se a partir de 2011, como o Conselho Nacional Sírio, o Comité de Coordenação Nacional, o Exército Livre da Síria (foto) e o Conselho Nacional Curdo.
Foto: AP
2013: Desmantelamento de arsenal químico
Um ataque químico em dois setores rebeldes perto de Damasco, atribuído ao regime de al-Assad, faz mais de 1400 mortos, de acordo com os Estados Unidos. O regime sírio desmente. O então Presidente dos EUA, Barack Obama, estabelece com a Rússia um acordo de desmantelamento de armas químicas da Síria. Em outubro, Damasco inicia a destruição do seu arsenal declarado de armas químicas.
Foto: picture-alliance/AP Photo
2014: A ameaça do "Estado Islâmico"
Apoiada por Washington, uma coligação de mais de 60 países realiza ataques aéreos contra as posições do autointitulado “Estado Islâmico” (EI) na Síria. Cerca de 2000 militares norte-americanos são colocados no norte da Síria, para combater o EI e treinar as forças locais. Em junho, o EI proclama "um califado", e torna a cidade síria de Raqa na sua capital.
Foto: picture-alliance/AP Photo
2015: Rússia entra abertamente no conflito
Em setembro, a Rússia, que desde o início fornecera ajuda militar ao Governo sírio, entra ativa e abertamente no conflito. Inicia uma campanha de bombardeamentos aéreos em apoio às forças de Bashar al-Assad, que leva o Governo sírio a recuperar território perdido para os rebeldes.
Foto: Reuters/Rurtr
2016: Governo controla Aleppo
Em setembro, num único fim de semana, a cidade de Aleppo é alvo de 200 ataques aéreos pelas forças pró-Assad. Em dezembro, após quatro anos de controlo desta cidade, a segunda maior da Síria, as milícias rebeldes acabam por perder Aleppo para as forças governamentais.
Foto: Getty Images/AFP/G. Ourfalian
2017: Ataque químico em Idleb
Um ataque de gás sarin mata mais de 80 civis em Khan Cheikhoun, localidade da província de Idleb, controlada pelos rebeldes e por 'jihadistas'. O regime de Bashar al-Assad é, uma vez mais, acusado de uso de armas químicas. O Presidente dos EUA, Donald Trump, ordena ataques à base aérea Síria de Al-Chaayrate, no centro do país.
Foto: picture alliance/AA/A.Dagul
2017 : Retoma de Raqa
Em outubro, depois de meses de luta, as forças democráticas sírias, dominadas por curdos e apoiadas pela coligação internacional, tomam o controlo de Raqa. A cidade esteve três anos sob o domínio do autointitulado “Estado Islâmico”.
Foto: DW/F. Warwick
2018: Turquia invade Síria e controla Afrin
Em janeiro, a Turquia, que mantinha um dispositivo militar no norte da Síria, lança uma grande ofensiva contra a milícia curda, as Unidades de Proteção do Povo (YPG), em Afrine. Em março, a Turquia acaba por tomar controlo desta cidade. As milícia curda YPG é considerada um grupo terrorista pelo Governo turco, pois é o braço sírio da organização curda da Turquia, o PKK.
Foto: picture alliance/AA/E. Sansar
2018: Forças pró-Assad bombardeiam e retomam Ghouta Oriental
O regime sírio lança uma ofensiva aérea e terrestre, de intensidade inédita, sobre o enclave rebelde de Ghouta Oriental, perto de Damasco. A ação resulta em mais de 1700 mortos, entre os quais crianças. Em abril, depois de bombardeamentos devastadores, mas também de acordos de evacuação patrocinados pela Rússia, o regime assume o controlo de Ghouta Oriental, último bastião dos insurgentes.
Foto: Getty Images/AFP/A. Almohibany
14 de abril de 2018: A resposta do Ocidente
EUA, França e Reino Unido realizam uma série de ataques contra alvos associados à produção de armamento químico na Síria, em resposta a um alegado ataque com armas químicas em Douma, Ghouta Oriental, por parte do Governo sírio. Trump justifica os ataques como uma resposta à "ação monstruosa" do regime de Assad contra a oposição e prometeu que a operação durará "o tempo que for necessário".