Turquia ameaça vetar adesão da Finlândia e Suécia à NATO
DW (Deutsche Welle) | tms | com agências
17 de maio de 2022
A Suécia formalizou segunda-feira a intenção de entrar na NATO, como fez a Finlândia no domingo. A Turquia já avisou que não apoiará a entrada dos dois países, se ambos mantiverem uma política pró-guerrilheiros curdos.
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O Presidente turco voltou a manifestar-se contra a adesão finlandesa e sueca à NATO. Em conferência de imprensa esta segunda-feira (16.05), Recep Tayyip Erdogan explicou que a Turquia não vai tolerar a política de "acolhimento de guerrilheiros curdos" adotada pelos escandinavos.
"Estes dois países não têm uma posição clara contra as organizações terroristas. Inclusive quando dizem que são contra elas, não entregam os terroristas que deveriam entregar. Não podem enganar-nos duas vezes", avisou.
A Finlândia anunciou oficialmente no domingo (15.05) a sua intenção de aderir à aliança militar do Atlântico Norte. Ontem foi a vez da Suécia, que disse que vai apresentar a sua candidatura juntamente com Helsínquia ainda esta semana.
A entrada dos dois países, porém, precisa da aprovação de todos os 30 membros da NATO, incluindo da Turquia.
"Centro de incubação de terroristas"
A questão já foi discutida no fim de semana entre os chefes da diplomacia turca, sueca e finlandesa. E na próxima semana está prevista a visita de uma delegação sueca à Ancara para discutir a questão pessoalmente com Erdogan.
"A Suécia é um centro de incubação de organizações terroristas. No seu parlamento, há deputados que defendem os terroristas. A quem acolhe terroristas não diremos 'sim' quando quiserem juntar-se à NATO", sublinhou o Presidente turco.
Numa entrevista exclusiva à DW, em Berlim, o vice-secretário-geral adjunto da NATO, Mircea Geoana, mostrou-se confiante numa solução para os questionamentos da Turquia.
"Há questões relacionadas com as preocupações da Turquia sobre grupos terroristas e tenho toda a confiança de que serão tratadas de forma construtiva por ambas as partes e, no final, teremos consenso e daremos as boas-vindas a estes novos membros altamente apreciados da NATO", declarou.
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Putin ameaça com retaliações
No entanto, o alargamento da NATO no território finlandês e sueco é um "grave erro". Foi o que disse ontem o Presidente russo, durante uma cimeira da Organização do Tratado de Segurança Coletiva, formada por antigas repúblicas soviéticas.
Vladimir Putin assegurou que Moscovo poderá reagir: "A Rússia não tem problemas com a Finlândia e a Suécia. Portanto, não há uma ameaça direta à Rússia com a entrada desses países na NATO. Mas a expansão das infraestruturas militares naqueles países vai exigir a nossa resposta. E iremos determinar a resposta baseados nas ameaças criadas".
Após as declarações de Putin, o porta-voz do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, John Kirby, assegurou que "a NATO é uma aliança defensiva. Nunca constituiu e não constitui agora uma ameaça para qualquer outra nação. E isso inclui a Rússia."
Antes de invadir a Ucrânia, a 24 de fevereiro, Putin tinha exigido que a NATO abandonasse qualquer plano de alargamento no leste europeu e retirasse as estruturas militares dos países que aderiram à Aliança após 1997.
Mas desde o início da guerra, os países escandinavos, tradicionalmente neutros, repensaram as suas posições e atualmente recebem apoio da população para aderirem à NATO.
Rússia - Ucrânia: Uma cronologia das relações que levaram a guerra à Europa
Ao invadir a Ucrânia, o Presidente Vladimir Putin foi acusado pelos países ocidentais de provocar uma guerra na Europa. Veja aqui a cronologia dos acontecimentos que levaram à guerra entre a Rússia e a Ucrânia.
Foto: UMIT BEKTAS/REUTERS
2004
O candidato pró-Rússia, Viktor Yanukovich (na foto), é declarado Presidente, mas alegações de fraude eleitoral provocam um movimento de protesto. Conhecida como a Revolução Laranja, a iniciativa força uma nova votação, que resulta na eleição do pró-ocidental Viktor Yushchenko.
Foto: Reuters/T. Makeyeva
2005
Um ano mais tarde, o novo Presidente, Viktor Yushchenko, promete retirar a Ucrânia da órbita de Moscovo e conduzi-la em direção à NATO e União Europeia. Durante a sua campanha em 2004, Yushchenko sofreu uma tentativa de assassinato por envenenamento que o deixou desfigurado. Desde então, fez uma recuperação física total.
Foto: picture-alliance/dpa/Sputnik/A. Vitvitsky
2008
Na cimeira de Bucareste, a NATO concorda em iniciar o processo de adesão da Ucrânia e da Geórgia. "Acordámos hoje que estes países se tornarão membros da NATO", lê-se na declaração da cimeira. Na mesma cimeira, o Presidente russo, Vladimir Putin (na foto), avisou que as relações com o Ocidente dependeriam do respeito pelos interesses do seu país.
Foto: Vladimir Rodionov/dpa/picture-alliance
2010
Viktor Yanukovich derrota Yulia Tymoshenko nas presidenciais e torna-se chefe de Estado. As eleições foram consideradas justas por observadores internacionais. Uma semana antes da assinatura do acordo com a UE, Yanukovich suspende o processo e anuncia que a Ucrânia prefere juntar-se à Rússia na União Aduaneira Eurasiática.
Foto: Reuters
2013 e 2014
A decisão de Yanukovich gera uma onda de protestos de apoiantes da integração europeia. O movimento chamado "Euromaidan", por centrar as manifestações na Praça Maidan, em Kiev, tornam-se violentos. Dezenas de manifestantes são mortos, mas o Presidente acaba por ser retirado do Governo, exilando-se na Rússia.
Foto: Tomas Rafa
2014 - anexação da Crimeia
Em março, a Rússia anexa a península da Crimeia, no sudeste da Ucrânia.
Em abril, separatistas com apoio de Moscovo declaram a independência das "repúblicas" de Luhansk e de Donetsk, na região oriental ucraniana do Donbass, iniciando uma guerra que provoca 14 mil mortos em oito anos.
Foto: Imago Images
2019
O ex-ator e comediante Volodymyr Zelensky é eleito Presidente da República em 21 de abril e promete pôr fim ao conflito no leste da Ucrânia. Em 2021, apela ao novo Presidente dos Estados Unidos da América, Joe Biden, para apoiar a adesão da Ucrânia possa à NATO, colocando o país em novamente nos trilhos rumo à Europa.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Sivkov
2021 - Março até Novembro
O Governo russo estaciona tropas perto da fronteira da Ucrânia, alegando treinos miltares.
A Ucrânia acusa Putin de ter concentrado 100 mil tropas e armamento pesado nas suas fronteiras, o que motiva um pedido de explicação dos EUA ao Kremlin. Putin acusa o Ocidente de exacerbar tensões "entregando armas modernas a Kiev e conduzindo exercícios militares provocatórios" no Mar Negro.
Foto: Maxar Technologies via REUTERS
2021 - Dezembro
Biden adverte que a Rússia será alvo de sanções económicas duras se invadir a Ucrânia.
Moscovo divulga as suas exigências ao Ocidente: tratados a proibir a adesão da Ucrânia e da Geórgia à NATO, o estabelecimento de bases militares no leste e a retirada de tropas aliadas da Roménia e da Bulgária, num regresso à situação anterior a 1997.
Foto: Brendan Smialowski/AFP
2022 - 10 de Fevereiro
Tropas russas e bielorrussas iniciam dez dias de exercícios de combate próximo da fronteira da Bielorrússia com a Ucrânia. A presença destas tropas gera mais preocupação na comunidade internacional, que vê os exercícios como um posicionamento estratégico das tropas russas, dando-lhes mais um ponto de entrada na Ucrânia.
Foto: Alexander Zemlianichenko/AP Photo/picture alliance
2022 - 21 de Fevereiro
Os líderes das autoproclamadas repúblicas populares de Donetsk e Luhansk pedem a Putin para as reconhecer como Estados independentes. Putin assina os decretos em que a Rússia reconhece a independência das regiões e ordena ao exército russo que envie uma missão de "manutenção da paz" para os territórios no leste da Ucrânia.
A NATO acusa Moscovo de fabricar um pretexto para invadir a Ucrânia.
Foto: Alexei Alexandrov/AP Photo/picture alliance
2022 - 22 de Fevereiro
Zelensky pede ao Ocidente "medidas de apoio claras e eficazes", assegura que os ucranianos "não vão ceder uma única parcela do país" e responsabiliza a Rússia por tudo o que acontecer.
Olaf Scholz, chanceler da Alemanha, diz que tomou medidas para interromper a certificação do gasoduto Nord Stream 2, numa decisão saudada pela UE e pelos EUA.
Foto: Clemens Bilan/Getty Images
2022 - 24 de Fevereiro
Tropas russas entram na Ucrânia e muitos locais são atingidos por mísseis. Vladimir Putin pronuncia um discurso no qual afirma que apenas alvos militares serão atingidos. Mas relatos de civis feridos e vídeos de ataques em zonas urbanas enchem as redes sociais. Várias baixas são reportadas nas primeiras horas do conflito.
Foto: Ukrainian President s Office/Zuma/imago images
2022 - 24 de Fevereiro
Edifícios residenciais civis atingidos durante a operação militar do Kremlin contra a Ucrânia. Relatos, vídeos e pedidos de ajuda surgem nas redes sociais, expondo vários cenários em que zonas urbanas e civis foram apanhados na destruição dos ataques militares.
Foto: UMIT BEKTAS/REUTERS
2022 - 24 de fevereiro
Muitas pessoas utilizaram as estações de metro em Kiev como abrigo durante a operação militar do Kremlin. As sirenes contra ataques aéreos soaram pela primeira vez desde a 2ª Guerra Mundial. As estações encheram-se de pessoas à procura de guarida.
Foto: Zoya Shu/AP/dpa/picture alliance
2022 - 24 de Fevereiro
Protestos contra a iniciativa militar do Kremlin surgem em vários países, incluindo na Rússia. Na foto, uma manifestante russa é detida pela polícia enquanto segura um cartaz que diz "Não à guerra!".