Ucrânia: África na disputa entre Ocidente e Rússia
Delfim Anacleto
25 de fevereiro de 2023
A invasão da Rússia à Ucrânia completou um ano. Enquanto a guerra prossegue na Europa e, aparentemente, sem um desfecho à vista, África transformou-se num campo de batalha diplomática entre o Ocidente e a Rússia.
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O ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, já teve três viagens a África. A última das quais foi em janeiro passado, tendo escalado Angola, África do Sul e eSwatini.
Vários chefes de Estado e de Governo europeus também visitaram no ano passado o continente africano. Um dos exemplos foi a visita do chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell. O que estaria na origem dessa apetência pelo continente africano pelos países direta ou indiretamente envolvidos no conflito em curso na Europa?
O especialista em Relações Internacionais, Wilker Dias, aponta a busca de fontes alternativas de fornecimento de energia para fazer face à crise energética que se vive na Europeu, com o corte de fornecimento do gás russo, como uma das hipóteses da corrida do ocidente a África.
Guerra na Ucrânia: Qual a perspetiva africana?
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"A Europa está em busca de outros mercados e a África tem esse potencial todo, embora ainda não exista um grande investimento nesta matéria, fora o caso de Moçambique, mas tem todas essas componentes que podem, de certa forma, serem extremamente importantes. Então, toda esta corrida dá-se necessariamente pelos recursos existenciais em África", avalia.
Interesse da Rússia em África
Por outro lado, de acordo com Wilker Dias, a Rússia estaria à procura de uma expansão militar no continente.
"Temos vários países ao nível de África que passam por situações de grandes conflitos e nada mais nada menos que uma potência como a Rússia, que tem um histórico e experiência militar com o continente africano para poder exercer essa influência armamentista. Se num país como o Mali, que está em guerra já há bastante tempo, consegue implementar a paz através da sua intervenção armada é uma mais valia", explica o especialista em Relações Internacionais.
O que está a Rússia a fazer no Sahel?
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O analista de política internacional André Thomashausen, da Universidade da África do Sul, acrescenta que o continente africano representa mais de um bilião de pessoas, "um decimo da população mundial e é o continente que tem o território maior neste planeta e tem a maior parte dos recursos dos recursos mineiros".
"A África tem a sua importância. O apoio do continente africano, por exemplo, na Assembleia das Nações Unidas é importante e ninguém está com indiferença para com este continente", considera Thomashausen.
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E África?
O analista Wilker Dias diz que a África poderá tirar maior proveito dessa apetência do Ocidente e da Rússia ao continente, mas alerta que seria necessário líderes comprometidos e com uma planificação muito bem estruturada.
"São vários os recursos que a África tem e se conseguir negociar a exploração desses recursos, [envolvendo] também componente de formação educacional em termos de exploração dos recursos existentes, através de acordos de cooperação, poderíamos de certa forma ganhar um certo conhecimento para o desenvolvimento das nossas economias", conclui.
Rússia - Ucrânia: Uma cronologia das relações que levaram a guerra à Europa
Ao invadir a Ucrânia, o Presidente Vladimir Putin foi acusado pelos países ocidentais de provocar uma guerra na Europa. Veja aqui a cronologia dos acontecimentos que levaram à guerra entre a Rússia e a Ucrânia.
Foto: UMIT BEKTAS/REUTERS
2004
O candidato pró-Rússia, Viktor Yanukovich (na foto), é declarado Presidente, mas alegações de fraude eleitoral provocam um movimento de protesto. Conhecida como a Revolução Laranja, a iniciativa força uma nova votação, que resulta na eleição do pró-ocidental Viktor Yushchenko.
Foto: Reuters/T. Makeyeva
2005
Um ano mais tarde, o novo Presidente, Viktor Yushchenko, promete retirar a Ucrânia da órbita de Moscovo e conduzi-la em direção à NATO e União Europeia. Durante a sua campanha em 2004, Yushchenko sofreu uma tentativa de assassinato por envenenamento que o deixou desfigurado. Desde então, fez uma recuperação física total.
Foto: picture-alliance/dpa/Sputnik/A. Vitvitsky
2008
Na cimeira de Bucareste, a NATO concorda em iniciar o processo de adesão da Ucrânia e da Geórgia. "Acordámos hoje que estes países se tornarão membros da NATO", lê-se na declaração da cimeira. Na mesma cimeira, o Presidente russo, Vladimir Putin (na foto), avisou que as relações com o Ocidente dependeriam do respeito pelos interesses do seu país.
Foto: Vladimir Rodionov/dpa/picture-alliance
2010
Viktor Yanukovich derrota Yulia Tymoshenko nas presidenciais e torna-se chefe de Estado. As eleições foram consideradas justas por observadores internacionais. Uma semana antes da assinatura do acordo com a UE, Yanukovich suspende o processo e anuncia que a Ucrânia prefere juntar-se à Rússia na União Aduaneira Eurasiática.
Foto: Reuters
2013 e 2014
A decisão de Yanukovich gera uma onda de protestos de apoiantes da integração europeia. O movimento chamado "Euromaidan", por centrar as manifestações na Praça Maidan, em Kiev, tornam-se violentos. Dezenas de manifestantes são mortos, mas o Presidente acaba por ser retirado do Governo, exilando-se na Rússia.
Foto: Tomas Rafa
2014 - anexação da Crimeia
Em março, a Rússia anexa a península da Crimeia, no sudeste da Ucrânia.
Em abril, separatistas com apoio de Moscovo declaram a independência das "repúblicas" de Luhansk e de Donetsk, na região oriental ucraniana do Donbass, iniciando uma guerra que provoca 14 mil mortos em oito anos.
Foto: Imago Images
2019
O ex-ator e comediante Volodymyr Zelensky é eleito Presidente da República em 21 de abril e promete pôr fim ao conflito no leste da Ucrânia. Em 2021, apela ao novo Presidente dos Estados Unidos da América, Joe Biden, para apoiar a adesão da Ucrânia possa à NATO, colocando o país em novamente nos trilhos rumo à Europa.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Sivkov
2021 - Março até Novembro
O Governo russo estaciona tropas perto da fronteira da Ucrânia, alegando treinos miltares.
A Ucrânia acusa Putin de ter concentrado 100 mil tropas e armamento pesado nas suas fronteiras, o que motiva um pedido de explicação dos EUA ao Kremlin. Putin acusa o Ocidente de exacerbar tensões "entregando armas modernas a Kiev e conduzindo exercícios militares provocatórios" no Mar Negro.
Foto: Maxar Technologies via REUTERS
2021 - Dezembro
Biden adverte que a Rússia será alvo de sanções económicas duras se invadir a Ucrânia.
Moscovo divulga as suas exigências ao Ocidente: tratados a proibir a adesão da Ucrânia e da Geórgia à NATO, o estabelecimento de bases militares no leste e a retirada de tropas aliadas da Roménia e da Bulgária, num regresso à situação anterior a 1997.
Foto: Brendan Smialowski/AFP
2022 - 10 de Fevereiro
Tropas russas e bielorrussas iniciam dez dias de exercícios de combate próximo da fronteira da Bielorrússia com a Ucrânia. A presença destas tropas gera mais preocupação na comunidade internacional, que vê os exercícios como um posicionamento estratégico das tropas russas, dando-lhes mais um ponto de entrada na Ucrânia.
Foto: Alexander Zemlianichenko/AP Photo/picture alliance
2022 - 21 de Fevereiro
Os líderes das autoproclamadas repúblicas populares de Donetsk e Luhansk pedem a Putin para as reconhecer como Estados independentes. Putin assina os decretos em que a Rússia reconhece a independência das regiões e ordena ao exército russo que envie uma missão de "manutenção da paz" para os territórios no leste da Ucrânia.
A NATO acusa Moscovo de fabricar um pretexto para invadir a Ucrânia.
Foto: Alexei Alexandrov/AP Photo/picture alliance
2022 - 22 de Fevereiro
Zelensky pede ao Ocidente "medidas de apoio claras e eficazes", assegura que os ucranianos "não vão ceder uma única parcela do país" e responsabiliza a Rússia por tudo o que acontecer.
Olaf Scholz, chanceler da Alemanha, diz que tomou medidas para interromper a certificação do gasoduto Nord Stream 2, numa decisão saudada pela UE e pelos EUA.
Foto: Clemens Bilan/Getty Images
2022 - 24 de Fevereiro
Tropas russas entram na Ucrânia e muitos locais são atingidos por mísseis. Vladimir Putin pronuncia um discurso no qual afirma que apenas alvos militares serão atingidos. Mas relatos de civis feridos e vídeos de ataques em zonas urbanas enchem as redes sociais. Várias baixas são reportadas nas primeiras horas do conflito.
Foto: Ukrainian President s Office/Zuma/imago images
2022 - 24 de Fevereiro
Edifícios residenciais civis atingidos durante a operação militar do Kremlin contra a Ucrânia. Relatos, vídeos e pedidos de ajuda surgem nas redes sociais, expondo vários cenários em que zonas urbanas e civis foram apanhados na destruição dos ataques militares.
Foto: UMIT BEKTAS/REUTERS
2022 - 24 de fevereiro
Muitas pessoas utilizaram as estações de metro em Kiev como abrigo durante a operação militar do Kremlin. As sirenes contra ataques aéreos soaram pela primeira vez desde a 2ª Guerra Mundial. As estações encheram-se de pessoas à procura de guarida.
Foto: Zoya Shu/AP/dpa/picture alliance
2022 - 24 de Fevereiro
Protestos contra a iniciativa militar do Kremlin surgem em vários países, incluindo na Rússia. Na foto, uma manifestante russa é detida pela polícia enquanto segura um cartaz que diz "Não à guerra!".