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Ucrânia: A vida numa maternidade em tempo de guerra

John Marshall (Kiev)
15 de março de 2022

Quando as sirenes de ataque aéreo tocam, as mães descem para um bunker improvisado nesta maternidade na capital ucraniana, Kiev. No meio da destruição, as jovens mães encontram uma pequena esperança.

Foto: John Marshall/DW

Aproveitando uma breve pausa na guerra, três jovens mães mostram-se felizes por terem saído da cave e estarem numa grande sala quente, na enfermaria, a segurar os seus bebés. Por todo o lado, há sinais da invasão russa, a meros 20 quilómetros de distância desta maternidade em Kiev.

As cortinas das janelas foram fechadas e as luzes apagadas, para garantir que o que acontece dentro da enfermaria permanece escondido dos aviões russos. Mesmo as maternidades têm sido alvo dos bombardeamentos russos, como aconteceu na cidade de Mariupol, onde pelo menos três pessoas foram mortas recentemente, incluindo uma criança.

"O som das sirenes e a fuga é mais difícil de suportar quando não se está sozinho e se é responsável por uma criança", diz Alina, que deu à luz a sua filha Vasilisa a 8 de março.

A cave desta maternidade no centro de Kiev é agora um bunkerFoto: John Marshall/DW

Alina, que é de Irpin, um subúrbio de Kiev, quis ir para o hospital de lá para dar à luz, mas ouviu dizer que tinha sido destruído. Ela e o marido decidiram partir para Kiev a 3 de março. Depois de uma viagem de 10 horas, contornando tanques e tiros, conseguiram chegar à capital ucraniana.

"A minha filha tornou-se numa lutadora", afirma Alina.

Cuidar dos recém-nascidos e das mães

"Os bebés comportam-se e choram normalmente, como se não houvesse guerra", diz a Dra. Olena Yarashchuk, vice-diretora desta maternidade. "Para nós, o mais desafiante é cuidar das mães", acrescenta.

Isso significa garantir que estão a salvo dos bombardeamentos e dos ataques aéreos russos.

"Quando lemos a notícia de que uma maternidade foi bombardeada em Mariupol e vemos todas estas imagens terríveis, não há muito mais a fazer do que ficarmos atentos a quaisquer sirenes", afirma Alina.

Assim, quando as sirenes de ataque aéreo tocam e os bombardeamentos ecoam por toda a capital, dirigem-se para a cave da maternidade, que serve agora de bunker, onde as mulheres podem dar à luz ou levar os seus bebés, para ficarem mais seguros.

O maior desafio é assegurar o bem-estar das jovens mãesFoto: Evgeniy Maloletka/AP Photo/picture alliance

Um espaço improvisado mas seguro

"Quando algo deste género acontece, concentramo-nos no nosso filho, no nascimento, em nós próprios. Só depois é que se começa a pensar no resto", diz Natalia, que fez uma cesariana no bunker. "Pelo menos, estás protegida na cave", acrescentou. Tal como Alina, Natalia não quis revelar o seu nome completo.

Além do intenso brilho fluorescente, a cave é escura, tem tectos baixos e camas encostadas às paredes dos corredores. É quente, mas não aconchega.

Num longo corredor foi improvisada uma sala de emergência, que tem tudo o que é necessário, incluindo uma incubadora para bebés com problemas de saúde. Não importa que haja gesso por toda a parede ou um colchão no chão. O que importa é que possa ser utilizado eficazmente.

"Podemos dar à luz aqui, podemos fazer operações aqui, pode ser utilizado para cuidados intensivos", diz Yarashchuk, que trabalha na maternidade há mais de 20 anos.

Apesar de improvisado, o bunker reúne as condições necessárias para garantir a segurança dos recém-nascidos e das suas mães Foto: Mathias Bölinger/DW

Yarashchuk não nos consegue dar números exatos, mas salienta que há muito menos pacientes agora do que antes da guerra. Normalmente, as mulheres ficam três dias. Agora, algumas partem cinco horas depois de terem dado à luz.

Vida nova e esperança renovada

Com menos doentes e mais espaço, muitos médicos e as suas famílias passaram a ocupar alguns quartos na maternidade. Sempre que há uma ameaça, também eles se dirigem para a cave.

Yarashchuk mudou a sua família para a maternidade depois da casa do seu vizinho ter sido atingida por uma bomba russa. Faz o melhor que pode para afastar o medo, dizendo a toda a gente que a Ucrânia "vai prevalecer e vencer a guerra".

De acordo com Yarashchuk, a maternidade ainda tem todos os medicamentos e material que necessita para prestar cuidados de saúde. Ela tenta olhar para o lado positivo da situação. O diretor da maternidade, o Dr. Dmytro Hovsyeyev, vê as coisas da mesma maneira.

"As pessoas vêm e trazem pão e doces. Nem sequer dizem quem são, apenas vêm e deixam essas coisas no posto de segurança, para aqueles que cuidam das jovens mães. Isto dá-me esperança. Acho que as pessoas que se comportam desta maneira não podem ser subjugadas."

A abordagem otimista e a determinação em prestar os cuidados que os pacientes necessitam tem claramente um efeito positivo nas três jovens mães. Depois de tudo o que passaram e do que está para vir, os seus olhos brilham ao avistarem os seus bebés.

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