Alemanha e Itália reiteraram hoje o seu apoio à Ucrânia, incluindo no fornecimento de armas para combater a invasão russa. Ucrânia celebra hoje os 31 anos da independência, no dia em que se assinala seis meses de guerra.
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As autoridades ucranianas disseram que explosões atingiram várias cidades hoje de madrugada, incluindo Kharkiv (nordeste), Zaporijia e Dnipro (centro). "Vamos continuar a entregar armas e a treinar soldados ucranianos em equipamento europeu de ponta", disse o chanceler alemão, Olaf Scholz, numa mensagem divulgada na rede social Twitter.
O Governo alemão anunciou, na terça-feira (23.08), que vai entregar novas armas à Ucrânia no valor de 500 milhões de euros, parte das quais em 2023. Os novos fornecimentos incluem sistemas de defesa antiaérea Iris-T, tanques e lançadores móveis de foguetes, munições e dispositivos antidrones (aeronaves não tripuladas).
"Continuaremos as nossas sanções, daremos apoio financeiro à Ucrânia e ajudaremos a reconstruir cidades e aldeias destruídas", assegurou Scholz, citado pela agência francesa AFP.
Scholz reiterou a sua intenção, anunciada na terça-feira, de organizar "no final de outubro, em Berlim, uma conferência internacional sobre a reconstrução" da Ucrânia. "A Alemanha apoia firmemente a Ucrânia hoje e enquanto a Ucrânia precisar do nosso apoio", disse.
Apelos ao fim da guerra
O primeiro-ministro em exercício de Itália, Mario Draghi, e o Presidente da República, Sergio Mattarella, também expressaram apoio à Ucrânia e apelaram para o fim da guerra.
O Governo italiano "continuará a fornecer apoio político, financeiro, militar e humanitário", disse Draghi numa mensagem citada pela agência espanhola EFE.
O objetivo, referiu, é que a Ucrânia se possa defender da agressão russa e "alcançar uma paz duradoura, em termos que considere aceitáveis".
Draghi também agradeceu o empenho de Kiev no desbloqueio das exportações de cereais através do Mar Negro, que considerou "um primeiro passo importante para garantir a segurança alimentar global".
O acordo sobre os cereais foi celebrado no final de julho, entre a Ucrânia, a Rússia, a Turquia e as Nações Unidas. Desde 1 de agosto, dezenas de navios transportaram centenas de milhares de toneladas de cereais ucranianos para vários destinos no mundo, através de uma rota de segurança predefinida.
Sanções impostas à Rússia com mais impactos na Europa?
08:30
Receios de escassez alimentar
O receio de uma situação de escassez alimentar a nível global é uma das consequências da guerra entre a Ucrânia e a Rússia.
Em conjunto, segundo a revista britânica The Economist, os dois países fornecem 28% do trigo consumido no mundo, 29% da cevada, 15% do milho e 75% do óleo de girassol.
Numa mensagem também citada pela EFE, o chefe de Estado italiano, Sergio Mattarella, apelou ao fim imediato da hostilidades para ser possível negociar uma "solução pacífica, justa, equitativa e sustentável para a Ucrânia".
A Rússia invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro, para "desmilitarizar e desnazificar" o país vizinho, desconhecendo-se o custo dos primeiros seis meses de guerra em vidas humanas.
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Estimativas de baixas
As duas partes têm anunciado baixas que infligem uma à outra, na ordem das dezenas de milhares, evitando mencionar as perdas próprias.
No entanto, na segunda-feira (22.08), o chefe militar da Ucrânia, general Valeri Zaluzhnyi, admitiu a morte de cerca de 9.000 soldados ucranianos.
O último balanço referido pela Rússia data de 25 de março, quando Moscovo admitiu 1.341 mortos e 3.825 feridos entre as suas forças.
As estimativas ocidentais de mortos russos variam entre mais de 15.000 e mais de 20.000, mais do que as baixas da União Soviética durante os seus 10 anos de guerra no Afeganistão.
As baixas civis também estão por contabilizar, mas a ONU já confirmou a morte de mais de 5.500 pessoas, alertando, porém, que o balanço será consideravelmente superior.
A guerra também gerou cerca de 12 milhões de refugiados e deslocados internos, segundo a ONU. A Escola de Economia de Kiev avaliou os prejuízos materiais até agora em 113.500 milhões de dólares (mais de 114.200 milhões de euros, ao câmbio de hoje).
Rússia - Ucrânia: Uma cronologia das relações que levaram a guerra à Europa
Ao invadir a Ucrânia, o Presidente Vladimir Putin foi acusado pelos países ocidentais de provocar uma guerra na Europa. Veja aqui a cronologia dos acontecimentos que levaram à guerra entre a Rússia e a Ucrânia.
Foto: UMIT BEKTAS/REUTERS
2004
O candidato pró-Rússia, Viktor Yanukovich (na foto), é declarado Presidente, mas alegações de fraude eleitoral provocam um movimento de protesto. Conhecida como a Revolução Laranja, a iniciativa força uma nova votação, que resulta na eleição do pró-ocidental Viktor Yushchenko.
Foto: Reuters/T. Makeyeva
2005
Um ano mais tarde, o novo Presidente, Viktor Yushchenko, promete retirar a Ucrânia da órbita de Moscovo e conduzi-la em direção à NATO e União Europeia. Durante a sua campanha em 2004, Yushchenko sofreu uma tentativa de assassinato por envenenamento que o deixou desfigurado. Desde então, fez uma recuperação física total.
Foto: picture-alliance/dpa/Sputnik/A. Vitvitsky
2008
Na cimeira de Bucareste, a NATO concorda em iniciar o processo de adesão da Ucrânia e da Geórgia. "Acordámos hoje que estes países se tornarão membros da NATO", lê-se na declaração da cimeira. Na mesma cimeira, o Presidente russo, Vladimir Putin (na foto), avisou que as relações com o Ocidente dependeriam do respeito pelos interesses do seu país.
Foto: Vladimir Rodionov/dpa/picture-alliance
2010
Viktor Yanukovich derrota Yulia Tymoshenko nas presidenciais e torna-se chefe de Estado. As eleições foram consideradas justas por observadores internacionais. Uma semana antes da assinatura do acordo com a UE, Yanukovich suspende o processo e anuncia que a Ucrânia prefere juntar-se à Rússia na União Aduaneira Eurasiática.
Foto: Reuters
2013 e 2014
A decisão de Yanukovich gera uma onda de protestos de apoiantes da integração europeia. O movimento chamado "Euromaidan", por centrar as manifestações na Praça Maidan, em Kiev, tornam-se violentos. Dezenas de manifestantes são mortos, mas o Presidente acaba por ser retirado do Governo, exilando-se na Rússia.
Foto: Tomas Rafa
2014 - anexação da Crimeia
Em março, a Rússia anexa a península da Crimeia, no sudeste da Ucrânia.
Em abril, separatistas com apoio de Moscovo declaram a independência das "repúblicas" de Luhansk e de Donetsk, na região oriental ucraniana do Donbass, iniciando uma guerra que provoca 14 mil mortos em oito anos.
Foto: Imago Images
2019
O ex-ator e comediante Volodymyr Zelensky é eleito Presidente da República em 21 de abril e promete pôr fim ao conflito no leste da Ucrânia. Em 2021, apela ao novo Presidente dos Estados Unidos da América, Joe Biden, para apoiar a adesão da Ucrânia possa à NATO, colocando o país em novamente nos trilhos rumo à Europa.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Sivkov
2021 - Março até Novembro
O Governo russo estaciona tropas perto da fronteira da Ucrânia, alegando treinos miltares.
A Ucrânia acusa Putin de ter concentrado 100 mil tropas e armamento pesado nas suas fronteiras, o que motiva um pedido de explicação dos EUA ao Kremlin. Putin acusa o Ocidente de exacerbar tensões "entregando armas modernas a Kiev e conduzindo exercícios militares provocatórios" no Mar Negro.
Foto: Maxar Technologies via REUTERS
2021 - Dezembro
Biden adverte que a Rússia será alvo de sanções económicas duras se invadir a Ucrânia.
Moscovo divulga as suas exigências ao Ocidente: tratados a proibir a adesão da Ucrânia e da Geórgia à NATO, o estabelecimento de bases militares no leste e a retirada de tropas aliadas da Roménia e da Bulgária, num regresso à situação anterior a 1997.
Foto: Brendan Smialowski/AFP
2022 - 10 de Fevereiro
Tropas russas e bielorrussas iniciam dez dias de exercícios de combate próximo da fronteira da Bielorrússia com a Ucrânia. A presença destas tropas gera mais preocupação na comunidade internacional, que vê os exercícios como um posicionamento estratégico das tropas russas, dando-lhes mais um ponto de entrada na Ucrânia.
Foto: Alexander Zemlianichenko/AP Photo/picture alliance
2022 - 21 de Fevereiro
Os líderes das autoproclamadas repúblicas populares de Donetsk e Luhansk pedem a Putin para as reconhecer como Estados independentes. Putin assina os decretos em que a Rússia reconhece a independência das regiões e ordena ao exército russo que envie uma missão de "manutenção da paz" para os territórios no leste da Ucrânia.
A NATO acusa Moscovo de fabricar um pretexto para invadir a Ucrânia.
Foto: Alexei Alexandrov/AP Photo/picture alliance
2022 - 22 de Fevereiro
Zelensky pede ao Ocidente "medidas de apoio claras e eficazes", assegura que os ucranianos "não vão ceder uma única parcela do país" e responsabiliza a Rússia por tudo o que acontecer.
Olaf Scholz, chanceler da Alemanha, diz que tomou medidas para interromper a certificação do gasoduto Nord Stream 2, numa decisão saudada pela UE e pelos EUA.
Foto: Clemens Bilan/Getty Images
2022 - 24 de Fevereiro
Tropas russas entram na Ucrânia e muitos locais são atingidos por mísseis. Vladimir Putin pronuncia um discurso no qual afirma que apenas alvos militares serão atingidos. Mas relatos de civis feridos e vídeos de ataques em zonas urbanas enchem as redes sociais. Várias baixas são reportadas nas primeiras horas do conflito.
Foto: Ukrainian President s Office/Zuma/imago images
2022 - 24 de Fevereiro
Edifícios residenciais civis atingidos durante a operação militar do Kremlin contra a Ucrânia. Relatos, vídeos e pedidos de ajuda surgem nas redes sociais, expondo vários cenários em que zonas urbanas e civis foram apanhados na destruição dos ataques militares.
Foto: UMIT BEKTAS/REUTERS
2022 - 24 de fevereiro
Muitas pessoas utilizaram as estações de metro em Kiev como abrigo durante a operação militar do Kremlin. As sirenes contra ataques aéreos soaram pela primeira vez desde a 2ª Guerra Mundial. As estações encheram-se de pessoas à procura de guarida.
Foto: Zoya Shu/AP/dpa/picture alliance
2022 - 24 de Fevereiro
Protestos contra a iniciativa militar do Kremlin surgem em vários países, incluindo na Rússia. Na foto, uma manifestante russa é detida pela polícia enquanto segura um cartaz que diz "Não à guerra!".