"Não chegaram nenhuns apoios" de Luanda, dizem angolanos
António Cascais
1 de março de 2022
Perto de 100 angolanos, na sua maioria estudantes universitários, já conseguiram saír da Ucrânia, mas negam ter recebido qualquer apoio do Governo em Luanda.
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O presidente da Associação dos Angolanos na Ucrânia, Manuel de Assuncão, garantiu à DW que a sua organização conseguiu retirar da zona de conflito na Ucrânia cerca de 90 cidadãos angolanos e de outras nacionalidades, sem receber qualquer apoio do Estado angolano. O jovem angolano, enquanto transitava num táxi, transportando mais cidadãos africanos de território ucraniano para território polaco, disse: "Uhryniw é a fronteira que liga Lwiw e a Polónia".
O líder da associação dos angolanos reitera a determinação de continuar o processo de retirada dos compatriotas até que último angolano abandone o país. Conta que há seis dias que os estudantes angolanos lutam sozinhos.
"Uma luta, desde o primeiro dia! Chegamos à cidade que faz fronteira e pegámos os taxis, foram para a foronteira, foram 2 horas e meia, mas a fronteira estava congestionada e deixaram-nos a 30 km da fronteira, tivemos que caminhar a pé 30 km", conta.
Confiar apenas na interajuda
Assunção revela que na fronteira "as pessoas ficaram expostas a uma grande confusão a noite toda. Houve desmaios, houve casos de racismo... Mas no dia seguinte mudámos a lógica de entrada na Polónia e descobrimos uma embaixada alternativa."
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O jovem diz que, nestes momentos, apenas se pode confiar a solidariedade e interajuda entre os cidadãos afetados.
"Nós saímos por meios próprios. Cada um foi pegando no seu valor. Pagámos os taxis do nosso próprio bolso. Os estudantes foram ajudando uns aos outros", conta.
Note-se que a agência LUSA referia num artigo publicado no domingo (28.02) que a Embaixada de Angola na Polónia está a proceder desde sábado (27.02) ao acolhimento e retirada dos estudantes angolanos "que o desejarem" no posto fronteiriço de Korczowa-Krokowets, aconselhando-os a fazerem-se acompanhar dos respetivos documentos de viagem.
Angolanos negam apoio do Governo
A DW contactou nesta terça-feira (01.03) a Embaixada de Angola em Varsóvia, para saber que tipo de apoio os serviços consulares estão a prestar aos seus cidadãos. Mas a representação diplomática, no entanto, não deu as explicações desejadas, avisando que "qualquer informação sobre a matéria deverá ser transmitida pelo Ministério das Relações Exteriores da República de Angola."
A DW tentou durante a tarde desta terça-feira (01.03) e por várias vias entrar em contacto com o gabinete de imprensa do Ministério angolano das Relações Exteriores em Luanda, mas sem sucesso.
Manuel Assunção reafirma que as notícias de que o Governo angolano terá apoiado financeiramente a retida dos angolanos da Ucrânia, não correspondem à verdade.
"Pedimos apoio, mas não chegaram nenhuns apoios. Mas era urgente. Aqui tem guerra de verdade. Neste momento as cidades da Ucrânia estão ameaçadas. E todo o mundo quer saír daqui."
Rússia - Ucrânia: Uma cronologia das relações que levaram a guerra à Europa
Ao invadir a Ucrânia, o Presidente Vladimir Putin foi acusado pelos países ocidentais de provocar uma guerra na Europa. Veja aqui a cronologia dos acontecimentos que levaram à guerra entre a Rússia e a Ucrânia.
Foto: UMIT BEKTAS/REUTERS
2004
O candidato pró-Rússia, Viktor Yanukovich (na foto), é declarado Presidente, mas alegações de fraude eleitoral provocam um movimento de protesto. Conhecida como a Revolução Laranja, a iniciativa força uma nova votação, que resulta na eleição do pró-ocidental Viktor Yushchenko.
Foto: Reuters/T. Makeyeva
2005
Um ano mais tarde, o novo Presidente, Viktor Yushchenko, promete retirar a Ucrânia da órbita de Moscovo e conduzi-la em direção à NATO e União Europeia. Durante a sua campanha em 2004, Yushchenko sofreu uma tentativa de assassinato por envenenamento que o deixou desfigurado. Desde então, fez uma recuperação física total.
Foto: picture-alliance/dpa/Sputnik/A. Vitvitsky
2008
Na cimeira de Bucareste, a NATO concorda em iniciar o processo de adesão da Ucrânia e da Geórgia. "Acordámos hoje que estes países se tornarão membros da NATO", lê-se na declaração da cimeira. Na mesma cimeira, o Presidente russo, Vladimir Putin (na foto), avisou que as relações com o Ocidente dependeriam do respeito pelos interesses do seu país.
Foto: Vladimir Rodionov/dpa/picture-alliance
2010
Viktor Yanukovich derrota Yulia Tymoshenko nas presidenciais e torna-se chefe de Estado. As eleições foram consideradas justas por observadores internacionais. Uma semana antes da assinatura do acordo com a UE, Yanukovich suspende o processo e anuncia que a Ucrânia prefere juntar-se à Rússia na União Aduaneira Eurasiática.
Foto: Reuters
2013 e 2014
A decisão de Yanukovich gera uma onda de protestos de apoiantes da integração europeia. O movimento chamado "Euromaidan", por centrar as manifestações na Praça Maidan, em Kiev, tornam-se violentos. Dezenas de manifestantes são mortos, mas o Presidente acaba por ser retirado do Governo, exilando-se na Rússia.
Foto: Tomas Rafa
2014 - anexação da Crimeia
Em março, a Rússia anexa a península da Crimeia, no sudeste da Ucrânia.
Em abril, separatistas com apoio de Moscovo declaram a independência das "repúblicas" de Luhansk e de Donetsk, na região oriental ucraniana do Donbass, iniciando uma guerra que provoca 14 mil mortos em oito anos.
Foto: Imago Images
2019
O ex-ator e comediante Volodymyr Zelensky é eleito Presidente da República em 21 de abril e promete pôr fim ao conflito no leste da Ucrânia. Em 2021, apela ao novo Presidente dos Estados Unidos da América, Joe Biden, para apoiar a adesão da Ucrânia possa à NATO, colocando o país em novamente nos trilhos rumo à Europa.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Sivkov
2021 - Março até Novembro
O Governo russo estaciona tropas perto da fronteira da Ucrânia, alegando treinos miltares.
A Ucrânia acusa Putin de ter concentrado 100 mil tropas e armamento pesado nas suas fronteiras, o que motiva um pedido de explicação dos EUA ao Kremlin. Putin acusa o Ocidente de exacerbar tensões "entregando armas modernas a Kiev e conduzindo exercícios militares provocatórios" no Mar Negro.
Foto: Maxar Technologies via REUTERS
2021 - Dezembro
Biden adverte que a Rússia será alvo de sanções económicas duras se invadir a Ucrânia.
Moscovo divulga as suas exigências ao Ocidente: tratados a proibir a adesão da Ucrânia e da Geórgia à NATO, o estabelecimento de bases militares no leste e a retirada de tropas aliadas da Roménia e da Bulgária, num regresso à situação anterior a 1997.
Foto: Brendan Smialowski/AFP
2022 - 10 de Fevereiro
Tropas russas e bielorrussas iniciam dez dias de exercícios de combate próximo da fronteira da Bielorrússia com a Ucrânia. A presença destas tropas gera mais preocupação na comunidade internacional, que vê os exercícios como um posicionamento estratégico das tropas russas, dando-lhes mais um ponto de entrada na Ucrânia.
Foto: Alexander Zemlianichenko/AP Photo/picture alliance
2022 - 21 de Fevereiro
Os líderes das autoproclamadas repúblicas populares de Donetsk e Luhansk pedem a Putin para as reconhecer como Estados independentes. Putin assina os decretos em que a Rússia reconhece a independência das regiões e ordena ao exército russo que envie uma missão de "manutenção da paz" para os territórios no leste da Ucrânia.
A NATO acusa Moscovo de fabricar um pretexto para invadir a Ucrânia.
Foto: Alexei Alexandrov/AP Photo/picture alliance
2022 - 22 de Fevereiro
Zelensky pede ao Ocidente "medidas de apoio claras e eficazes", assegura que os ucranianos "não vão ceder uma única parcela do país" e responsabiliza a Rússia por tudo o que acontecer.
Olaf Scholz, chanceler da Alemanha, diz que tomou medidas para interromper a certificação do gasoduto Nord Stream 2, numa decisão saudada pela UE e pelos EUA.
Foto: Clemens Bilan/Getty Images
2022 - 24 de Fevereiro
Tropas russas entram na Ucrânia e muitos locais são atingidos por mísseis. Vladimir Putin pronuncia um discurso no qual afirma que apenas alvos militares serão atingidos. Mas relatos de civis feridos e vídeos de ataques em zonas urbanas enchem as redes sociais. Várias baixas são reportadas nas primeiras horas do conflito.
Foto: Ukrainian President s Office/Zuma/imago images
2022 - 24 de Fevereiro
Edifícios residenciais civis atingidos durante a operação militar do Kremlin contra a Ucrânia. Relatos, vídeos e pedidos de ajuda surgem nas redes sociais, expondo vários cenários em que zonas urbanas e civis foram apanhados na destruição dos ataques militares.
Foto: UMIT BEKTAS/REUTERS
2022 - 24 de fevereiro
Muitas pessoas utilizaram as estações de metro em Kiev como abrigo durante a operação militar do Kremlin. As sirenes contra ataques aéreos soaram pela primeira vez desde a 2ª Guerra Mundial. As estações encheram-se de pessoas à procura de guarida.
Foto: Zoya Shu/AP/dpa/picture alliance
2022 - 24 de Fevereiro
Protestos contra a iniciativa militar do Kremlin surgem em vários países, incluindo na Rússia. Na foto, uma manifestante russa é detida pela polícia enquanto segura um cartaz que diz "Não à guerra!".