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Ucrânia: Combates intensos nos arredores de Kiev

Lusa | cvt
23 de março de 2022

Com mais ataques em Kiev, Volodymyr Zelensky apela ao Parlamento francês pela entrada da Ucrânia na UE. A Comissão Europeia prometeu ajuda alimentar. Já em Moscovo, o ministro das Finanças demitiu-se e deixou a Rússia.

Ukraine Krieg mit Russland Kiew
Homem e criança a fugir de Irpin, esta quarta-feira (23.03)Foto: Aris Messinis/Getty Images/AFP

O Presidente da Ucrânia dirigiu-se esta quarta-feira (23.03) por meio de vídeo ao Parlamento da França. Volodymyr Zelensky apelou para que se busquem meios de convencer a Rússia por um acordo de paz e pediu apoio ao desejo de Kiev de entrar na União Europeia.

"Gostaria de fazer uma pergunta a vocês. Como parar a guerra? Como instaurar a paz na Ucrânia? Porque a maioria das perguntas e respostas vêm das mãos de vocês", diz o chefe de Estado ucraniano no vídeo.

Assim como fez em mensagens dirigidas aos Parlamentos de outros países, Zelensky pediu que os países europeus façam mais para frear a crise atual no Leste Europeu.

Embora tenha agradecido pelo apoio da França, não deixou de afirmar que "as empresas do país devem deixar a Rússia" e deixar de financiar a invasão.

Entretanto, o chefe de Estado ucraniano reconheceu a "liderança constante" do Presidente francês, Emmanuel Macron, pela busca da paz.

Ursula von der LeyenFoto: Ludovic Marin/AFP/Getty Images

"Pior inimigo do povo russo"

Já em Bruxelas, a presidente da Comissão Europeia, a alemã Ursula von der Leyen, declarou que o Presidente russo, Vladimir Putin, está a asfixiar economicamente o povo russo.

"Putin se tornou também o pior inimigo do povo russo", disse Von der Leyen ao Parlamento Europeu, acrescentando que as sanções da UE contra a Rússia, desde o congelamento de ativos e reservas até a expulsão da maioria dos bancos russos do sistema de transferências Swift, estão sufocando a economia russa.

As taxas de juro subiram 20% e as agências de classificação de risco colocaram a dívida soberana na categoria "lixo", acrescentou a política alemã, que frisou que a União Europeia tomou medidas que visam "o fracasso estratégico de Putin".

"Além disso, Putin está bloqueando centenas de navios carregados com trigo no mar Negro. As consequências serão sentidas no Líbano, Egito e Tunísia até a África Central ou o Extremo Oriente. Peço a Putin para que deixe esses navios navegarem. Caso contrário, ele não será apenas responsável pelas mortes na guerra, mas também pela fome ", exclamou.

Von der Leyen frisou que a UE concordou em gastar 2,5 bilhões de euros até 2024 para ajudar regiões de todo o mundo a combater a insegurança alimentar.

Sobre os hidrocarbonetos, defendeu o plano da Comissão para reduzir a dependência da UE do gás russo em dois terços, no prazo de um ano.

Na quinta-feira (24.03), Von der Leyen encontra-se, em Bruxelas, com o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, para discutir formas de aumentar as exportações americanas de gás natural liquefeito para a UE.

Volodymyr Selensky dirigiu-se hoje ao Parlamento francêsFoto: Francois Mori/AP Photo/picture alliance

NATO preocupada com armas químicas

Também em Bruxelas, o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, afirmou em cúpula de líderes dos países que integram a aliança, que espera um acordo para garantir apoio à Ucrânia, diante de "ameaças químicas, biológicas, radiológicas e nucleares".

"Amanhã, espero que os aliados concordem em oferecer apoio adicional, incluindo assistência para segurança cibernética, assim como equipamento para ajudar a Ucrânia a se proteger contra ameaças químicas, biológicas, radiológicas e nucleares", disse o político norueguês, em entrevista coletiva.

Stoltenberg garantiu que a aliança está preocupada pela possibilidade de uso destes tipos de armas.

"Também vemos, não só a retórica nuclear do lado russo, mas também afirmações falsas de que a Ucrânia, apoiada por aliados da NATO, está a produzir e se preparar para o uso de armas químicas. Isso é uma acusação absolutamente falsa", garantiu.

Para o secretário-geral, as declarações de Moscovo podem ser apenas uma forma de criar "um pretexto" para o uso de armas químicas pela Rússia contra a Ucrânia.

Mais cedo, o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, também afirmou que existe possibilidade de a Rússia utilizar armas químicas na Ucrânia.

"Acredito que há uma ameaça real", disse o chefe de Governo.

A NATO calculou hoje que entre 7.000 e 15.000 soldados russos foram mortos em quatro semanas de guerra na Ucrânia, onde os defensores locais demonstraram resistência superior à esperada e impediram que Moscovo atingisse diversos objetivos. 

Antigo ministro das Finanças deixa a Rússia

Entretanto, em Moscovo, o representante presidencial russo para o desenvolvimento sustentável, o reformador liberal Anatoli Chubais, renunciou hoje ao cargo e abandonou o país, noticiou a agência noticiosa TASS. 

"É verdade. Anatoli deixou o cargo", disse fonte próxima do outrora ministro das Finanças e vice-primeiro-ministro russo.

Outra fonte afirmou à agência russa que Chubais abandonou a Rússia: "Renunciou e foi embora", referiu.

De acordo com o diário russo Kommersant, Chubais foi visto na terça-feira em Istambul. 

A renúncia do famoso economista foi confirmada também pelo porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.

"Assim é. Chubais deixou o cargo por iniciativa própria. Se partiu ou não, esse é um assunto pessoal seu", acrescentou Peskov à agência Interfax.

Anatoly ChubaisFoto: AP

264 civis mortos em Kiev

Enquanto isso, na Ucrânia, o presidente da câmara de Kiev indicou hoje que as forças russas mataram 264 civis, incluindo quatro crianças, na capital da Ucrânia desde o início da guerra, a 24 de fevereiro.

Segundo Vitali Klitschko, estão a ser travados combates na zona de Liutij, uma aldeia 30 quilómetros a norte de Kiev, e a capital continua a ser um objetivo do exército russo, mas este tem estado nas últimas semanas bloqueado a noroeste e a leste da cidade, e teve de recuar nos últimos dias em várias dessas frentes.

O autarca indicou que, por exemplo, as forças ucranianas recuperaram o controlo de zonas a noroeste e a nordeste da cidade, incluindo a maior parte de Irpin, e que a cidade ocidental de Makariv também foi recuperada.

Entretanto, uma agência noticiosa ucraniana referiu um possível cerco das forças russas a Irpin, Busha e Gostomel, localidades a noroeste de Kiev.

As zonas de Irpin e de Liutij foram hoje palco de intensos combates de artilharia, com forte atividade na frente junto a Irpin, onde continua interdito acesso da imprensa, após a morte de vários jornalistas na área.

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