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Ucrânia: Jornalista russa detida após gritar "não à guerra"

gcs | com agências
15 de março de 2022

A imagem correu o mundo. Uma jornalista do maior canal de televisão russo interrompeu o noticiário, empunhando um cartaz contra a guerra na Ucrânia. Presidente ucraniano elogiou a coragem. Ataques continuam no país.

Foto: Axel Heimken/dpa/picture alliance

"No war" – não à guerra – era uma das frases escritas em letras garrafais no cartaz de Marina Ovsyannikova, em que estavam também pintadas as bandeiras da Ucrânia e da Rússia. "Não acreditem na propaganda", "estão a mentir-vos", podia ler-se ainda em russo.

Na segunda-feira (14.03) à noite, a editora do "Canal Um" interrompeu o noticiário televisivo, o mais visto na Rússia, segurando o cartaz e gritando "não à guerra!", "parem a guerra!".

Na Rússia, usar o termo "guerra" para descrever o conflito na Ucrânia é ilegal, de acordo com uma lei de 4 de março, que proíbe a disseminação de notícias falsas e desinformação. Moscovo refere-se à invasão da Ucrânia como "operação especial" para "desmilitarizar" o país. Os prevaricadores incorrem numa pena de até 15 anos de prisão.

Segundo dados da União Europeia, mais de 14 mil cidadãos foram detidos "em mais de 140 cidades" russas por se oporem à guerra. Devido ao conflito, o bloco impôs duras sanções à Rússia.

"Estou envergonhada"

Marina Ovsyannikova foi detida após o protesto. Numa mensagem de vídeo pré-gravada, a jornalista disse que o seu pai é ucraniano e a sua mãe russa, e "nunca foram inimigos". Referiu ainda que, nos últimos anos, tem ajudado a "disseminar propaganda do Kremlin".

"Agora, estou bastante envergonhada por isso. Estou envergonhada por permitir que mentiras fossem ditas no televisor, envergonhada por ter permitido que os cidadãos russos fossem 'zombificados'", acrescentou.

Ovsyannikova acusa o Presidente russo, Vladimir Putin, de ser o responsável pela guerraFoto: Twitter /dpa/picture alliance

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, classificou o incidente de "hooliganismo".

"O Canal Um, tal como os nossos apresentadores, é um símbolo de informação de alta qualidade, atempada e objetiva", acrescentou.

A emissora estatal anunciou que está a investigar o caso.

A partir de Kiev, o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, elogiou Ovsyannikova, prestando também homenagem a todos aqueles que, na Rússia, se têm chegado à frente para denunciar a invasão russa à Ucrânia.

"Estou bastante grato aos cidadãos russos que não cessam de tentar dizer a verdade", disse Zelensky, "e pessoalmente à mulher que entrou no estúdio do Canal Um com um poster contra a guerra."

O Presidente francês, Emmanuel Macron, prometeu discutir com o homólogo russo, Vladimir Putin, proteção especial para a jornalista, "seja na embaixada ou através de asilo".

Bombeiros combatem incêndio em Kiev após bombardeamento russo a 15 de marçoFoto: Efrem Lukatsky/AP Photo/picture alliance

Combates continuam

Em torno de Kiev, o Exército ucraniano continua a combater as tropas russas. De madrugada, bombardeamentos russos atingiram bairros residenciais na cidade. Dezenas de pessoas morreram.

O presidente da Câmara de Kiev, Vitaly Klitschko, anunciou um recolher obrigatório de 35 horas, a partir das 20h00 desta terça-feira (hora local).

"Estamos perante um momento difícil e perigoso", alertou Klitschko. "Peço a todos os residentes de Kiev que se preparem para terem de ficar em casa durante dois dias ou, caso soe o alarme, para procurarem um abrigo."

A maioria dos residentes deixou a cidade à procura de locais mais seguros. A guerra no país já levou à fuga de mais de 4,5 milhões de pessoas. Metade delas procurou refúgio em países vizinhos, sobretudo na Polónia.

Os primeiros-ministros da Polónia, República Checa e Eslovénia estão a caminho de Kiev para se encontrarem com o chefe de Estado ucraniano e o primeiro-ministro Denys Shmyhal.

O objetivo da visita, segundo o Governo polaco, é "confirmar o apoio inequívoco de toda a União Europeia à soberania e independência da Ucrânia e apresentar um pacote de ajuda abrangente".

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