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Mais sanções para Moscovo após "crimes de guerra" em Busha

mjp | gcs | com agências
4 de abril de 2022

UE e EUA vão voltar a sancionar a Rússia após "massacre" em cidade ucraniana. Volodymyr Zelensky promete que "crimes de guerra" russos serão "reconhecidos como genocídio". Moscovo nega e denuncia bloqueio na ONU.

Ukraine | Leichen auf der Straße in Bucha
Foto: RONALDO SCHEMIDT/AFP

"Horror", "choque", um "murro no estômago". São palavras que estão a ser usadas para descrever as imagens de Busha, que mostram dezenas de corpos nas ruas ou em valas comuns. As autoridades ucranianas denunciaram a descoberta de mais de 400 corpos nas ruas da cidade, nos arredores de Kiev, o que, segundo o ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Dmitro Kuleba, "é o pior massacre na Europa desde a Segunda Guerra Mundial".

O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirmou esta segunda-feira (04.04) em Busha que os "crimes de guerra" alegadamente cometidos por forças militares russas serão "reconhecidos como um genocídio". Falando à imprensa numa das ruas onde foram encontrados dezenas de cadáveres, Zelensky enfatizou a importância de "levar este caso à justiça internacional".

Também o presidente da Câmara de Kiev, Vitali Klitschko, esteve no local: "Não é um filme, é uma realidade horrível. Vemos civis com as mãos atadas atrás das costas. Não percebo como é que alguém pode fazer isto. Mas estou convencido de que há muitas cenas como estas noutras cidades ucranianas. Os agressores têm de pagar caro pelas vidas de milhares de ucranianos".

Esta tarde, os serviços militares ucranianos divulgaram na sua página oficial da internet os dados pessoais de 1.600 soldados russos que atuaram em Busha, mostrando os seus nomes, apelidos, datas de nascimento e patentes militares. 

Volodymyr Zelensky falou aos jornalistas em Bucha, esta segunda-feiraFoto: Metin Aktas/AA/picture alliance

Rússia denuncia "encenação" e bloqueio na ONU

O Kremlin rejeita categoricamente a participação dos seus militares em massacres e nega as acusações de "genocídio". O Ministério da Defesa russo assegurou no domingo (03.04) que as imagens publicadas pelo Governo ucraniano não correspondem à realidade.

O chefe da diplomacia russa, Sergei Lavrov, fala numa encenação: "Depois de o Exército russo ter saído dali, de acordo com os planos e acordos alcançados, houve uma encenação uns dias depois, que agora está a ser promovida em todos os canais e nas redes sociais por representantes ucranianos e pelos seus patrocinadores", acusou.

Moscovo convocou uma reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas "à luz das provocações atrozes dos radicais ucranianos em Busha", mas o pedido foi rejeitado pelo Reino Unido, que detém a presidência rotativa do órgão. Agora, a Rússia acusa o Reino Unido de tentar silenciar Moscovo.

O pedido da Rússia juntou-se ao da Ucrânia para analisar o que aconteceu em Busha numa outra reunião marcada para terça-feira, quando o mais alto órgão decisório da ONU já tinha agendado uma reunião sobre a guerra.

Numa mensagem nas redes sociais, a embaixadora britânica, Barbara Woodward, defendeu que o país não vai permitir que a Rússia "abuse" da posição no Conselho de Segurança, no qual tem assento permanente, para promover "mentiras e propaganda". Woodward confirmou que o suposto massacre de Busha e as outras "evidências crescentes de crimes de guerra" serão discutidos na sessão de terça-feira.

Mas o vice-embaixador da Rússia, Dmitry Polyanskiy, acusou Londres de usar "pretextos processuais infundados" para "diluir" o debate solicitado por Moscovo numa reunião maior. "Claramente eles querem impedir-nos de levantar a questão separadamente, o que causaria danos à reputação de países ocidentais que já culparam a Rússia por matar civis em Busha. Isso não vai funcionar e o mundo precisa de saber a verdade", argumentou, através das redes sociais.

Ucrânia no Conselho de Segurança da ONU.Foto: Tayfun Coskun/AA/picture alliance

Investigações e sanções

Na tarde desta segunda-feira, o Presidente norte-americano, Joe Biden, pediu um julgamento por crimes de guerra contra o seu homólogo russo, Vladimir Putin, e afirmou que procurará reforçar sanções, após os relatos de atrocidades russas na cidade ucraniana. "[Putin] é um criminoso de guerra", disse Biden.

Horas antes, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciava que a União Europeia vai enviar investigadores à Ucrânia para ajudar o procurador-geral local a "documentar crimes de guerra".

Na Alemanha, o chanceler Olaf Scholz assegurou que Moscovo vai pagar e em cima da mesa estarão mais sanções. Já depois desta garantia, o Governo alemão declarou 40 diplomatas russos da embaixada de Berlim "persona non grata", instando-os a deixar o país, informou a ministra dos Negócios Estrangeiros, Annalena Baerbock.

De acordo com um comunicado da diplomacia alemã, os diplomatas russos visados são pessoas que "trabalham dia a dia contra a nossa liberdade e contra a nossa coesão social". A Alemanha teme que "imagens semelhantes tenham sido captadas noutras cidades ocupadas por tropas russas".

A Lituânia também já tinha anunciado a expulsão do embaixador da Rússia e o encerramento do consulado russo na cidade lituana de Klaipeda, em resposta às ações militares de Moscovo na Ucrânia.

A ministra da Defesa alemã anunciou "outras reações", que serão acordadas com os seus parceiros, aludindo ao reforço das sanções que a União Europeia (UE) previsivelmente vai adotar. Baerbock também diz concordar com o apoio do reforço de tropas no flanco leste da NATO.

Joe Biden na Casa Branca, esta segunda-feiraFoto: Patrick Semansky/AP/picture alliance

Ainda a hesitação no gás

Enquanto isso, a Gazprom anunciou que planeia fornecer 108.3 milhões de metros cúbicos de gás à Europa esta segunda-feira, aparentemente não afetada pela deterioração da situação na Ucrânia e pelo impasse sobre a exigência de Moscovo de que o gás seja pago em rublos.

O número anunciado pela empresa estatal russa aproxima-se do pico dos limites contratuais. No domingo, a Gazprom enviou 108.4 milhões de metros cúbicos de gás para países europeus. As elevadas taxas de fornecimento devem-se, em parte, ao aumento da procura na Europa, devido a uma súbita vaga de frio que levou ao aumento inesperado do aquecimento das casas para esta altura do ano.

O fornecimento de gás continua a ser a excepção nas sanções adotadas pela Europa contra a Rússia. A Ucrânia reforçou o apelo a um embargo às importações de gás russo após o massacre de Busha. No entanto, os países europeus recusam uma suspensão imediata.

O ministro alemão da Economia, Robert Habeck, afirmou  que a Alemanha está a trabalhar numa "estratégia para acabar com a dependência do gás, carvão e petróleo russo - mas não de imediato". Já o ministro austríaco das Finanças, Magnus Brunner disse à entrada para uma reunião do Eurogrupo que as sanções só fazem sentido se tiverem um impacto maior no alvo do que no lado que impõe a medida.

A Comissão Europeia, no entanto, não exclui a hipótese de um embargo. Também a Itália já se mostrou disponível para tomar medidas mais agressivas contra Moscovo no setor da energia.

Até agora, a Alemanha rejeitou a possibilidade de um embargo total às importações de gás, petróleo ou carvão russos, apesar da forte pressão de parceiros como a Polónia ou os países bálticos, para dar esse passo. A ministra alemã da Defesa, Christine Lambrecht, entretanto, disse que a UE tem de começar a pensar em fechar a torneira ao gás russo.

Pode surgir de África a solução à crise do gás na Europa?

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