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Ucrânia: Soldados estrangeiros condenados à morte

Emmanuelle Chaze
1 de julho de 2022

Três estrangeiros que lutavam pelo Exército ucraniano foram condenados à morte pelos separatistas pró-Rússia, que os acusam de serem mercenários. A DW falou com amigos e familiares de um prisioneiro de Marrocos.

Ukraine Aiden Aslin, Shaun Pinner und Brahim Saadoun im Gerichtsaal in Donetsk
Foto: AP/picture alliance

Enquanto as forças da Rússia e da Ucrânia lutam em Donbass, as pessoas que vivem na região estão a ser governadas por autoridades separatistas pró-Rússia. Na região, três estrangeiros que lutavam do lado do Exército ucraniano foram condenados à morte, acusados de agir como mercenários.

Brahim Sa'adoune é um dos homens que pode enfrentar a pena de morte brevemente. O Tribunal Europeu dos Direitos do Homem assumiu o caso de Brahim e apelou ao Governo russo para não executar a pena.

De Marrocos para a linha da frente 

Brahim Sa'adoune partiu para a linha da frente com o urso de peluche de infância amarrado ao kit militar.

Foi de Marrocos para a Ucrânia para estudar ciências aeroespaciais. Mas em novembro passado, trocou o visto de estudante por um visto militar e juntou-se ao Exército. Foi uma surpresa para os amigos, diz Muiz Avghonzoda.

"Eu era contra! Um dos principais argumentos que ele me deu foi o facto de se sentir meio inútil. Por isso, queria fazer algo de útil e descobrir-se a si próprio", comenta Avghonzoda em entrevista à DW.

Jovem de nacionalidade marroquina decidiu juntar-se ao Exército ucraniano para se "sentir útil"Foto: SUPREME COURT OF DONETSK/REUTERS

Brahim não serviu no Exército durante muito tempo: Lutou em Mariupol e rendeu-se às forças russas juntamente com mais de mil companheiros de luta, em abril.

Mas as autoridades separatistas não o trataram como um prisioneiro de guerra ucraniano. Argumentaram que ele era um mercenário estrangeiro e julgaram-no, juntamente com dois soldados britânicos. Foram os primeiros combatentes estrangeiros a serem julgados desde o início da guerra. No início de junho, os três foram condenados à pena de morte.

"Estamos a lidar com um grupo terrorista"

As autoridades ucranianas e organizações da sociedade civil estão contra a sentença.

Olexandr Pavlichenko, diretor da organização não-governamental União dos Direitos Humanos de Helsínquia da Ucrânia, sublinha que o tribunal separatista de Donbass não é reconhecido por Kiev, nem pela comunidade internacional.

"É um espetáculo de propaganda. Em primeiro lugar, o problema está na instituição: O chamado 'tribunal', que dá este veredito. A pena de morte não é aplicável, nem está prevista em território ucraniano. Esta ação deve ser condenada e severamente punida a nível nacional e internacional. Estamos a lidar com um grande grupo terrorista apoiado por um Estado terrorista", contesta.

Três cidadãos estrangeiros foram condenados à morte. Para Olexandr Pavlichenko, diretor da ONG União dos Direitos Humanos de Helsínquia, trata-se de terrorismoFoto: AP/picture alliance

Para a família de Brahim, o julgamento e a sentença de morte foram "um choque". A família queixa-se de não ter recebido qualquer apoio das autoridades de Marrocos.

"Quando vi o vídeo do meu irmão preso, tentei contactar a embaixada marroquina, e eles responderam-me: o que querem que façamos? Contactei também muitas outras autoridades, e de repente ninguém nos podia ajudar. Senti que as autoridades tinham medo de falar sobre isso, e talvez tenham. Estavam a tentar manter o assunto em silêncio, como se não existisse", explica Imane Sa'adoune, irmã de Brahim.

Campanha para salvar Brahim

Os amigos de Brahim também pediram ajuda a diferentes autoridades, sem sucesso. Por isso, resolveram lançar uma campanha nas redes sociais, e começaram a divulgá-la também pelas ruas.

"As pessoas começaram a responder-nos com mensagens sobre a campanha 'Salvem o Brahim'", conta Muiz Avghonzoda. "E perguntavam-nos: 'o que podemos fazer para ajudar?'"

O amigo e a família de Brahim colocam toda a sua esperança no apoio que têm recebido do público, que tem aderido à campanha. Enquanto os separatistas permanecem no comando em Donbass, é a única coisa que podem fazer.

Para além de assumir o caso de Brahim, o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos emitiu medidas provisórias para impedir a aplicação da pena de morte aos dois cidadãos britânicos.

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