Ucrânia: Terceira ronda de negociações termina sem consenso
gcs | rl | com agências
7 de março de 2022
Volta a não haver entendimento entre Ucrânia e Rússia quanto a um cessar-fogo. Kiev diz haver "resultados positivos" sobre corredores humanitários, mas Moscovo afirma que terceira ronda não "correspondeu às expetativas".
Publicidade
A terceira ronda de negociações entre russos e ucranianos, que teve lugar, esta segunda-feira (07.03), terminou, segundo Kiev, com "alguns resultados positivos" na questão dos corredores humanitários.
"Alcançámos alguns resultados positivos no que diz respeito à logística dos corredores humanitários", escreveu Mykhailo Podoliak, membro da delegação ucraniana, na sua conta do Twitter. "Serão feitas mudanças e será dada uma ajuda mais eficaz às pessoas que sofrem com a agressão da Federação Russa", acrescentou.
Sobre outras questões fundamentais, como as relativas a um cessar-fogo, "continuarão os diálogos intensivos", referiu o representante ucraniano, lamentando que, nestes pontos, "até ao momento não haja resultados que possam melhorar a situação".
O chefe da delegação russa, Vladimir Medinsky, considerou, por seu turno, que esta terceira ronda de conversações "não correspondeu às expectativas" de Moscovo.
"Esperamos que da próxima vez possamos fazer avanços maiores", disse numa conferência de imprensa transmitida pelo canal de televisão estatal russo Rossia 24.
Refugiados angolanos na Polónia alegam ajuda insuficiente
01:54
Sobre os corredores humanitários, Vladimir Medinsky voltou a dizer que a responsabilidade de não estarem a funcionar é de Kiev, afirmando que espera que comecem a funcionar na terça-feira.
"Dissemos claramente que esperamos que amanhã [terça-feira] estes corredores comecem finalmente a funcionar. O lado ucraniano deu-nos garantias disso", afirmou o chefe da delegação russa, citado pela agência de notícias Interfax.
Antes do início das negociações, que decorreram na Bielorrússia, perto da fronteira polaca, Vladimir Medinsky tinha dito que os negociadores iam discutir três blocos de questões, nomeadamente, a "resolução da política interna, aspetos humanitários internacionais e a resolução de questões militares".
China como mediador?
A China disse estar disponível para mediar as conversações de paz entre a Rússia e a Ucrânia. A ideia já foi saudada pelo chefe da diplomacia da União Europeia, que exortou ainda o seu homólogo chinês a "apoiar a criação de corredores humanitários, a fim de permitir a retirada da população civil".
Josep Borrell e o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Yi, falaram ao telefone esta segunda-feira pela segunda vez desde o início da invasão russa da Ucrânia.
Também em declarações esta segunda-feira, a vice-secretária de Estado dos Estados Unidos, Wendy Sherman, afirmou que a China tem agora a oportunidade de mostrar que apoia os princípios da Carta das Nações Unidas no que diz respeito à soberania e integridade territorial da Ucrânia.
"A China disse há muito tempo que acredita na soberania, na integridade territorial, no direito dos países de tomar as suas próprias decisões. Nós ouvimo-los dizer isso e agora eles podem prová-lo, conseguindo" fazer com que Vladimir Putin pare com a guerra.
Publicidade
Situação em Mariupol
Ao 12º dia da invasão russa à Ucrânia, continua o cerco à cidade portuária de Mariupol, no sul da Ucrânia. Dezenas de milhares de pessoas estão encurraladas, sem água, comida, eletricidade e medicamentos. Duas tentativas de evacuação falharam.
O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, acusou a Rússia de estar a fazer com que cidades como Mariupol "passem fome".
"É vergonhoso. O mundo está a dizer à Rússia para parar estes ataques imediatamente, para deixar entrar medicamentos e comida, deixar as pessoas sair de forma segura e acabar com esta guerra propositada contra a Ucrânia", acrescentou.
A Ucrânia recusou a criação de corredores humanitários que tivessem como destino a Rússia ou a Bielorrússia. Em vez disso, Kiev pediu a criação de oito corredores humanitários – incluindo de Mariupol – que permitam aos cidadãos ir para o lado ocidental da Ucrânia, onde não tem havido bombardeamentos russos.
Entretanto, o Presidente Volodymyr Zelensky fez mais um apelo aos parceiros europeus. Desta vez, para que fechem a torneira do petróleo e do gás russo: "Quando alguém perde a cabeça, temos de perder o medo e esquecer o comércio. Temos de nos defender. Estados e empresas têm de atuar moralmente", disse.
No entanto, o chanceler alemão, Olaf Scholz, já fez saber que, para já, não pode dispensar a energia russa, "essencial" à vida diária dos cidadãos na Europa.
Também esta segunda-feira, e após novas conversações, Alemanha, Estados Unidos, França e Reino Unido emitiram um comunicado conjunto no qual dizem apoiar "todos os esforços diplomáticos" para superar a crise na Ucrânia.
A proteção da população civil tem "a máxima prioridade", afirma o texto, onde a Rússia é novamente instada a "cessar imediatamente" o seu ataque "ilegítimo" à Ucrânia e a retirar completamente as suas tropas do país.
Rússia - Ucrânia: Uma cronologia das relações que levaram a guerra à Europa
Ao invadir a Ucrânia, o Presidente Vladimir Putin foi acusado pelos países ocidentais de provocar uma guerra na Europa. Veja aqui a cronologia dos acontecimentos que levaram à guerra entre a Rússia e a Ucrânia.
Foto: UMIT BEKTAS/REUTERS
2004
O candidato pró-Rússia, Viktor Yanukovich (na foto), é declarado Presidente, mas alegações de fraude eleitoral provocam um movimento de protesto. Conhecida como a Revolução Laranja, a iniciativa força uma nova votação, que resulta na eleição do pró-ocidental Viktor Yushchenko.
Foto: Reuters/T. Makeyeva
2005
Um ano mais tarde, o novo Presidente, Viktor Yushchenko, promete retirar a Ucrânia da órbita de Moscovo e conduzi-la em direção à NATO e União Europeia. Durante a sua campanha em 2004, Yushchenko sofreu uma tentativa de assassinato por envenenamento que o deixou desfigurado. Desde então, fez uma recuperação física total.
Foto: picture-alliance/dpa/Sputnik/A. Vitvitsky
2008
Na cimeira de Bucareste, a NATO concorda em iniciar o processo de adesão da Ucrânia e da Geórgia. "Acordámos hoje que estes países se tornarão membros da NATO", lê-se na declaração da cimeira. Na mesma cimeira, o Presidente russo, Vladimir Putin (na foto), avisou que as relações com o Ocidente dependeriam do respeito pelos interesses do seu país.
Foto: Vladimir Rodionov/dpa/picture-alliance
2010
Viktor Yanukovich derrota Yulia Tymoshenko nas presidenciais e torna-se chefe de Estado. As eleições foram consideradas justas por observadores internacionais. Uma semana antes da assinatura do acordo com a UE, Yanukovich suspende o processo e anuncia que a Ucrânia prefere juntar-se à Rússia na União Aduaneira Eurasiática.
Foto: Reuters
2013 e 2014
A decisão de Yanukovich gera uma onda de protestos de apoiantes da integração europeia. O movimento chamado "Euromaidan", por centrar as manifestações na Praça Maidan, em Kiev, tornam-se violentos. Dezenas de manifestantes são mortos, mas o Presidente acaba por ser retirado do Governo, exilando-se na Rússia.
Foto: Tomas Rafa
2014 - anexação da Crimeia
Em março, a Rússia anexa a península da Crimeia, no sudeste da Ucrânia.
Em abril, separatistas com apoio de Moscovo declaram a independência das "repúblicas" de Luhansk e de Donetsk, na região oriental ucraniana do Donbass, iniciando uma guerra que provoca 14 mil mortos em oito anos.
Foto: Imago Images
2019
O ex-ator e comediante Volodymyr Zelensky é eleito Presidente da República em 21 de abril e promete pôr fim ao conflito no leste da Ucrânia. Em 2021, apela ao novo Presidente dos Estados Unidos da América, Joe Biden, para apoiar a adesão da Ucrânia possa à NATO, colocando o país em novamente nos trilhos rumo à Europa.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Sivkov
2021 - Março até Novembro
O Governo russo estaciona tropas perto da fronteira da Ucrânia, alegando treinos miltares.
A Ucrânia acusa Putin de ter concentrado 100 mil tropas e armamento pesado nas suas fronteiras, o que motiva um pedido de explicação dos EUA ao Kremlin. Putin acusa o Ocidente de exacerbar tensões "entregando armas modernas a Kiev e conduzindo exercícios militares provocatórios" no Mar Negro.
Foto: Maxar Technologies via REUTERS
2021 - Dezembro
Biden adverte que a Rússia será alvo de sanções económicas duras se invadir a Ucrânia.
Moscovo divulga as suas exigências ao Ocidente: tratados a proibir a adesão da Ucrânia e da Geórgia à NATO, o estabelecimento de bases militares no leste e a retirada de tropas aliadas da Roménia e da Bulgária, num regresso à situação anterior a 1997.
Foto: Brendan Smialowski/AFP
2022 - 10 de Fevereiro
Tropas russas e bielorrussas iniciam dez dias de exercícios de combate próximo da fronteira da Bielorrússia com a Ucrânia. A presença destas tropas gera mais preocupação na comunidade internacional, que vê os exercícios como um posicionamento estratégico das tropas russas, dando-lhes mais um ponto de entrada na Ucrânia.
Foto: Alexander Zemlianichenko/AP Photo/picture alliance
2022 - 21 de Fevereiro
Os líderes das autoproclamadas repúblicas populares de Donetsk e Luhansk pedem a Putin para as reconhecer como Estados independentes. Putin assina os decretos em que a Rússia reconhece a independência das regiões e ordena ao exército russo que envie uma missão de "manutenção da paz" para os territórios no leste da Ucrânia.
A NATO acusa Moscovo de fabricar um pretexto para invadir a Ucrânia.
Foto: Alexei Alexandrov/AP Photo/picture alliance
2022 - 22 de Fevereiro
Zelensky pede ao Ocidente "medidas de apoio claras e eficazes", assegura que os ucranianos "não vão ceder uma única parcela do país" e responsabiliza a Rússia por tudo o que acontecer.
Olaf Scholz, chanceler da Alemanha, diz que tomou medidas para interromper a certificação do gasoduto Nord Stream 2, numa decisão saudada pela UE e pelos EUA.
Foto: Clemens Bilan/Getty Images
2022 - 24 de Fevereiro
Tropas russas entram na Ucrânia e muitos locais são atingidos por mísseis. Vladimir Putin pronuncia um discurso no qual afirma que apenas alvos militares serão atingidos. Mas relatos de civis feridos e vídeos de ataques em zonas urbanas enchem as redes sociais. Várias baixas são reportadas nas primeiras horas do conflito.
Foto: Ukrainian President s Office/Zuma/imago images
2022 - 24 de Fevereiro
Edifícios residenciais civis atingidos durante a operação militar do Kremlin contra a Ucrânia. Relatos, vídeos e pedidos de ajuda surgem nas redes sociais, expondo vários cenários em que zonas urbanas e civis foram apanhados na destruição dos ataques militares.
Foto: UMIT BEKTAS/REUTERS
2022 - 24 de fevereiro
Muitas pessoas utilizaram as estações de metro em Kiev como abrigo durante a operação militar do Kremlin. As sirenes contra ataques aéreos soaram pela primeira vez desde a 2ª Guerra Mundial. As estações encheram-se de pessoas à procura de guarida.
Foto: Zoya Shu/AP/dpa/picture alliance
2022 - 24 de Fevereiro
Protestos contra a iniciativa militar do Kremlin surgem em vários países, incluindo na Rússia. Na foto, uma manifestante russa é detida pela polícia enquanto segura um cartaz que diz "Não à guerra!".