Zelensky pede reforma da ONU para evitar invasões russas
23 de março de 2022Numa intervenção por videoconferência no Parlamento japonês, esta quarta-feira (23.03), Zelensky considerou que "nem a ONU nem o Conselho de Segurança têm trabalhado" com eficácia para parar a guerra e disse ser necessário fazer reformas nos órgãos da Organização das Nações Unidas.
"Precisamos de uma ferramenta para garantir a segurança global de forma preemptiva. As organizações internacionais existentes não estão a trabalhar para este fim. Portanto, precisamos de desenvolver uma nova ferramenta preventiva que possa realmente impedir as invasões", disse o PR ucraniano, que ainda hoje fala ao Parlamento da França.
Zelensky afirmou que "ninguém se sentirá seguro" até que termine a guerra na Ucrânia e a paz seja restaurada. "Vamos fazer esforços para que a Rússia queira e procure a paz", disse Zelensky, pedindo ao Japão que mantenha a pressão sobre Moscovo.
A Rússia é um dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, juntamente com Estados Unidos, China, França e Reino Unido, pelo que tem poder de vetar qualquer resolução que lhe seja desfavorável, como já aconteceu desde que invadiu a Ucrânia.
Perigo nuclear e uso de armas químicas
No discurso perante o Parlamento de um país que sofreu um desastre nuclear em 2011, na central de Fukushima, Zelensky disse que a Ucrânia enfrenta o perigo de as suas instalações nucleares serem alvo de ataques.
Referiu em particular a central desativada de Chernobyl, onde ocorreu o acidente nuclear mais grave de sempre, em 1986, e que tem um depósito de detritos nucleares. "A Rússia transformou este local numa zona de guerra", disse, avisando que levará anos a avaliar os possíveis efeitos ambientais da ocupação russa de Chernobyl.
Zelensky também repetiu as alegações dos Estados Unidos de que a Rússia poderá utilizar armas químicas na Ucrânia, mas sem fornecer provas específicas, embora referindo a possibilidade de um ataque com gás sarin, usado por membros da seita Aum no metro de Tóquio, em 20 de março de 1995.
Situação humanitária
Entretanto, a situação humanitária é cada vez mais crítica na Ucrânia. Nesta quarta-feira, a ONU atualizou para 3,6 milhões o número de refugiados desde o início da guerra a 24 de fevereiro.
A ONU também confirmou a morte de 953 civis até segunda-feira, incluindo 78 crianças, mas alertou que os números reais "são consideravelmente mais elevados".
Num vídeo divulgado na madrugada de hoje pela Presidência ucraniana, Volodymyr Zelensky denunciou que os invasores russos capturaram ontem uma coluna humanitária que se dirigia à cidade de Mariupol, onde cerca de 100 mil pessoas vivem em condições "sub-humanas", "um bloqueio completo, sem comida, sem água, sem remédios, sob constante bombardeio".
O Presidente ucraniano acrescentou que há mais de uma semana tenta-se organizar corredores humanitários estáveis para os moradores de Mariupol, mas quase todas as tentativas são "frustradas pelos ocupantes russos por meio de bombardeios ou terror deliberado".
Além disso, denunciou que na terça-feira uma das colunas humanitárias foi "capturada pelos ocupantes na rota acordada perto de Mangush". Apesar de tudo, ressaltou que só ontem foram resgatados 7.266 moradores de Mariupol.
Zelensky também afirmou que seus representantes estão tentando chegar a um acordo sobre corredores humanitários nas regiões de Kiev, Kharkiv, Zaporizhia e Luhansk.
Ameaça russa
Um relatório do Ministério da Defesa britânico refere que as tropas do exército russo na Ucrânia estão provavelmente a "reorganizar-se" no norte do país antes de continuarem a ofensiva em "grande escala".
"O campo de batalha no norte da Ucrânia permanece, em grande parte, paralisado, com as forças russas provavelmente a passar por um período de reorganização antes de continuarem as suas operações ofensivas em larga escala", refere o relatório do Ministério da Defesa britânico publicado hoje na rede social Twitter.
O documento de defesa militar observa que "as forças russas estão a tentar cercar as forças ucranianas no leste do país à medida que avançam na direção de Kharkiv ao norte, e Mariupol ao sul".
Cimeira da NATO
Devido à escalada do conflito, o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, afirmou esta quarta-feira esperar que os líderes da Aliança aprovem, na cimeira que decorre na quinta-feira, "grandes aumentos" de forças no leste da Europa, com o envio de quatro grupos de combate adicionais.
O secretário-geral Aliança Atlântica afirmou que o "primeiro passo" para esse incremento consiste no "empenhamento de quatro novos grupos de combate da NATO", que serão enviados para a "Bulgária, Hungria, Roménia e Eslováquia".
Na semana passada, a Polónia pretender apresentar uma proposta na cimeira extraordinária da NATO para a criação uma missão de paz na Ucrânia. No entanto, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, alertou hoje que tal medida provocará confrontos militares entre a Rússia e a Aliança Atlântica.
Um cenário desses "implicará confrontos diretos entre as forças russas e as da NATO, algo que todos gostaríamos de evitar, pelo que avisamos desde já que isso [o envio de forças de paz] não pode acontecer", disse Lavrov durante uma palestra numa universidade em Moscovo.