UE e Reino Unido voltam a não chegar a acordo sobre Brexit
rl | Reuters | AFP | Lusa
19 de outubro de 2018
Reunidos quarta e quinta-feira, em Bruxelas, os líderes da União Europeia consideraram que não foram feitos progressos suficientes nas negociações do Brexit nem no discurso do Governo britânico. Não haverá nova cimeira.
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Para o bloco europeu, não houve mudanças substanciais no discurso do Governo britânico. Ficou assim descartada a realização de uma nova cimeira em novembro, uma vez que esta tinha como objetivo a formalização de um acordo entre as duas partes para a saída do Reino Unido do bloco comunitário.
"Concordámos que assim que existirem progressos suficientes nas negociações, iremos reunir-nos. Como todos sabemos, quanto mais cedo melhor. Mas, neste momento, é impossível prever quando este encontro terá lugar", explicou a chanceler alemã Angela Merkel.
O "divórcio" entre o Reino Unido e a União Europeia (UE) está agendado para março do próximo ano. No entanto, como explicou a primeira-ministra britânica, Theresa May, as divergências entre as duas partes são "poucas, mas consideráveis".
UE e Reino Unido voltam a não chegar a acordo sobre Brexit
Razão pela qual a governante britânica sugeriu alargar o prazo do período de transição. "Outra ideia que surgiu, e é ainda uma ideia, é estender o período de transição por alguns meses, e seria apenas uma questão de meses. Esta extensão poderia garantir que temos uma solução para a questão [da fronteira irlandesa] que, neste momento, está a impedir a conclusão de acordo."
Do lado do Conselho Europeu, o parecer foi positivo, com o presidente Donald Tusk a afirmar que, caso Londres avance com o pedido, "o prolongamento" terá luz verde.
Migração gera discórdia
Mas se no caso do Brexit os chefes de Estados da UE estão alinhados, quando se fala no problema das migrações as diferenças são visíveis. A "distribuição justa" dos migrantes pelos diferentes países europeus pela qual a chanceler Angela Merkel tanto tem lutado parece ter ficado esquecida neste encontro.
Em vez disso, a UE deve seguir o caminho da solidariedade e cada país deve contribuir com o que pode, propôs o primeiro-ministro austríaco, Sebastian Kurz.
Por sua vez, Antonio Tajani, Presidente do Parlamento Europeu, tem uma opinião muito clara: é preciso reforçar as fronteiras externas. "O problema não está dentro da UE, mas à volta. Temos de ajudar países como a Itália, Grécia, França, Espanha, Malta, Alemanha, porque para eles é muito difícil. Precisamos de mais solidariedade e cooperação. Se não concordam com a relocalização dos migrantes, então contribuam com mais dinheiro para um plano de ação para África", defende Tajani.
Ideias que parecem ter agradado o bloco já que, no final do encontro, os 28 líderes concordaram em intensificar a cooperação com África e fortalecer as fronteiras externas do bloco. Nesse sentido, anunciaram, será realizada a primeira cimeira entre os 28 Estados-membros da União Europeia e a Liga dos Estados Árabes, em fevereiro, no Egito.
Milhares de migrantes atravessam Níger rumo à Europa
São jovens oriundos da África Ocidental e fazem tudo para chegar à Europa. Estão mesmo dispostos a arriscar a vida, atravessando o deserto, rumo ao Mediterrâneo. Mas nem todos são bem sucedidos.
Foto: DW/A. Cascais
Apoio aos "menos bem sucedidos"
Em Niamey existe um centro de acolhimento da Organização Internacional para as Migrações (OIM). Aqui são acolhidos os jovens "revenants", que não conseguiram atravessar o deserto e se veem obrigados a regressar aos seus países de origem. A OIM, que faz parte do sistema das Nações Unidas, dá-lhes abrigo provisório, alimentação e apoio na obtenção de passaportes e outros documentos.
Foto: DW/
À espera do regresso a casa
Os jovens que procuram apoio no centro da OIM vêm dos mais diferentes países: Guiné-Conacri, Mali, Senegal, Gâmbia ou Guiné-Bissau, movidos sobretudo por objetivos económicos. Muitos tiraram cursos superiores, mas não arranjam trabalho. Muitas famílias apostam na emigração de pelo menos um filho. Caso esse filho seja bem sucedido poderá eventualmente apoiar economicamente o resto da família.
Foto: DW/A. Cascais
Frustrados por terem falhado a Europa
Muitos investiram todas as suas economias, pediram dinheiro a familiares e perderam tudo. Agora esperam pelo regresso aos seus países com a sensação de terem sofrido grandes derrotas pessoais. Os assistentes sociais falam de casos em que os jovens não se atrevem a voltar ao seio das suas famílias, "por sentirem vergonha". Precisam de apoio psicológico, mas esse apoio não existe.
Foto: DW/A. Cascais
Otimismo apesar das derrotas
Alguns dos migrantes sofrem lesões e contraem doenças durante a travessia do deserto, mas mesmo assim não perdem o ânimo. Em muitos casos, os jovens tentam várias vezes, ao longo da vida, atingir a terra prometida: a Europa. Muitos nunca o conseguem, mas não perdem o otimismo. Em 2016, a OIM prestou apoio a mais de 6 mil "revenants" - migrantes que não foram bem sucedidos no Níger.
Foto: DW/A. Cascais
Espancado na Líbia
Dumbya Mamadou, de 26 anos de idade, oriundo do Senegal, conseguiu atingir a Líbia, depois de uma "odisseia de 5 dias e 5 noites" pelo deserto do Níger. Mas na Líbia foi maltratado. "Os líbios apontaram-me armas e espancaram-me, não têm respeito pelo ser humano", afirma o jovem. Dumbya volta ao seu país de origem com um sentimento de derrota: "Queria estudar na Europa, agora não sei o que fazer".
Foto: DW/
Roubado no Burkina Faso
Mamadou Barry, de 21 anos, oriundo da Guiné-Conacri, tinha um sonho: aplicar em França os seus conhecimentos de marketing e os seus talentos musicais. Mas a viagem rumo à Europa correu-lhe mal. "Fui roubado no Burkina Faso, o primeiro país pelo qual passei", conta. Mesmo assim, Mamadou aprendeu uma grande lição para a vida: "coisas que nunca teria aprendido se nunca tivesse saído de Conacri".
Foto: DW/A. Cascais
Rap contra a frustração
Mamadou Barry tenta digerir as suas derrotas e decepções através da música. Há três anos que o jovem canta e interpreta temas de rap e hiphop de sua autoria. O seu último tema foi escrito em Niamey, capital do Níger, e tem a seguinte letra: "A migração arrasou-me / e ninguém me pode consolar / O Mar Mediterrâneo já matou muitos / e nós cá continuamos: sem comida, sem cama, sem saúde".
Foto: DW/
Central de autocarros de Niamey: uma placa giratória
É da estação de autocarros de Niamey que partem diariamente centenas de furgonetas, muitas delas repletas de jovens migrantes, em direção ao norte. Os migrantes tornaram-se um fator relevante para a economia do Níger. Há muita gente que ganha a sua vida prestando diversos serviços aos migrantes: viagens pelo deserto, alimentação e mesmo cuidados médicos.
Foto: DW/A. Cascais
Mais migrantes tentam atravessar deserto do Níger
O número de migrantes que viajam através dos vastos territórios desérticos do Níger para chegar ao norte da África e à Europa não pára de aumentar, tendo alcançado os 200 mil em 2016, segundo estimativas do escritório da Organização Internacional para as Migrações. Outras fontes falam de 10 mil migrantes que atravessam o Níger por semana. A situacão geográfica do Níger é o fator determinante.
Foto: DW/A. Cascais
Agadez, o "olho da agulha"
Agadez, cidade desértica no Níger, é um dos principais pontos de trânsito no Saara para os imigrantes em fuga de nações empobrecidas do oeste da África. As "máfias" do tráfico humano têm beneficiado do caos na Líbia para transportar dezenas de milhares de pessoas para o continente europeu em embarcações precárias. Os migrantes muitas vezes sofrem abusos dos passadores.