UE formalizou apoio de 7 milhões de euros disponibilizado a Cabo Verde para financiar o programa de emergência e resposta à seca e ao mau ano agrícola que afetou o país.
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O apoio da União Europeia formalizado esta terça-feira (19.12.) representa a maior fatia de financiamento do programa de emergência para a seca e o mau ano agrícola apresentado pelo Governo de Cabo Verde, estimado em 11 milhões de euros.
A formalização do apoio foi feita através da assinatura de uma adenda de reforço ao habitual apoio orçamental da União Europeia da Cabo Verde (em média 9 milhões de euros anuais), numa cerimónia em que participaram a representante da União Europeia em Cabo Verde, Sofia Moreira de Sousa, e os ministros da Agricultura e Ambiente, Gilberto Silva, e das Finanças, Olavo Correia.
Sofia Moreira de Sousa sublinhou que se trata de um "apoio de urgência" por causa das "consequências da falta de chuva e do mau ano agrícola na vida de muitos cabo-verdianos", nomeadamente nas comunidades mais desfavorecidas."Este apoio surge na sequência de um pedido formulado pelo Governo de Cabo Verde no mês de outubro. A União Europeia conseguiu excecionalmente, com uma celeridade notória, proceder a todas as burocracias e a todas as decisões necessárias afim de identificar 7 milhões de euros que serão entregues nesta ou na próxima semana ao Tesouro" de Cabo Verde, disse.
Condições para a disponibilização do apoio
Sofia Moreira de Sousa adiantou ainda que foi acordado com Cabo Verde como condições para a disponibilização do apoio, a realização de acordos com as câmaras municipais, por estarem no terreno e conhecerem quais as famílias que precisam de ajuda mais imediata, e a aceleração da reforma da gestão da água.
"É necessário também, além deste apoio de urgência, pensar, discutir e tomar medidas de médio e longo prazo que visem a mitigação dos efeitos da seca, de repensar a forma como é feita a gestão e administração da água e do solo", declarou.
O ministro da Agricultura e Ambiente de Cabo Verde, Gilberto Silva, agradeceu "o gesto de solidariedade" dos países europeus "manifestado, mais uma vez, num momento que Cabo Verde precisa"."Reunimos as condições, assinamos todos os contratos-programa com as autarquias e vamos investir pouco mais de 430 milhões de escudos (cerca de 3,8 milhões de euros), através dos municípios, na abertura de emprego público, de obras que permitam que as famílias tenham acesso a trabalho e rendimento (...) os valores vão ser muito bem empregues", assegurou.
Acrescentou que em salvamento do gado serão gastos cerca de 3,6 milhões de euros e que o remanescente dos cerca de 11 milhões de euros do programa de emergência irá para "a gestão da escassez e da qualidade da água durante o período de crise".
Esforço dos contribuintes europeus
Por seu lado, o ministro das Finanças destacou o "esforço dos contribuintes europeus" em relação a uma situação crítica no país.
"O clima ingrato [em Cabo Verde] é uma regra e não uma exceção e temos que aproveitar esta ajuda para reformarmos a agricultura, porque isto não pode ser feito numa lógica de assistencialismo ou pura transferência. Não podemos continuar a fazer agricultura sem levar em conta as condições climatéricas do país", disse Olavo Correia. "Não podemos estar, perante cada situação de mau ano agrícola ou de menos chuva a solicitar apoio da comunidade internacional. Temos que começar a poupar água, a poupar pasto, a gerir as nossas vidas e empresas em função do contexto do quadro ambiental", acrescentou.
Os 7 milhões de euros da União Europeia integram o total de 10 milhões mobilizados por Cabo Verde junto dos parceiros internacionais, onde se incluem ainda contribuições do Banco Africano de Desenvolvimento a título individual e em parceria com a FAO (2,2 milhões de euros), Luxemburgo (500 mil euros), Itália (300 mil euros) e Bélgica (170 mil euros), Espanha (50 mil euros) e Estados Unidos (42 mil euros).
A estes valores juntam-se mais 100 milhões de escudos (906 mil euros) do Orçamento de Estado para 2018 destinados a este programa.
A UE tinha já concedido ajudas de emergência a Cabo Verde, em 2014, por causa da seca, e em 2015 para apoiar a recuperação dos estragos causados pelas chuvas na ilha de Santo Antão.
Dessalinização de água com tecnologia europeia em Cabo Verde
Em Cabo Verde, as reservas naturais de água são escassas e a estação chuvosa dura apenas três meses por ano. Governo aposta na dessalinização da água do mar para abastecer a população. Mais de 55% da produção perde-se.
Foto: DW/C. Teixeira
Água fresca para os cabo-verdianos
Em Cabo Verde, a dessalinização garante água fresca para cerca de 80% da população. O país aposta no sistema de osmose inversa para produzir água doce. A Electra, Empresa Pública de Electricidade e Água, é responsável pela produção e distribuição da água dessalinizada nas ilhas de São Vicente, Sal e na Cidade da Praia. Na foto, visão parcial da central dessalinizadora da Electra na capital.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Dessalinização por osmose inversa
O processo de dessalinização por osmose inversa é uma moderna tecnologia de purificação da água que consiste em diversas etapas de filtragem. Logo após a captação, a água do mar passa pelos filtros de areia, que têm por finalidade eliminar impurezas e resíduos sólidos maiores. Na foto, os dois grandes cilindros são os filtros de areia de uma das unidades de dessalinização na Cidade da Praia.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Várias etapas de filtragem
Depois, a água é novamente filtrada, desta vez por micro filtros. Os dois cilindros azuis que se podem ver na foto possuem uma alta eficiência na remoção de resíduos sólidos minúsculos - como moléculas e partículas. Essas duas pré-filtragens preparam a água para passar pelo processo de osmose inversa.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Sob alta pressão
O aparelho azul (na foto) é uma bomba de alta pressão. Aplica uma forte pressão na água do mar, que é distribuída pelos cilindros brancos. No interior, encontram-se membranas semipermeáveis por onde a água é forçada a passar. Neste processo de filtragem, consegue-se a retenção de sais dissolvidos. Obtém-se a água doce e a salmoura - solução com alta concentração de sal - que é devolvida ao mar.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Volume do abastecimento
Na Cidade da Praia, funcionam duas unidades dessalinizadoras da Electra, com capacidade para produzir 15.000m3 de água doce por dia. Pelo menos 60% da população da capital recebe a água dessalinizada da Electra. Na foto, uma visão parcial da unidade mais moderna de Santiago, em funcionamento desde 2013. A Electra é reponsável pelo abastecimento de água de mais de metade da população do país.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Controlo de qualidade
A água doce produzida é analisada num laboratório onde é feito o controlo de qualidade. De acordo com a Electra, a transferência da água para consumo só é autorizada se apresentar as condições estabelecidas nos protocolos da Organização Mundial da Saúde (OMS). Na foto, a engenheira bioquímica Elisângela Moniz mostra as placas utilizadas para a contagem de coliformes totais e fecais.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Moderna tecnologia europeia
Cabo Verde utiliza tecnologias europeias, espanhola e austríaca, para a dessalinização da água do mar. Na foto, o reservatório de água da empresa austríaca Uniha, que tem capacidade para armazenar 1.500 m3 de água. A água dessalinizada não fica parada aqui: é constantemente bombeada para os reservatórios de distribuição existentes ao longo da Cidade da Praia.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Grandes perdas
Esses equipamentos são responsáveis por bombear a água para os tanques de distribuição da Cidade da Praia. No entanto, cerca de 55% de toda a produção é perdida durante este processo. As perdas são causadas por fugas de água em tubulações e reservatórios antigos para onde a água é enviada antes de chegar ao consumidor.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Desafios e esforços para produzir água
O engenheiro António Pedro Pina, diretor de Planeamento e Controlo da Electra, diz que os maiores desafios da empresa são "garantir a continuidade na produção, estabilidade na distribuição e combater as perdas que, neste momento, estão em cifras proibitivas". Pina defende, no entanto, que "tem sido feito um esforço enorme para garantir a continuidade da distribuição da água" em Cabo Verde.
Foto: DW/C.V. Teixeira
Recurso natural abundante
Terminado o processo de dessalinização, a água com alta concentração de sal, denominada salmoura, é devolvida ao mar. Composto por 10 ilhas, o arquipélago cabo-verdiano encontra-se cercado por uma fonte inesgotável para a produção de água potável. Os cabo-verdianos têm assim o recurso natural abundante para garantir à população o abastecimento de água dessalinizada e limpa, constantemente.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Preço da água ainda é alto
A água dessalinizada pela Electra em Santiago abastece os moradores da Cidade da Praia. Na foto, moradores do bairro Castelão, na capital cabo-verdiana, compram água no chafariz público - um dos poucos que ainda restam no país. Cada bidão de cerca de 30 litros de água custa 20 escudos cabo-verdianos (cerca de 0,20 euros). O valor é considerado alto por muitos cabo-verdianos.