O Presidente da Comissão Europeia anunciou uma nova parceria para aumentar o investimento e o emprego no continente africano. "África não precisa de caridade", frisou Jean Claude Juncker.
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O continente africano "precisa de uma parceria equilibrada, uma verdadeira sociedade. Nós, europeus, também precisamos desta parceria", frisou Jean Claude Juncker no seu discurso sobre o Estado da União no Parlamento Europeu, na quarta-feira (12.09).
"Estamos a propor uma nova aliança sustentável de investimentos e trabalhos entre a Europa e África. Esta aliança vai criar mais de 10 milhões de empregos em África nos próximos cinco anos", anunciou.
UE promete criar 10 milhões de empregos em África
À saída do hemiciclo, em Estrasburgo, o comissário português da Inovação e Ciência, Carlos Moedas, defendeu que a parceria União Europeia-África pode ser uma nova oportunidade para a Europa. Além de aplaudir a decisão de Juncker, o comissário elogiou a opção da Comissão Europeia ao "passar do assistencialismo para uma parceria" de igual para igual.
"Pela primeira vez falámos do nosso futuro falando de África. Ele falou em passar do assistencialismo para uma parceira", destacou. "Temos um grande projeto sobre ensaios clínicos com África - de tuberculose, malária e outras doenças - e aquilo que me dizia sempre a minha equipa é que aquele projeto funcionava porque estávamos todos de igual para igual. Os investigadores africanos tinham o mesmo peso que os investigadores europeus e trabalhávamos em conjunto."
Moldes da nova parceria ainda por divulgar
Os moldes em que vai funcionar a nova parceria Europa-África não foram entretanto divulgados. Espera-se que nos próximos dias a Comissão Europeia aprofunde este tema e dê novas informações sobre o projeto.
No seu discurso, Jean-Claude Juncker, prometeu fortalecer a segurança do Mediterrâneo e das fronteiras europeias. "Não podemos continuar a lutar para encontrar soluções temporárias cada vez que um novo barco com refugiados chega à Europa. A solidariedade temporária não é suficiente. Precisamos de solidariedade duradoura - para hoje e para o futuro", frisou.
Neste contexto, Jean-Claude Juncker avançou medidas concretas para proteger os migrantes e lançou um apelo aos Estados-membros. "Apresentamos uma proposta para reforçar a Guarda Costeira e as fronteiras. Estas devem ser protegidas de forma eficaz. Por isso, estamos a propor que o número de guardas de fronteira financiados seja de 10.000 em 2020."
Outro dos objetivos é estender a ação da agência europeia de refugiados. "Estamos a propor o regresso dos imigrantes ilegais. Repito o meu desejo no Parlamento que é a abertura das rotas legais para a migração em direção à Europa. Precisamos de migrantes qualificados", lembrou ainda o presidente da Comissão Europeia.
Milhares de migrantes atravessam Níger rumo à Europa
São jovens oriundos da África Ocidental e fazem tudo para chegar à Europa. Estão mesmo dispostos a arriscar a vida, atravessando o deserto, rumo ao Mediterrâneo. Mas nem todos são bem sucedidos.
Foto: DW/A. Cascais
Apoio aos "menos bem sucedidos"
Em Niamey existe um centro de acolhimento da Organização Internacional para as Migrações (OIM). Aqui são acolhidos os jovens "revenants", que não conseguiram atravessar o deserto e se veem obrigados a regressar aos seus países de origem. A OIM, que faz parte do sistema das Nações Unidas, dá-lhes abrigo provisório, alimentação e apoio na obtenção de passaportes e outros documentos.
Foto: DW/
À espera do regresso a casa
Os jovens que procuram apoio no centro da OIM vêm dos mais diferentes países: Guiné-Conacri, Mali, Senegal, Gâmbia ou Guiné-Bissau, movidos sobretudo por objetivos económicos. Muitos tiraram cursos superiores, mas não arranjam trabalho. Muitas famílias apostam na emigração de pelo menos um filho. Caso esse filho seja bem sucedido poderá eventualmente apoiar economicamente o resto da família.
Foto: DW/A. Cascais
Frustrados por terem falhado a Europa
Muitos investiram todas as suas economias, pediram dinheiro a familiares e perderam tudo. Agora esperam pelo regresso aos seus países com a sensação de terem sofrido grandes derrotas pessoais. Os assistentes sociais falam de casos em que os jovens não se atrevem a voltar ao seio das suas famílias, "por sentirem vergonha". Precisam de apoio psicológico, mas esse apoio não existe.
Foto: DW/A. Cascais
Otimismo apesar das derrotas
Alguns dos migrantes sofrem lesões e contraem doenças durante a travessia do deserto, mas mesmo assim não perdem o ânimo. Em muitos casos, os jovens tentam várias vezes, ao longo da vida, atingir a terra prometida: a Europa. Muitos nunca o conseguem, mas não perdem o otimismo. Em 2016, a OIM prestou apoio a mais de 6 mil "revenants" - migrantes que não foram bem sucedidos no Níger.
Foto: DW/A. Cascais
Espancado na Líbia
Dumbya Mamadou, de 26 anos de idade, oriundo do Senegal, conseguiu atingir a Líbia, depois de uma "odisseia de 5 dias e 5 noites" pelo deserto do Níger. Mas na Líbia foi maltratado. "Os líbios apontaram-me armas e espancaram-me, não têm respeito pelo ser humano", afirma o jovem. Dumbya volta ao seu país de origem com um sentimento de derrota: "Queria estudar na Europa, agora não sei o que fazer".
Foto: DW/
Roubado no Burkina Faso
Mamadou Barry, de 21 anos, oriundo da Guiné-Conacri, tinha um sonho: aplicar em França os seus conhecimentos de marketing e os seus talentos musicais. Mas a viagem rumo à Europa correu-lhe mal. "Fui roubado no Burkina Faso, o primeiro país pelo qual passei", conta. Mesmo assim, Mamadou aprendeu uma grande lição para a vida: "coisas que nunca teria aprendido se nunca tivesse saído de Conacri".
Foto: DW/A. Cascais
Rap contra a frustração
Mamadou Barry tenta digerir as suas derrotas e decepções através da música. Há três anos que o jovem canta e interpreta temas de rap e hiphop de sua autoria. O seu último tema foi escrito em Niamey, capital do Níger, e tem a seguinte letra: "A migração arrasou-me / e ninguém me pode consolar / O Mar Mediterrâneo já matou muitos / e nós cá continuamos: sem comida, sem cama, sem saúde".
Foto: DW/
Central de autocarros de Niamey: uma placa giratória
É da estação de autocarros de Niamey que partem diariamente centenas de furgonetas, muitas delas repletas de jovens migrantes, em direção ao norte. Os migrantes tornaram-se um fator relevante para a economia do Níger. Há muita gente que ganha a sua vida prestando diversos serviços aos migrantes: viagens pelo deserto, alimentação e mesmo cuidados médicos.
Foto: DW/A. Cascais
Mais migrantes tentam atravessar deserto do Níger
O número de migrantes que viajam através dos vastos territórios desérticos do Níger para chegar ao norte da África e à Europa não pára de aumentar, tendo alcançado os 200 mil em 2016, segundo estimativas do escritório da Organização Internacional para as Migrações. Outras fontes falam de 10 mil migrantes que atravessam o Níger por semana. A situacão geográfica do Níger é o fator determinante.
Foto: DW/A. Cascais
Agadez, o "olho da agulha"
Agadez, cidade desértica no Níger, é um dos principais pontos de trânsito no Saara para os imigrantes em fuga de nações empobrecidas do oeste da África. As "máfias" do tráfico humano têm beneficiado do caos na Líbia para transportar dezenas de milhares de pessoas para o continente europeu em embarcações precárias. Os migrantes muitas vezes sofrem abusos dos passadores.