O político e músico ugandês está doente e a receber tratamento médico em Kampala. Os esforços são para o tirar do país para receber melhores cuidados de saúde. Entretanto, o Governo de Museveni não dá trégua a Wine.
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O deputado e cantor Robert Kyagulanyi, também conhecido pelo nome artístico de Bobi Wine, foi libertado sob fiança, na segunda-feira (27.08.), após duas semanas de detenção. Bobi Wine foi preso a 14 de agosto após um incidente em Arua, norte do Uganda, quando manifestantes lançaram pedras contra o carro do Presidente Yoweri Museveni, que para lá se deslocou para apoiar o candidato do seu partido na campanha eleitoral.
A sua libertação deveu-se a grande pressão a que o Governo esteve sujeito, mas apesar disso Bobi Wine continua a enfrentar acusações de traição.
O deputado tem um "problema renal" que precisa de cuidados médicos urgentes no exterior, de acordo com o seu advogado, e está a ser tratado numa clínica privada na capital, Kampala. O músico terá sido alvo de tortura, inclusive nos órgãos genitais, durante o tempo em que esteve detido.
Está a ser tratada toda a documentação para que Wine receba cuidados médicos especializados fora do Uganda.
Uganda: Bobi Wine, a voz dos oprimidos
A voz da esperança?Numa entrevista concedida à DW antes da sua detenção, Bobi Wine falou sobre o seu papel na política ugandesa: "Ninguém deveria olhar para mim como o messias ou como a solução, sou apenas parte do puzzle. Devemos alcançar o que queremos como um país, devemos alcançar isso em conjunto de forma a que nunca mais algum homem possa reivindicar o sucesso da luta ou a libertação do país."
A maior parte da população do Uganda tem menos de 24 anos de idade e muitos vêm o músico, de 36 anos como uma esperança no futuro do país.
O jovem Julius Mugambwa, residente na capital, considera que "apesar do apoio que Bobi Wine tem, especialmente dos jovens aqui de Kampala, o Governo do Presidente Yoweri Museveni parece ter uma perspetiva diferente dos políticos emergentes que lutam em tribunal contra a acusação de traição."
Wine é tempestade passageira?
Já o Gabinete de Imprensa da Presidência relaitiviza a importância da estrela da música pop. O secretário de imprensa do Presidente Museveni, Don Wanyama, argumenta: "De momento há algum tumulto e não penso que ele seja visto pela maioria como o possível Presidente. Tem havido algum enquadramento à volta dele, levado a cabo pelos seus grupos de relações públicas, onde ele é muitas vezes apresentado como a vítima. Acho que é coisa de momento e isso poderá passar."
Wanyama defende ainda uma postura cautelosa: "Você não pode dizer, vamos apenas tomar este país. Chegará a altura em que irão surgir algumas questões difíceis."Minimizar Wine é a solução?
Bobi Wine foi eleito para o Parlamento em 2017 numa votação em que derrotou quatro adversários, incluindo o apoiado pelo Presidente Museveni. Em menos de dois anos no cargo o cantor tem sido duramente criticado pelo Governo.
O jurista da Universidade de Makerere Daniel Ruhweza defende que "qualquer político sério precisa de se sentar e avaliar o que Bobi Wine representa quando ele fala do poder das pessoas, o que ele está a tentar dizer."
Para Ruhweza "Não há aqui qualquer peso nas palavras que nos expressa e o Presidente não deveria dar atenção a essa voz que surgiu de forma única a partir dos políticos da oposição."
A estrela do reggae conta com mais de 15 anos de carreira musical bem sucedida, embora ele diga que trabalhar na área de entretenimento tem sido difícil.
Mas desafiar um Governo que está no poder há 32 anos pode ser a sua maior luta até agora.
Os chefes de Estado há mais tempo no poder
São presidentes, príncipes, reis ou sultões, de África, da Ásia ou da Europa. Estes são os dez chefes de Estado há mais tempo no poder.
Foto: Jack Taylor/Getty Images
Do golpe de Estado até hoje - Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo assumiu a Presidência da Guiné Equatorial em 1979, ainda antes de José Eduardo dos Santos. Teodoro Obiang Nguema derrubou o seu tio do poder: Francisco Macías Nguema foi executado em setembro de 1979. A Guiné Equatorial é um dos países mais ricos de África devido às receitas do petróleo e do gás, mas a maioria dos cidadãos não beneficia dessa riqueza.
Foto: DW/R. Graça
O Presidente que adora luxo - Paul Biya
Paul Biya é chefe de Estado dos Camarões desde novembro de 1982. Muitos dos camaroneses que falam inglês sentem-se excluídos pelo francófono Biya. E o Presidente também tem sido alvo de críticas pelas despesas que faz. Durante as férias, terá pago alegadamente 25 mil euros por dia pelo aluguer de uma vivenda. Na foto, está acompanhado da mulher Chantal Biya.
Foto: Reuters
Mudou a Constituição para viabilizar a reeleição - Yoweri Museveni
Yoweri Museveni já foi confirmado seis vezes como Presidente do Uganda. Para poder concorrer às eleições de 2021, Museveni mudou a Constituição e retirou o limite de idade de 75 anos. Venceu o pleito com 58,6% dos votos, reafirmando-se como um dos líderes autoritários mais antigos do mundo. O candidato da oposição, Bobi Wine, alegou fraude generalizada na votação e rejeitou os resultados oficiais.
Foto: Getty Images/AFP/I. Kasamani
"O Leão de Eswatini" - Mswati III
Mswati III é o último governante absolutista de África. Desde 1986, dirige o reino de Eswatini, a antiga Suazilândia. Acredita-se que tem 210 irmãos; o seu pai Sobhuza II teve 70 mulheres. A tradição da poligamia continua no seu reinado: até 2020, Mswati III teve 15 esposas. O seu estilo de vida luxuoso causou protestos no país, mas a polícia costuma reprimir as manifestações no reino.
Foto: Getty Images/AFP/J. Jackson
O sultão acima de tudo - Haji Hassanal Bolkiah
Há quase cinco décadas que o sultão Haji Hassanal Bolkiah é chefe de Estado e Governo e ministro dos Negócios Estrangeiros, do Comércio, das Finanças e da Defesa do Brunei. Há mais de 600 anos que a política do país é dirigida por sultões. Hassanal Bolkiah, de 74 anos, é um dos últimos manarcas absolutos no mundo.
Foto: Imago/Xinhua/J. Wong
Monarca bilionário - Hans-Adam II
Desde 1989, Hans-Adam II (esq.) é chefe de Estado do Liechtenstein, um pequeno principado situado entre a Áustria e a Suiça. Em 2004, nomeou o filho Aloísio (dir.) como seu representante, embora continue a chefiar o país. Hans-Adam II é dono do grupo bancário LGT. Com uma fortuna pessoal estimada em mais de 3 mil milhões de euros é considerado o soberano europeu mais rico.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Nieboer
De pastor a parceiro do Ocidente - Idriss Déby
Idriss Déby (à esq.) foi Presidente do Chade de 1990 a 2021. Filho de pastores, Déby formou-se em França como piloto de combate. Apesar do seu autoritarismo, Déby foi um parceiro do Ocidente na luta contra o extremismo islâmico (na foto com o Presidente francês Macron). Em abril de 2021, um apenas dia após após a confirmação da sua sexta vitória eleitoral, Déby foi morto num combate com rebeldes.
Foto: Eliot Blondet/abaca/picture alliance
Procurado por genocídio - Omar al-Bashir
Omar al-Bashir foi Presidente do Sudão entre 1993 e 2019. Chegou ao poder em 1989 depois de um golpe de Estado sangrento. O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu em 2009 um mandado de captura contra al-Bashir por alegada implicação em crimes de genocídio e de guerra no Darfur. Em 2019, foi deposto e preso após uma onda de protestos no país.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
O adeus - José Eduardo dos Santos
José Eduardo dos Santos foi, durante 38 anos (de 1979 a 2017), chefe de Estado de Angola. Mas não se recandidatou nas eleições de 2017. Apesar do boom económico durante o seu mandato, grande parte da população continua a viver na pobreza. José Eduardo dos Santos tem sido frequentemente acusado de corrupção e de desvio das receitas da venda do petróleo. A sua família é uma das mais ricas de África.
Foto: picture-alliance/dpa/P.Novais
Fã de si próprio - Robert Mugabe
Robert Mugabe chegou a ser o mais velho chefe de Estado do mundo (com uma idade de 93 anos). O Presidente do Zimbabué esteve quase 30 anos na Presidência. Antes foi o primeiro-ministro. Naquela época, aconteceram vários massacres que vitimaram milhares de pessoas. Também foi criticado por alegada corrupção. Após um levantamento militar, renunciou à Presidência em 2017. Morreu dois anos mais tarde.