Uganda e Quénia unidos no combate ao tráfico humano
Alex Gitta (Kampala) | rl
14 de agosto de 2018
Só na África Oriental, estima-se que, todos os dias, cerca de 50 pessoas atravessam as fronteiras pela mão de traficantes que as aliciam com promessas de trabalho falsas. Uganda e Quénia intensificam controlo.
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O Uganda e o Quénia estão a unir esforços para travar o lucrativo negócio do tráfico humano, especialmente para os países do Médio Oriente, como os Emirados Árabes Unidos, Omã e a Arábia Saudita. Por dia, estima-se que 50 pessoas atravessam as fronteiras na África Oriental, aliciadas com promessas de trabalho rentáveis.
Mas a viagem acaba por não ter um final feliz. As vítimas são muitas vezes recrutadas por agentes falsos que as vendem para trabalhar como prostitutas ou empregadas domésticas.
Uma das muitas vítimas do tráfico humano em Omã conseguiu gravar um vídeo em que pede ajuda, através de um telemóvel emprestado. Explica que o seu telemóvel e passaporte foram confiscados para que não entrasse em contacto com ninguém e pede ajuda para sair dali. Como em tantos outros casos, esta mulher pensou que iria para Omã trabalhar numa loja, mas, à chegada, percebeu que iria ser empregada doméstica. Durante vários meses, trabalhou sem receber nada por isso.
Este não é um caso isolado. A história de Aisha é muito parecida: "Fui para trabalhar como cabeleireira. Cheguei a Omã, e eles disseram-me: ‘certificados de cabeleireiro aparte, vais trabalhar como empregada'. Fiquei chocada".
Os traficantes aproveitam as elevadas taxas de desemprego e pobreza para enganar as suas vítimas. Contam, alegadamente, com a ajuda de agentes de segurança, que conseguem retirar as vítimas do país com facilidade.
Controlo rigoroso
Uganda e Quénia unidos no combate ao tráfico humano
Já estão em curso medidas para combater este crime, diz Moses Babinoga, coordenador da Missão contra o Tráfico Humano no Uganda.
"Queremos trabalhar em conjunto com o Quénia com o objetivo de intercetar esses ugandeses que tentam sair através do Quénia, uma vez que estamos a levar a cabo uma inspeção rigorosa no Aeroporto de Entebbe [no Uganda]", explica.
Segundo Moses Babinoga, a mesma medida será aplicada em todas as áreas fronteiriças, "com todos os países vizinhos, incluindo o Sudão do Sul, o Ruanda e a Tanzânia". O objetivo, acrescenta, é "proteger não só os ugandeses, mas também as pessoas provenientes de países vizinhos e que tentem atravessar o Uganda".
As agências de segurança têm conseguido impedir a passagem de algumas destas pessoas, mas muitas conseguiram chegar aos Emirados Árabes Unidos com documentos falsos.
Algumas raparigas que foram detidas em diferentes aeroportos foram já levadas de volta para o Uganda, diz Daniel Arap Kirui, subcomissário queniano da região ocidental de Bungoma.
"Devido à cooperação entre os dois países, algumas destas pessoas foram trazidas de volta ao Uganda, outras foram multadas. Os nossos homólogos irão também juntar-se a nós e garantir que juntos vamos combater este problema", assegura.
Regularizar exportação de mão de obra
Ainda que, no Uganda, a exportação de mão de obra seja legal, muitos dos envolvidos neste negócio atuam com intenções de caráter duvidoso e operam fora dos princípios da lei e das diretrizes estabelecidas pelas autoridades.
Assan Kasingye, da Polícia do Uganda, sublinha que falta uma melhor gestão para que o país possa beneficiar da exportação de mão de obra: "Se aproveitarmos isso para benefício próprio, através dos procedimentos adequados, poderemos obter até 5 ou 10 mil milhões de dólares. Países como o Gana beneficiam de facto muito com as pessoas que trabalham fora do país".
Atualmente, o Uganda recebe cerca de mil milhões de dólares por ano de remessas do exterior.
Milhares de migrantes atravessam Níger rumo à Europa
São jovens oriundos da África Ocidental e fazem tudo para chegar à Europa. Estão mesmo dispostos a arriscar a vida, atravessando o deserto, rumo ao Mediterrâneo. Mas nem todos são bem sucedidos.
Foto: DW/A. Cascais
Apoio aos "menos bem sucedidos"
Em Niamey existe um centro de acolhimento da Organização Internacional para as Migrações (OIM). Aqui são acolhidos os jovens "revenants", que não conseguiram atravessar o deserto e se veem obrigados a regressar aos seus países de origem. A OIM, que faz parte do sistema das Nações Unidas, dá-lhes abrigo provisório, alimentação e apoio na obtenção de passaportes e outros documentos.
Foto: DW/
À espera do regresso a casa
Os jovens que procuram apoio no centro da OIM vêm dos mais diferentes países: Guiné-Conacri, Mali, Senegal, Gâmbia ou Guiné-Bissau, movidos sobretudo por objetivos económicos. Muitos tiraram cursos superiores, mas não arranjam trabalho. Muitas famílias apostam na emigração de pelo menos um filho. Caso esse filho seja bem sucedido poderá eventualmente apoiar economicamente o resto da família.
Foto: DW/A. Cascais
Frustrados por terem falhado a Europa
Muitos investiram todas as suas economias, pediram dinheiro a familiares e perderam tudo. Agora esperam pelo regresso aos seus países com a sensação de terem sofrido grandes derrotas pessoais. Os assistentes sociais falam de casos em que os jovens não se atrevem a voltar ao seio das suas famílias, "por sentirem vergonha". Precisam de apoio psicológico, mas esse apoio não existe.
Foto: DW/A. Cascais
Otimismo apesar das derrotas
Alguns dos migrantes sofrem lesões e contraem doenças durante a travessia do deserto, mas mesmo assim não perdem o ânimo. Em muitos casos, os jovens tentam várias vezes, ao longo da vida, atingir a terra prometida: a Europa. Muitos nunca o conseguem, mas não perdem o otimismo. Em 2016, a OIM prestou apoio a mais de 6 mil "revenants" - migrantes que não foram bem sucedidos no Níger.
Foto: DW/A. Cascais
Espancado na Líbia
Dumbya Mamadou, de 26 anos de idade, oriundo do Senegal, conseguiu atingir a Líbia, depois de uma "odisseia de 5 dias e 5 noites" pelo deserto do Níger. Mas na Líbia foi maltratado. "Os líbios apontaram-me armas e espancaram-me, não têm respeito pelo ser humano", afirma o jovem. Dumbya volta ao seu país de origem com um sentimento de derrota: "Queria estudar na Europa, agora não sei o que fazer".
Foto: DW/
Roubado no Burkina Faso
Mamadou Barry, de 21 anos, oriundo da Guiné-Conacri, tinha um sonho: aplicar em França os seus conhecimentos de marketing e os seus talentos musicais. Mas a viagem rumo à Europa correu-lhe mal. "Fui roubado no Burkina Faso, o primeiro país pelo qual passei", conta. Mesmo assim, Mamadou aprendeu uma grande lição para a vida: "coisas que nunca teria aprendido se nunca tivesse saído de Conacri".
Foto: DW/A. Cascais
Rap contra a frustração
Mamadou Barry tenta digerir as suas derrotas e decepções através da música. Há três anos que o jovem canta e interpreta temas de rap e hiphop de sua autoria. O seu último tema foi escrito em Niamey, capital do Níger, e tem a seguinte letra: "A migração arrasou-me / e ninguém me pode consolar / O Mar Mediterrâneo já matou muitos / e nós cá continuamos: sem comida, sem cama, sem saúde".
Foto: DW/
Central de autocarros de Niamey: uma placa giratória
É da estação de autocarros de Niamey que partem diariamente centenas de furgonetas, muitas delas repletas de jovens migrantes, em direção ao norte. Os migrantes tornaram-se um fator relevante para a economia do Níger. Há muita gente que ganha a sua vida prestando diversos serviços aos migrantes: viagens pelo deserto, alimentação e mesmo cuidados médicos.
Foto: DW/A. Cascais
Mais migrantes tentam atravessar deserto do Níger
O número de migrantes que viajam através dos vastos territórios desérticos do Níger para chegar ao norte da África e à Europa não pára de aumentar, tendo alcançado os 200 mil em 2016, segundo estimativas do escritório da Organização Internacional para as Migrações. Outras fontes falam de 10 mil migrantes que atravessam o Níger por semana. A situacão geográfica do Níger é o fator determinante.
Foto: DW/A. Cascais
Agadez, o "olho da agulha"
Agadez, cidade desértica no Níger, é um dos principais pontos de trânsito no Saara para os imigrantes em fuga de nações empobrecidas do oeste da África. As "máfias" do tráfico humano têm beneficiado do caos na Líbia para transportar dezenas de milhares de pessoas para o continente europeu em embarcações precárias. Os migrantes muitas vezes sofrem abusos dos passadores.