Uganda: Eleição não foi "100% confiável", diz observadora
kg | DW (Deutsche Welle) | com agências
17 de janeiro de 2021
Em entrevista à DW, observadora eleitoral diz que organização precária, pouca informação e baixa participação nas urnas prejudicaram as eleições, que deram vitória a Yoweri Museveni. EUA exigem investigação independente.
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Charity Kalebbo Ahimbisibwe, chefe da Coalizão de Cidadãos para a Democracia Eleitoral no Uganda, diz que não acredita que as eleições gerais de 2021 foram livres, justas e confiáveis.
Em entrevista à DW, a observadora eleitoral enumera a violência durante a campanha, a organização precária das seções eleitorais e o facto de dois milhões de ugandeses não terem tido a chance de se registar para a votação como fatores que contribuíram para eleições pouco credíveis.
O Presidente Yoweri Museveni foi anunciado o vencedor das eleições de 14 de janeiro este sábado (16.01), com 58,64% dos votos, impondo uma derrota ao candidato da oposição, Bobi Wine, que denunciou "uma farsa completa". Há 35 anos no poder, Museveni vai cumprir um sexto mandato de cinco anos.
"Teve também o encerramento das redes sociais... Não havia muito fluxo de informações", diz Charity Kalebbo Ahimbisibwe. "É difícil responder à pergunta se a votação foi livre, justa e confiável. Houve os três aspetos. Mas se foi 100%, acho que não", acrescentou.
Pelo menos 7 milhões dos 18 milhões de eleitores do país não compareceram às urnas. "Provavelmente, não sabiam em quem votar ou estavam apenas a fazer uma declaração de que talvez não queiram ser pegos nessa maré política", disse a observadora referindo-se à violência que marcou o período pré-eleitoral.
"A única coisa que vimos, em apenas uma ou duas assembleias de voto, foi a questão do regresso de funcionários dando a um eleitor mais do que os três votos que deveriam ter. Mas fraude, enchimento de votos, acho que não houve. Em grande parte, foi um processo pacífico", sublinha.
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"Profunda perturbação"
O porta-voz da diplomacia norte-americana, Morgan Ortagus, declarou num comunicado este sábado (16.01) que está "profundamente perturbado" com as notícias de violência e irregularidades nas eleições no Uganda.
"O povo ugandês participou nas eleições nacionais multipartidárias de 14 de janeiro, apesar de um ambiente de intimidação e medo. Estamos profundamente perturbados com os muitos relatos credíveis de violência policial no período que antecede as eleições e irregularidades durante as sondagens", escreveu
A administração norte-americana pediu ainda "investigações independentes". "Apelamos veementemente a investigações independentes, credíveis, imparciais e exaustivas sobre estes relatórios e a que os responsáveis sejam responsabilizados", afirma.
Os EUA dizem ainda condenar "os contínuos ataques aos candidatos políticos" e instam o Governo ugandês "a respeitar os seus direitos humanos e liberdades fundamentais, incluindo a liberdade de expressão".
"Estamos gravemente preocupados com o assédio e as contínuas ameaças à sociedade civil. Finalmente, registamos a continuação do encerramento da Internet a nível nacional e apelamos à sua imediata restauração, juntamente com a dos serviços de comunicação social", acrescentam.
Os chefes de Estado há mais tempo no poder
São presidentes, príncipes, reis ou sultões, de África, da Ásia ou da Europa. Estes são os dez chefes de Estado há mais tempo no poder.
Foto: Jack Taylor/Getty Images
Do golpe de Estado até hoje - Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo assumiu a Presidência da Guiné Equatorial em 1979, ainda antes de José Eduardo dos Santos. Teodoro Obiang Nguema derrubou o seu tio do poder: Francisco Macías Nguema foi executado em setembro de 1979. A Guiné Equatorial é um dos países mais ricos de África devido às receitas do petróleo e do gás, mas a maioria dos cidadãos não beneficia dessa riqueza.
Foto: DW/R. Graça
O Presidente que adora luxo - Paul Biya
Paul Biya é chefe de Estado dos Camarões desde novembro de 1982. Muitos dos camaroneses que falam inglês sentem-se excluídos pelo francófono Biya. E o Presidente também tem sido alvo de críticas pelas despesas que faz. Durante as férias, terá pago alegadamente 25 mil euros por dia pelo aluguer de uma vivenda. Na foto, está acompanhado da mulher Chantal Biya.
Foto: Reuters
Mudou a Constituição para viabilizar a reeleição - Yoweri Museveni
Yoweri Museveni já foi confirmado seis vezes como Presidente do Uganda. Para poder concorrer às eleições de 2021, Museveni mudou a Constituição e retirou o limite de idade de 75 anos. Venceu o pleito com 58,6% dos votos, reafirmando-se como um dos líderes autoritários mais antigos do mundo. O candidato da oposição, Bobi Wine, alegou fraude generalizada na votação e rejeitou os resultados oficiais.
Foto: Getty Images/AFP/I. Kasamani
"O Leão de Eswatini" - Mswati III
Mswati III é o último governante absolutista de África. Desde 1986, dirige o reino de Eswatini, a antiga Suazilândia. Acredita-se que tem 210 irmãos; o seu pai Sobhuza II teve 70 mulheres. A tradição da poligamia continua no seu reinado: até 2020, Mswati III teve 15 esposas. O seu estilo de vida luxuoso causou protestos no país, mas a polícia costuma reprimir as manifestações no reino.
Foto: Getty Images/AFP/J. Jackson
O sultão acima de tudo - Haji Hassanal Bolkiah
Há quase cinco décadas que o sultão Haji Hassanal Bolkiah é chefe de Estado e Governo e ministro dos Negócios Estrangeiros, do Comércio, das Finanças e da Defesa do Brunei. Há mais de 600 anos que a política do país é dirigida por sultões. Hassanal Bolkiah, de 74 anos, é um dos últimos manarcas absolutos no mundo.
Foto: Imago/Xinhua/J. Wong
Monarca bilionário - Hans-Adam II
Desde 1989, Hans-Adam II (esq.) é chefe de Estado do Liechtenstein, um pequeno principado situado entre a Áustria e a Suiça. Em 2004, nomeou o filho Aloísio (dir.) como seu representante, embora continue a chefiar o país. Hans-Adam II é dono do grupo bancário LGT. Com uma fortuna pessoal estimada em mais de 3 mil milhões de euros é considerado o soberano europeu mais rico.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Nieboer
De pastor a parceiro do Ocidente - Idriss Déby
Idriss Déby (à esq.) foi Presidente do Chade de 1990 a 2021. Filho de pastores, Déby formou-se em França como piloto de combate. Apesar do seu autoritarismo, Déby foi um parceiro do Ocidente na luta contra o extremismo islâmico (na foto com o Presidente francês Macron). Em abril de 2021, um apenas dia após após a confirmação da sua sexta vitória eleitoral, Déby foi morto num combate com rebeldes.
Foto: Eliot Blondet/abaca/picture alliance
Procurado por genocídio - Omar al-Bashir
Omar al-Bashir foi Presidente do Sudão entre 1993 e 2019. Chegou ao poder em 1989 depois de um golpe de Estado sangrento. O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu em 2009 um mandado de captura contra al-Bashir por alegada implicação em crimes de genocídio e de guerra no Darfur. Em 2019, foi deposto e preso após uma onda de protestos no país.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
O adeus - José Eduardo dos Santos
José Eduardo dos Santos foi, durante 38 anos (de 1979 a 2017), chefe de Estado de Angola. Mas não se recandidatou nas eleições de 2017. Apesar do boom económico durante o seu mandato, grande parte da população continua a viver na pobreza. José Eduardo dos Santos tem sido frequentemente acusado de corrupção e de desvio das receitas da venda do petróleo. A sua família é uma das mais ricas de África.
Foto: picture-alliance/dpa/P.Novais
Fã de si próprio - Robert Mugabe
Robert Mugabe chegou a ser o mais velho chefe de Estado do mundo (com uma idade de 93 anos). O Presidente do Zimbabué esteve quase 30 anos na Presidência. Antes foi o primeiro-ministro. Naquela época, aconteceram vários massacres que vitimaram milhares de pessoas. Também foi criticado por alegada corrupção. Após um levantamento militar, renunciou à Presidência em 2017. Morreu dois anos mais tarde.