Uganda: Repressão de protestos pela libertação de opositores
Reuters | AFP | Lusa | AP | Alex Gitta (Kampala) | rl | tms
20 de agosto de 2018
Em Kampala, uma multidão protestou pela libertação de cinco políticos da posição, detidos na semana passada - entre eles o deputado e músico Bob Wine. A polícia respondeu com violência.
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O centro da capital ugandesa, Kampala, transformou-se num campo de guerra esta segunda-feira (20.08). A polícia disparou vários tiros e utilizou gás lacrimogéneo para dispersar uma multidão de manifestantes que exigiam a libertação do deputado da oposição e músico Robert Kyagulanyi, conhecido como Bob Wine, detido na semana passada.
Wine foi um dos cinco parlamentares presos a 13 de agosto, na véspera de uma eleição parlamentar na cidade de Arua, noroeste do país, depois que a coluna do Presidente Yoweri Museveni foi apedrejada por apoiantes da oposição, segundo as autoridades.
A prisão do deputado - um crítico do Presidente - enfureceu muitos no Uganda. Os manifestantes no centro de Kampala atearam fogo a pilhas de pneus e paletes de madeira, bloqueando o tráfego e atiraram pedras contra polícias, segundo a agência de notícias AFP.
Polícias fortemente armados em equipamentos antimotim e soldados tomaram o controle das ruas ao redor do agitado mercado de Kireka, ordenando que os cidadãos evacuassem a região. Em outras áreas, pessoas foram obrigadas a se ajoelhar na rua com as mãos para cima enquanto as forças de segurança patrulhavam a área. Muitos cidadãos usavam lenços e camisolas para se proteger das nuvens de gás lacrimogêneo e fumaça.
Agressão
O fotógrafo da agência de notícias Reuters James Akena disse que ficou detido por várias horas depois de ser espancado por soldados. "Eu estava apenas de pé, segurando a minha câmera, perto do protesto. De repente, vários soldados começaram a me agredir. Tenho alguns hematomas e minha mão está inchada. Eles ainda têm a minha câmera e eu não sei quando vou recuperá-la", denunciou.
Imagens das emissoras de televisão locais mostraram soldados e polícias prendendo dezenas de pessoas e colocando-as em camiões. No entanto, o porta-voz da polícia, Emilian Kayima, afirmou que não houve feridos nos protestos desta segunda-feira em Kampala. Mas num outro protesto, nos arredores da capital, no domingo, uma pessoa morreu.
Advogados e familiares dizem que Bob Wine está precisando urgentemente de atenção médica após ser espancado pelas forças de segurança. Entretanto, num comunicado no fim de semana, a Presidência desmentiu a informação e acusou o deputado Bob Wine de formar "grupos indisciplinados", o que ele disse ser "terrorismo".
Detenção
Segundo a polícia, Bobi Wine foi detido por obstruir a comitiva presidencial, durante a qual um dos carros oficiais do Presidente ficou com o para-brisa danificado depois de ter sido atingido por pedras. O Presidente, entretanto, não estava no veículo.
De acordo com o porta-voz da polícia, "os carros estavam em andamento, o Presidente estava a abandonar o local, quando encontraram um grupo de apoiantes de um dos candidatos, o Sr. Kasiano Wadri, que começaram a lançar pedras. A tentativa da polícia acalmar a situação resultou na morte de uma pessoa que foi baleada".
A vítima mortal era o motorista de Bobi Wine. Num post do Twitter, o músico afirmou que a "polícia o baleou", convencida de que estava a balear o músico. A Human Rights Watch exigiu às autoridades que investiguem e prendam os responsáveis por esta morte.
Comunidade internacional preocupada
A embaixada dos Estados Unidos no Uganda disse que estava "perturbada pelos relatos de tratamento brutal" que os deputados estariam a receber e na semana passada pediu ao Governo "para mostrar ao mundo que Uganda respeita sua constituição e os direitos humanos de todos os seus cidadãos". A delegação da União Europeia e vários outros diplomatas ocidentais expressaram preocupações semelhantes.
Numa declaração esta segunda-feira, líderes religiosos condenaram a violência "em que vidas são perdidas, pessoas são barbaramente presas e torturadas e propriedades são destruídas".
Conhecido como o "presidente do gueto", Bob Wine nasceu num bairro de lata. Este famoso músico de 32 anos foi eleito o ano passado para o Parlamento do país e diz querer dar voz à juventude, sendo considerado por muito um dos políticos mais poderosos dentro da oposição e, por isso, uma ameaça para o Presidente Museveni.
Os chefes de Estado há mais tempo no poder
São presidentes, príncipes, reis ou sultões, de África, da Ásia ou da Europa. Estes são os dez chefes de Estado há mais tempo no poder.
Foto: Jack Taylor/Getty Images
Do golpe de Estado até hoje - Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo assumiu a Presidência da Guiné Equatorial em 1979, ainda antes de José Eduardo dos Santos. Teodoro Obiang Nguema derrubou o seu tio do poder: Francisco Macías Nguema foi executado em setembro de 1979. A Guiné Equatorial é um dos países mais ricos de África devido às receitas do petróleo e do gás, mas a maioria dos cidadãos não beneficia dessa riqueza.
Foto: DW/R. Graça
O Presidente que adora luxo - Paul Biya
Paul Biya é chefe de Estado dos Camarões desde novembro de 1982. Muitos dos camaroneses que falam inglês sentem-se excluídos pelo francófono Biya. E o Presidente também tem sido alvo de críticas pelas despesas que faz. Durante as férias, terá pago alegadamente 25 mil euros por dia pelo aluguer de uma vivenda. Na foto, está acompanhado da mulher Chantal Biya.
Foto: Reuters
Mudou a Constituição para viabilizar a reeleição - Yoweri Museveni
Yoweri Museveni já foi confirmado seis vezes como Presidente do Uganda. Para poder concorrer às eleições de 2021, Museveni mudou a Constituição e retirou o limite de idade de 75 anos. Venceu o pleito com 58,6% dos votos, reafirmando-se como um dos líderes autoritários mais antigos do mundo. O candidato da oposição, Bobi Wine, alegou fraude generalizada na votação e rejeitou os resultados oficiais.
Foto: Getty Images/AFP/I. Kasamani
"O Leão de Eswatini" - Mswati III
Mswati III é o último governante absolutista de África. Desde 1986, dirige o reino de Eswatini, a antiga Suazilândia. Acredita-se que tem 210 irmãos; o seu pai Sobhuza II teve 70 mulheres. A tradição da poligamia continua no seu reinado: até 2020, Mswati III teve 15 esposas. O seu estilo de vida luxuoso causou protestos no país, mas a polícia costuma reprimir as manifestações no reino.
Foto: Getty Images/AFP/J. Jackson
O sultão acima de tudo - Haji Hassanal Bolkiah
Há quase cinco décadas que o sultão Haji Hassanal Bolkiah é chefe de Estado e Governo e ministro dos Negócios Estrangeiros, do Comércio, das Finanças e da Defesa do Brunei. Há mais de 600 anos que a política do país é dirigida por sultões. Hassanal Bolkiah, de 74 anos, é um dos últimos manarcas absolutos no mundo.
Foto: Imago/Xinhua/J. Wong
Monarca bilionário - Hans-Adam II
Desde 1989, Hans-Adam II (esq.) é chefe de Estado do Liechtenstein, um pequeno principado situado entre a Áustria e a Suiça. Em 2004, nomeou o filho Aloísio (dir.) como seu representante, embora continue a chefiar o país. Hans-Adam II é dono do grupo bancário LGT. Com uma fortuna pessoal estimada em mais de 3 mil milhões de euros é considerado o soberano europeu mais rico.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Nieboer
De pastor a parceiro do Ocidente - Idriss Déby
Idriss Déby (à esq.) foi Presidente do Chade de 1990 a 2021. Filho de pastores, Déby formou-se em França como piloto de combate. Apesar do seu autoritarismo, Déby foi um parceiro do Ocidente na luta contra o extremismo islâmico (na foto com o Presidente francês Macron). Em abril de 2021, um apenas dia após após a confirmação da sua sexta vitória eleitoral, Déby foi morto num combate com rebeldes.
Foto: Eliot Blondet/abaca/picture alliance
Procurado por genocídio - Omar al-Bashir
Omar al-Bashir foi Presidente do Sudão entre 1993 e 2019. Chegou ao poder em 1989 depois de um golpe de Estado sangrento. O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu em 2009 um mandado de captura contra al-Bashir por alegada implicação em crimes de genocídio e de guerra no Darfur. Em 2019, foi deposto e preso após uma onda de protestos no país.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
O adeus - José Eduardo dos Santos
José Eduardo dos Santos foi, durante 38 anos (de 1979 a 2017), chefe de Estado de Angola. Mas não se recandidatou nas eleições de 2017. Apesar do boom económico durante o seu mandato, grande parte da população continua a viver na pobreza. José Eduardo dos Santos tem sido frequentemente acusado de corrupção e de desvio das receitas da venda do petróleo. A sua família é uma das mais ricas de África.
Foto: picture-alliance/dpa/P.Novais
Fã de si próprio - Robert Mugabe
Robert Mugabe chegou a ser o mais velho chefe de Estado do mundo (com uma idade de 93 anos). O Presidente do Zimbabué esteve quase 30 anos na Presidência. Antes foi o primeiro-ministro. Naquela época, aconteceram vários massacres que vitimaram milhares de pessoas. Também foi criticado por alegada corrupção. Após um levantamento militar, renunciou à Presidência em 2017. Morreu dois anos mais tarde.