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PolíticaUganda

Uganda: Presidente Museveni mira mais tempo no poder

Isaac Kaledzi
24 de setembro de 2025

Presidente Uganda, Yoweri Museveni, lidera corrida presidencial, esperando acrescentar mais anos aos quase 40 que já leva no poder. Apesar do crescimento económico, há pressão sobre os direitos humanos.

Uganda Presidente Yoweri Museveni
Museveni não dá sinais de que pretende deixar o poder. O seu domínio político permanece firme, e as eleições do próximo ano serão um teste decisivo Foto: Darko Vojinovic/AP Photo/picture alliance

Para milhões de ugandeses com menos de 40 anos, Yoweri Museveni é o único presidente que já conheceram. E isso dificilmente mudará tão cedo, já que ele se prepara para mais uma campanha, depois de a comissão eleitoral de Uganda ter confirmado a lista final de candidatos para as eleições presidenciais previstas para fevereiro do próximo ano.

Museveni, de 81 anos, chegou ao poder em 1986, depois de uma rebelião armada que depôs Milton Obote, e tornou-se um dos líderes mais longevos do mundo.

O seu governo tem sido marcado tanto por elogios como por críticas. Os apoiantes dizem que ele trouxe estabilidade e desenvolvimento, enquanto os críticos afirmam que Uganda tem vindo a registar retrocessos democráticos, violações de direitos humanos e corrupção enraizada.

Um legado de estabilidade

"Museveni fez uma mudança notável no nosso país e, acima de tudo, trouxe paz e estabilidade reais”, afirma Agnes Atim Apea, empreendedora social e política.

Segundo ela, essa estabilidade impulsionou o crescimento económico. "Essa [estabilidade] é realmente uma das áreas em que o presidente investiu de forma evidente. Ela desencadeou todas as mudanças de desenvolvimento que se vêem no país, porque sem paz e estabilidade não é possível fazer estradas, levar energia eléctrica", disse.

Robert Onyango, que nasceu depois de Museveni assumir o cargo, está ansioso para votar nas próximas eleições. Ele vê o legado do presidente de forma positiva e disse à DW: "Crescemos com este governo. Só falaríamos do lado positivo daquilo que vimos”.

Transformações económicas 

A economia de Uganda apresentou um crescimento misto sob Museveni, com a agricultura a manter-se como pilar central. "Vimos uma diversificação do sector agrícola. Outras culturas passaram a ter destaque, já não é só o café. O próprio café tornou-se comercial, com muito investimento", disse Apea.

Ela também mostra optimismo em relação a avanços noutras áreas da economia. "As nossas exportações, sobretudo na Comunidade da África Oriental, têm registado superávit, assim como os sectores do turismo e do transporte", acrescentou.

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O Uganda também possui cerca de seis mil milhões de barris de reservas de petróleo perto da fronteira com a República Democrática do Congo. O Fundo Monetário Internacional (FMI) projeta que, quando a produção começar, o crescimento económico do país poderá atingir dois dígitos.

No entanto, como muitas nações africanas, Uganda continua a depender fortemente da ajuda externa. O Banco Mundial retomou recentemente o financiamento após uma suspensão de dois anos, motivada pela controversa lei anti-LGBTQ+ do país.

Fragilidade democrática

Apesar dos avanços económicos, a corrupção continua a ser uma grande preocupação. Uganda perde quase 10 biliões de xelins ugandeses (cerca de 2,4 mil milhões de euros) por ano devido a práticas ilícitas, segundo o governo.

Sarah Bireete, directora-executiva do Center for Constitutional Governance (CCG), disse à DW que há "níveis elevados de corrupção dentro do governo", pois "quando arrecadamos 32 biliões [de xelins] e cerca de 10 biliões se perdem com corrupção, isso mostra o estado da democracia em Uganda", afirmou.

O país ocupa a 126ª posição entre 140 no Índice de Estado de Direito do World Justice Project, com notas baixas em protecção de direitos, independência institucional e responsabilização.

Bireete também criticou o processo eleitoral de Uganda. "As nossas eleições têm piorado uma após a outra, com o abuso do dinheiro e o domínio das forças de segurança sobre a cena política”, disse.

Ela não culpa apenas Museveni, mas toda a classe política. Segundo Bireete, a crescente violência eleitoral desestimula a participação dos eleitores, o que frequentemente beneficia o incumbente.

"Dados recentes mostram um aumento da violência eleitoral desde 2001, e cada eleição tem sido pior que a anterior”, afirmou.

O artiista ugandês, Bobi Wine, em visita à Alemanha (foto de arquivo)Foto: Mohammed Khelef/DW

Oposição sob pressão

Os críticos de Museveni enfrentam frequentemente assédio, detenções e até raptos. Figuras proeminentes da oposição, como Kizza Besigye e Bobi Wine, foram detidas e processadas repetidamente por desafiar o governo.

As detenções prolongadas de Besigye chamaram a atenção internacional para o histórico de direitos humanos de Uganda.

Bobi Wine, crítico ferrenho e ex-candidato presidencial, disse à DW: "É lamentável que em Uganda a impunidade esteja a aumentar, a ilegalidade esteja a aumentar. Nem a polícia, nem os tribunais, nem o parlamento conseguem travar ou responsabilizar isso”.

O eleitor Onyango reconhece que Museveni não tem sido tolerante com a dissidência, mas considera isso justificável.

"Com Museveni, não vemos a máxima liberdade política no país, mas, é claro, sendo ele o incumbente, tem de impor pelo menos certas limitações sobre como os outros partidos irão actuar contra o seu governo”.

O político Bobi Wine acredita que a pressão internacional é essencial para mudanças.
"Apelamos à comunidade internacional, da qual este regime sobrevive graças ao financiamento dos doadores, para que se afaste dele”, disse.

Direitos humanos e liberdade de imprensa

O professor Adolph Mbaine, da Divine International University, reconhece avanços em direitos humanos desde que Museveni chegou ao poder, mas alerta para retrocessos recentes.

"Acho que, como país, avançámos na observância e protecção dos direitos humanos, especialmente depois de Museveni assumir em 1986", disse.

Ele mostra-se preocupado com o que chama de abuso de poder por agentes do Estado para reprimir direitos e liberdades dos cidadãos.

"Isso traz de volta memórias do passado em termos de violações de direitos humanos. Vai contra o espírito da Constituição de 1995 em relação à protecção e promoção dos direitos humanos", afirmou.

A liberdade de imprensa também está sob escrutínio. Uganda ocupa a 143ª posição entre 180 países no Índice de Liberdade de Imprensa da Repórteres Sem Fronteiras.

Robert Ssempala, da Human Rights Network for Journalists Uganda, disse à DW que "a maioria dos jornalistas visados hoje, e constantemente vitimizados, são aqueles que cobrem a oposição e os órgãos de comunicação independentes".

Museveni não dá sinais de que pretende deixar o poder. O seu domínio político permanece firme, e as eleições do próximo ano serão um teste decisivo para saber se os ugandeses realmente desejam mudança - ou se o status quo irá prevalecer.

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