Foi há um ano que começaram, na África do Sul, os trabalhos da comissão de inquérito Zondo, que investiga alegações de corrupção durante o mandato do ex-Presidente Zuma. Analistas fazem balanço positivo, mas pedem mais.
Publicidade
Pouco a pouco, a chamada comissão de inquérito Zondo tem desvendado uma alegada teia de corrupção formada enquanto Jacob Zuma esteve na Presidência sul-africana, entre 2009 e 2018.
Até agora, uma das maiores conquistas da comissão foi desvendar circunstâncias que terão conduzido a crimes de corrupção, comenta o analista Ralph Mathekga - essas informações são agora do conhecimento geral e podem ter consequências políticas.
"Os eleitores que acompanham o trabalho da comissão têm uma perspetiva diferente dos que não acompanham", afirma Mathekga em entrevista à DW.
Revelações
Um ano de investigações à presidência Zuma
A comissão de inquérito é presidida pelo juiz do Tribunal Constitucional Raymond Zondo e abriu uma caixa de pandora.
Desde o início das investigações, em agosto de 2018, a comissão ouviu dezenas de políticos, empresários e funcionários públicos. Por exemplo, o ex-vice-ministro das Finanças Mcebisi Jonas, que revelou que os irmãos empresários Gupta lhe ofereceram o cargo de ministro e até o ameaçaram matar se não aceitasse um suborno de 600 milhões de rands (o equivalente a cerca de 35 milhões de euros).
Themba Maseko, antigo chefe do gabinete de comunicação de Jacob Zuma, também testemunhou perante a comissão de inquérito: o então Presidente sul-africano tê-lo-ia incumbido de o ajudar nos negócios com os Gupta. Mas Maseko terá preferido renunciar ao cargo.
Zuma rejeita ser "rei dos corruptos"
Até agora, o ponto alto dos trabalhos da comissão de inquérito foi a audição de Jacob Zuma.
O antigo chefe de Estado sul-africano tentou adiar a audição o mais possível, mas acabou por testemunhar em meados de julho. Zuma refutou todas as acusações e queixou-se de estar a ser alvo de uma conspiração para "assassinar o seu caráter".
Não é tarefa da comissão de inquérito levar os acusados a tribunal. Ainda assim, o trabalho da comissão tem sido importante, segundo o analista Ralph Mathekga: "Mesmo que esta comissão não tenha consequências diretas, agora sabemos que houve muita coisa que correu mal, e se os políticos não são responsáveis, quem é?"
Mas quanto mais se abre a caixa de pandora, mais sul-africanos pedem para que se leve os acusados a tribunal.
David Lewis, da organização anticorrupção Corruption Watch, diz que não deveria ser sequer preciso esperar pelo relatório final da comissão de inquérito Zondo para avançar com um processo na Justiça.
"Quando mais se sabe, mais as pessoas ficam furiosas por não se instaurar um processo e por os culpados continuarem a andar à solta", diz Lewis em entrevista à DW. "Há muito que as autoridades criminais têm matéria com que podem trabalhar."
África do Sul: Comida que é um perigo para a saúde
Pelo menos, metade dos sul-africanos tem excesso de peso. Muitas pessoas, sobretudo nas zonas mais pobres, consomem comida "fast food". A DW visitou o bairro de Hillbrow, em Joanesburgo.
Foto: Lungile Hlatshwayo
'Fast food' famosa
Nos bairros mais pobres da África do Sul, o "kota" é quase uma comida básica para miúdos e graúdos. Trata-se de pão torrado com batatas fritas e queijo e enchidos processados. É barato e enche. O preço depende do que leva; varia entre o equivalente a 30 e 90 cêntimos de euro.
Foto: Lungile Hlatshwayo
Comida barata e perigosa
Mas o valor nutricional do "kota" deixa muito a desejar. E, para poupar, os vendedores costumam mudar poucas vezes o óleo. No ano passado, o pior surto de listeriose de sempre matou 183 pessoas - a bactéria foi encontrada numa "salsicha" artificial.
Foto: Lungile Hlatshwayo
Pobreza e desnutrição
Comida pouco saudável - com poucos nutrientes, mas muita gordura, açúcar e sal - está a causar uma nova epidemia na África do Sul e noutros países em desenvolvimento. Má alimentação provoca obesidade e pode levar a mais complicações, como diabetes, cancro e doenças cardiovasculares, responsáveis por metade das mortes prematuras na África do Sul.
Foto: Lungile Hlatshwayo
46% de carne
A comida pouco saudável é mais barata. Neste supermercado, um quilo desta salsicha processada custa o equivalente a três euros. Mas se olharmos para a lista de ingredientes, é isto que aparece: 46% de carne de porco e frango "desossada à máquina". O resto é água, estabilizantes, amido e aditivos químicos.
Foto: Lungile Hlatshwayo
Xima vs. muesli
Aqui, "o que se vende melhor é a Mealie Meal", diz o gerente do supermercado. Em muitas famílias, a xima (funge) é algo que se come a todas as refeições. Muitos clientes compram também leite de longa duração e açúcar. Mas em supermercados de zonas mais ricas, as prateleiras estão recheadas com outros produtos: flocos de cereais com frutos secos, arroz, massa e pão. Mais caros.
Foto: Lungile Hlatshwayo
"'Pap' to go"
A xima, ou "pap", como se diz aqui, é a base da alimentação dos mais pobres. "Comemos sobretudo 'pap'", afirma Thema Masuku, um cliente de um restaurante em Hillbrow, um bairro de Joanesburgo. "Comemos 'pap' e carne, que é o que as pessoas daqui conseguem comprar". Mas muitas não sabem que este tipo de alimentação é pouco rico em nutrientes, e isso pode ter consequências para a saúde.
Foto: Lungile Hlatshwayo
Novos hábitos alimentares
Nos últimos anos, os hábitos alimentares mudaram em muitos países em desenvolvimento. As pessoas comem sobretudo refeições já feitas ou alimentos processados industrialmente. Em muitos desses países, a cozinha tradicional tem sido colocada a um canto, tanto por miúdos como por graúdos. Aqui, em Hillbrow, depois da escola terminar, os jovens costumam fazer fila para comprar "kotas".
Foto: Lungile Hlatshwayo
O perigo aumenta
Diabetes, ataques cardíacos ou hipertensão não eram frequentes em África. Mas o cenário está a mudar rapidamente. Os ingredientes do "kota" - gordura, açúcar e sal - provocam esse tipo de problemas. A Organização Mundial de Saúde estima que, em 2030, estas doenças serão a principal causa de morte.
Foto: Lungile Hlatshwayo
Vegetais, mas poucos
"Mesmo quando as pessoas compram vegetais, cozinham-nos de forma pouco saudável", diz Thandi Puoane, da Universidade do Cabo Ocidental. Num dos seus estudos, a universidade descobriu que muitas pessoas cozinham espinafres, tomates ou couve com restos de carne e muita gordura. E intensificadores de sabor. Ou seja, comida que poderia ser saudável pode transformar-se numa bomba de calorias.
Foto: Lungile Hlatshwayo
Único prato do menu
"Mama Dombolo" é um restaurante em Hillbrow. E aqui só há um prato no menu: "pap" com "matambo", ensopado de ossos de carne de vaca. Normalmente é acompanhado de uma porção de "morogo", espinafres africanos. Em suma, um prato pouco nutritivo, como noutros locais que vendem comida neste bairro.