1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Zimbabué: Mugabe foi deposto há um ano - o olhar alemão

Daniel Pelz | ac | cvt
21 de novembro de 2018

Um ano depois da queda de Robert Mugabe o Governo da Alemanha parece ter perdido a esperança de que a saída do ex-Presidente possa colocar o Zimbabué no rumo da democratização, depois de décadas de regime autoritário.

Simbabwe Präsidentschaftswahl Emmerson Mnangagwa erklärter Wahlsieger
Emmerson MnangagwaFoto: Getty Images/D. Kitwood

Aos olhos dos observadores ocidentais, o Governo de Emmerson Mnangagwa não conseguiu reformar o sistema judicial ou as forças de segurança do país, pilares fundamentais do regime Mugabe. "Críticos dizem ainda que a opressão aos políticos da oposição, jornalistas e organizações da sociedade civil continua", explica David Mbae, diretor da fundação alemã Konrad-Adenauer no Zimbabué.

David Mbae adianta: "Estamos a falar de questões como as liberdades de imprensa, de expressão e de reunião, ou o respeito pelos direitos fundamentais, que são pontos sobre os quais o Governo deu sinais bastante positivos e até deixou claro, simbolicamente, que queria iniciar reformas, mas na prática não aconteceu muita coisa e é provavelmente isso que os parceiros internacionais esperavam”.

Polémicas eleições pós-Mugabe

As eleições presidenciais controversas, no final de julho, prejudicadas por acusações de fraude e protestos violentos, também não contribuíram para aumentar a confiança alemã. No início de agosto, as forças de segurança mataram seis pessoas em protestos contra atrasos na divulgação dos resultados das presidenciais. O Governo do Zimbabué, por outro lado, tem repetidamente tentado atrair investidores privados e nações ocidentais e prometido publicamente restaurar as relações com países ocidentais como a Alemanha ou a Grã-Bretanha. 

Gerd Müller, ministro alemão da Cooperação Económica, visitou Harare em agosto de 2018Foto: picture-alliance/SvenSimon

Retoricamente, pelo menos, é um desvio notável da política de "olhar para o leste" de Mugabe, que procurou laços mais estreitos com a China nos últimos anos, depois que as relações com os partidos ocidentais azedaram no início dos anos 2000. A Alemanha suspendeu toda a assistência bilateral ao desenvolvimento em 2002, após um aperto autoritário por parte de Mugabe, que incluiu a apreensão de fazendas pertencentes a brancos e ataques crescentes contra políticos da oposição e da sociedade civil e órgãos de imprensa independentes.

Governo alemão cortou apoio financeiro ao Zimbabué

Berlim, desde então, reduziu o apoio à ajuda humanitária e a assistência a várias organizações da sociedade civil e fundos multinacionais. Esse é um capítulo que o novo Governo do Zimbábue gostaria de fechar: "Concordamos que devemos intensificar o reengajamento", disse o ministro das Finanças, Patrick Chinamasa, a repórteres, após uma visita do ministro alemão do Desenvolvimento, Gerd Müller, a Harare, no final de agosto.

Entretanto Chinamasa foi substituído, no cargo de ministro das Finanças, por Mthuli Ncube, em setembro de 2018. "Também discutimos a necessidade de criar empregos no Zimbabué. Em outras palavras, queremos expandir e incorporar unidades de formação profissional. Também discutimos linhas de crédito", disse ainda Chinamasa.

O país precisa desesperadamente de assistência financeira, afirma David Mbae, em entrevista à DW África: "A situação da economia continua precária. A inflação aumentou drasticamente, os preços dos alimentos subiram muito e os salários estão estagnados. A sobrevivência da população comum está muito mais difícil. Faltou pão, óleo de cozinha, gasolina e às vezes era preciso ficar em filas por horas para conseguir gasolina."

Zimbabué: Robert Mugabe foi deposto há um anos

This browser does not support the audio element.

Mas fontes diplomáticas em Berlim dizem que as condições para as linhas de crédito ainda não foram cumpridas. A Alemanha insiste na implementação de reformas políticas e económicas pelo Governo de Mnangagwa. Atualmente a dívida do Zimbabué soma mais de 11 mil milhões de dólares. Uma delegação liderada por representantes do Ministério da Cooperação Económica e do Desenvolvimento da Alemanha é esperada em Harare para negociações, no final deste mês. Mas um porta-voz disse à DW que o ministério não planeia assumir nenhum compromisso neste ano ou no próximo.

Oposição na Alemanha defende retomada da ajuda à sociedade civil

A oposição política da Alemanha quer mais pressão internacional sobre o Governo do Zimbabué. O porta-voz parlamentar para Cooperação e Desenvolvimento do Partido "Os Verdes", Uwe Kekeritz, defende a retomada da ajuda, mas em cooperação com a sociedade civil e não com o Governo do Zimbabué": "Eu realmente não vejo nenhuma mudança política, muito menos em termos de desenvolvimento de estruturas democráticas. A questão dos direitos humanos permanece problemática, a situação económica está também a degradar-se, as pessoas estão a passar fome. Por isso, é importante que a comunidade internacional intervenha aqui e forneça ajuda humanitária".

Saltar a secção Mais sobre este tema