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Um laboratório para investigadores de medicina angolanos

João Carlos (Lisboa)14 de julho de 2015

Angola precisa de investigadores na área da saúde. Por isso, a Fundação Eduardo dos Santos (FESA) enviou jovens formados em Medicina para a sua capacitação em Portugal, numa parceria com a Fundação Calouste Gulbenkian.

Foto: Michaela Führer

A formação em investigação biomédica, que decorreu nos últimos dois meses em várias instituições portuguesas, tem o condão de criar um corpo de especialistas nacionais com experiência, capaz de aprofundar estudos sobre doenças, como a malária, responsáveis por um elevado índice de mortalidade, sobretudo em crianças.

António Ramalho Lopes, médico no Hospital Geral de Benguela, é um dos seis jovens angolanos que frequentaram em Portugal o segundo estágio de investigação biomédica.

No Instituto de Higiene e Medicina Tropical, Ramalho Lopes desenvolveu estudos nas áreas da malária, tuberculose e saúde pública. Debruçou-se, por exemplo, sobre a resistência do plasmódio, o parasita causador da malária. No final da formação, o médico apresentou ainda uma proposta de projeto de investigação para conhecer os fatores de risco da febre tifóide na população de Benguela.

"A perfuração intestinal é um dos principais problemas na febre tifóide. Grande parte das pessoas morre devido à perfuração intestinal, que é uma complicação da doença", adianta.

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Apesar das dificuldades para conseguir financiamento para a investigação laboratorial, o médico angolano pretende lançar mãos à obra em janeiro de 2016.

Outro dos colegas de Ramalho Lopes quer conhecer melhor os casos de prevalência da hipertensão arterial em Angola.

Além das consultas médicas

Os estágios destes médicos permitiram desenvolver pesquisas em vários laboratórios, dotando os quadros angolanos de instrumentos que poderão incentivar, no futuro, a opção pela área da investigação em saúde.

"Os 'médicos cientistas' estarão certamente mais bem preparados para seguir os seus doentes do que um médico que seja apenas um 'prático' e não se preocupe em ir um pouco mais além do atendimento ao doente que tem à sua frente", observa João Lavinha, um dos orientadores do estágio.

Segundo Lavinha, investigador na área da genética humana do Instituto Nacional Doutor Ricardo Jorge, a experiência com cada doente pode ter relevância para outros pacientes e para o conhecimento da própria doença em geral.

Nova edição em 2016?

As propostas de projetos de investigação científica a desenvolver no terreno pelos médicos bolseiros terão de ser submetidas antes à aprovação da Comissão de Ética.

Numa comunicação via Skype, o diretor da Fundação Eduardo dos Santos (FESA), João de Deus Pereira, enalteceu a cooperação entre Angola e Portugal neste domínio e disse esperar pelos resultados desta ação de formação, que terminou na passada quinta-feira (09.07).

Investigação é contributo importante para futuro da medicina em Angola e no mundoFoto: Fernando Sefrin

A iniciativa terá continuidade em 2016, alargando o leque para as demais províncias angolanas, como nos dá conta Maria Hermínia Cabral, responsável pelo Programa Parcerias para o Desenvolvimento da Fundação Calouste Gulbenkian.

"Estamos muito agradados com os resultados que vão sendo alcançados. Sabemos que são passos pequenos, mas é um programa muito estruturado, com objetivos muito bem definidos e que pode ter impacto – que nós só mediremos daqui a uns anos quando estas pessoas fizerem os seus doutoramentos, produzirem os seus artigos e influenciarem as políticas públicas", diz Maria Hermínia Cabral.

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