Um mês após golpe militar, Mali volta a ser palco de confrontos
2 de maio de 2012 Nesta quarta-feira (02.05), pelo terceiro dia consecutivo, registaram-se violentos enfrentamentos na capital Bamako, apesar de a junta militar autora do golpe de Estado continuar fiel ao acordo-quadro concluído com a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO).
Antes destes novos confrontos, numa entrevista à rádio-televisão do Mali (ORTM), o capitão Amadou Haya Sanogo anunciou que o presidente se mantinha no cargo tal como o governo e que o "problema interno" [dos enfrentamentos] nada tinha a ver com o acordo negociado em 06.04 com mediação do Burkina Faso.
Segundo agências noticiosas, com essa declaração, o capitão Sanogo queria mostrar que a junta militar conserva assim toda a sua influência em Bamako, principalmente depois do fracasso de uma ofensiva de militares leais ao presidente derrubado Amadou Toumani, refugiado em Dacar, capital senegalesa. Essa unidade teria tentado realizar um contra-golpe na segunda-feira (30.04). Sanogo é o chefe da junta que tomou o poder antes de passá-lo a um governo de transição.
Confrontos sem reações políticas
Por enquanto, a classe política não diz nada, como afirmou à DW África o jornalista maliano Baba Ahmed: "Somente o governo, através de um comunicado lido pelo ministro da comunicação, pediu muita calma à população e a todos os malianos para que mantenham a esperança na reconquista do norte do país, ocupado pela rebelião [tuaregue]", explicou o jornalista.
De recordar que a "má administração" do combate à rebelião tuaregue no norte do Mali foi apontado pelos golpistas como motivo para a tomada de poder no país.
De acordo com vários observadores, os confrontos que começaram na segunda-feira fizeram pelo menos 14 mortos e mais de 40 feridos, e vêm fragilizar um pouco mais um processo muito complicado para a saída da crise, algo que se assemelha também ao que se passa atualmente na Guiné-Bissau.
E enquanto isso, a população teme o pior, relatou Baba Ahmed: "As pessoas têm medo principalmente à noite, onde não há um grupo que na verdade consiga manter a segurança da cidade e arredores a 100%". De acordo com o testemunho do jornalista, existe um nítido domínio dos militares golpistas, "que controlam o aeroporto, o quartel da ex-guarda presidencial e a Rádio-televisão nacional, ou seja: tudo que sejam pontos estratégicos da cidade de Bamako", disse.
Um outro jornalista, Hassan Koné, do diário Le Républicain, afirmou à DW África que está claro que os cidadãos de Bamako têm medo porque há muitos anos não se ouvia falar de golpes militares. "Com este novo quadro, logo depois da primeira troca de tiros, os habitantes correram e fecharam-se em casa", relatou.
Confrontos na capital beneficiam grupos armados no norte
Na semana passada, o capitão Sanogo recusou as decisões anunciadas em Abidjan (Costa do Marfim) no termo de uma cimeira de chefes de Estado da CEDEAO, concernentes ao envio de soldados ao Mali com a tarefa de assegurar a transição. Sanogo também rejeitou a decisão da organização sub-regional de fixar o período de transição em 12 meses, até a realização de eleições presidenciais e legislativas.
Enquanto isso, uma delegação da ex-junta militar chegou esta quarta-feira (02.05) em Ouagadougou para uma reunião com o presidente do Burkina Faso, Blaise Compaoré, mediador da CEDEAO na crise maliana. Antes, uma reunião prevista para terça-feira (01.05) foi anulada após os incidentes ocorridos em Bamako.
O golpe de Estado de 22.03 foi, entretanto, aproveitado por vários grupos armados, incluindo os rebeldes tuaregues que assumiram o controle do norte do Mali. Um desses grupos, o Movimento pelo Jihad na África Ocidental (Mujao) reclamou esta quarta-feira (02.05) o pagamento de um resgate de 45 milhões de euros para a libertação de 9 reféns: sete argelinos, uma italiana e uma espanhola.
Autor: AR/AFP/Reuters
Edição: Renate Krieger