Mais um ataque a comando da polícia no norte de Moçambique
Lusa
24 de outubro de 2017
Uma pessoa morreu e outras três ficaram feridas depois de alvejadas pela polícia de Moçambique, num ataque de residentes ao comando provincial de Malema, no norte do país, confirmou à imprensa o porta-voz da corporação.
Publicidade
Segundo o porta-voz da polícia Inácio Dina "quatro cidadãos foram alvejados, um perdeu a vida a caminho do hospital e os outros três feridos foram transportados para o Hospital Central de Nampula", província onde ocorreram os incidentes, na segunda-feira (23.10.).
De acordo com aquele responsável, a polícia disparou para se defender de um grupo que pretendia libertar cerca de 40 pessoas que tinham sido detidas dias antes por suspeita de instigarem tumultos com base na história dos "chupa-sangue".
O distrito de Malema foi um dos afetados pela recente onda de agitação provocada pela ideia de que há pessoas que, durante a noite, retiram o sangue às pessoas com instrumentos especiais.
O mito é recorrente e já tinha motivado distúrbios em que morreram duas pessoas, na madrugada de quinta-feira (19.10.), em Gilé, na província da Zambézia.
Necessidade de um trabalho de prevenção
Inácio Dina disse à agência de notícias Lusa que é necessário "um trabalho de base, de prevenção", que envolva diversas entidades e organizações, por exemplo, na área da saúde, para esclarecer a população.
Como exemplo dessa necessidade, apontou um outro caso registado nos últimos dias, na província de Sofala, em que uma residente, só por ter sido vista a sair de uma consulta num hospital, foi considerada vítima de "chupa-sangue", sinalizando a chegada dos agressores à região.
O porta-voz da PRM considera essencial a prevenção para que a desinformação não cresça ao ponto de provocar tumultos com multidões armadas a atacar as autoridades e estas a terem que responder, como tem acontecido.
Dois antropólogos ouvidos pela Lusa consideram que a questão pode ser mais profunda do que parece."O 'chupa sangue' parece uma figura projetada pelas populações descontentes e simboliza um governo local que não consegue criar condições para que a vida das pessoas seja mais digna", disse à Lusa, o antropólogo moçambicano Segone Cossa.
Por seu turno, Tirso Sitoe, também antropólogo moçambicano, salientou na altura que não basta "dizer simplesmente que [a história do 'chupa-sangue'] se trata de um boato. Esta afirmação não tem em si um modelo de explicação sobre um determinado problema social que tem de ser resolvido. É preciso entender e desmistificar a questão a nível local", concluiu.
As riquezas minerais de Nampula
Em Moma, a província moçambicana de Nampula tem algumas das maiores reservas de areias pesadas do mundo, das quais se podem extrair minerais como a ilmenite, o zircão e o rutilo.
Foto: DW/Petra Aschoff
Cadeia de riquezas minerais
Em Moma, a província moçambicana de Nampula tem algumas das maiores reservas de areias pesadas do mundo, das quais se podem extrair minerais como a ilmenite, o zircão e o rutilo. As areias pesadas da região são parte de uma cadeia de dunas que se estendem desde o Quénia até Richards Bay, na África do Sul. Em Moma, exploram-se os bancos de areia de Namalote e as dunas de Topuito.
Foto: Petra Aschoff
Areias para diferentes indústrias
Unidade de lavagem de areias pesadas da mineradora irlandesa Kenmare, um dos chamados "megaprojetos" estrangeiros em Moçambique. A ilmenite, o zircão e o rutilo, extraídos das areias, são usados, respetivamente, na indústria de pigmentos, cerâmica e na produção de titânio. O rutilo, um óxido de titânio, é fundamental para a produção do titânio usado para a construção de aviões.
Foto: Petra Aschoff
Lucro após prejuízo
Os produtos são transportados através de um tapete rolante até um pontão no Oceano Índico. Segundo media moçambicanos, a extração de areias pesadas na mina de Topuito, em Moma, resultou num lucro de 39 milhões de dólares no primeiro semestre de 2012. No mesmo período de 2011, a empresa registou prejuízo de 14 milhões por causa da baixa dos preços devido à crise económica mundial.
Foto: Petra Aschoff
Problemas trabalhistas?
O semanário moçambicano Savana repercutiu, em outubro de 2011, a decisão do ministério do Trabalho de suspender 51 trabalhadores estrangeiros em situação ilegal na Kenmare. Segundo o Savana, na mesma altura, a Inspeção Geral do Trabalho descobriu que 120 trabalhadores indianos estavam para ser recrutados pela Kenmare. O recrutamento foi cancelado.
Foto: Petra Aschoff
Mudança de aldeia
Para poder explorar as areias pesadas em Nampula, entre 2007 e 2010 a mineradora irlandesa Kenmare transferiu as moradias de centenas de pessoas na localidade de Moma, no norte do país. A empresa prometeu acesso à água, casas melhores e postos de saúde. Na foto, nova escola primária para a população local.
Foto: Petra Aschoff
Acesso à água
Em 2011, o novo bairro de Mutittikoma, em Moma, ainda não tinha um poço d'água. Esta é transportada até o vilarejo com um camião cisterna. O acesso à água também é garantido com uma tubulação que a Kenmare instalou ali. Porém, como a mangueira só deixa correr um fio d'água, as mulheres que vêm buscá-la esperam no sol durante horas a fio para encher baldes e recipientes.
Foto: Petra Aschoff
Responsabilidade social
Uma casa construída pela Kenmare para a população desalojada por causa da exploração das areias pesadas em Moma. No início de setembro, Luísa Diogo, antiga primeira-ministra de Moçambique, disse que o país deve estar "muito atento" para que os grandes projetos de recursos naturais – como carvão e gás – beneficiem as populações. Ela também defende renegociação de contratos multinacionais.
Foto: Petra Aschoff
Em busca do brilho
Para além das areias pesadas, o solo da parte sul da província moçambicana de Nampula oferece mais riquezas. Na foto: garimpeiros à procura da pedra preciosa turmalina em Mogovolas. Os garimpeiros recebem cerca de um euro por dia para cavar buracos com vários metros de profundidade. As pedras são vendidas a um comerciante intermediário.
Foto: Petra Aschoff
Verde raro
As pedras de turmalina costumam ter várias cores. Uma das mais conhecidas é a verde. Mas existe outro verde precioso que se torna cada vez mais raro em Mogovolas: o da vegetação. Os buracos cavados pelos garimpeiros podem não ter pedras, mas permanecem após a escavação e sofrem erosão. As plantas não são plantadas novamente, apesar de a recomposição da vegetação ser prevista pela lei.