Um morto e quatro feridos é o balanço de um ataque armado ocorrido nesta sexta-feira na província central de Sofala. Na quinta-feira, dois ataques a autocarros também provocaram cinco feridos no centro de Moçambique.
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O ataque desta sexta-feira (03.04) ocorreu na zona limítrofe de Pungue e visou um autocarro de passageiros que seguia na primeira coluna militar - que partiu às 7 horas locais do cruzamento de Inchope - de acordo com o correspondente da DW África na região.
Na quinta-feira (02.04), dois ataques a vários autocarros fizeram pelo menos cinco feridos na zona de Mutindiri, junto à N1, a principal estrada que liga o sul e o norte de Moçambique, disseram à Lusa testemunhas e autoridades.
No primeiro ataque, um autocarro que se deslocava no sentido sul-norte foi alvejado por vários tiros, do lado do motorista, cerca das 8 horas, pouco depois de passar a povoação de Mutindiri. Três pessoas sofreram ferimentos ligeiros, incluindo o condutor.
Meia-hora depois, um outro autocarro, que viajava no mesmo sentido, foi metralhado e atingido por várias balas na parte traseira, quando percorria o mesmo troço, no meio de outros dois autocarros, tendo duas pessoas sofrido ferimentos ligeiros.
"Não parei porque queria salvar passageiros"
"Eu estava a fazer uma curva e percebi que estava sendo atacado quando os passageiros ficaram agitados e a minha mão começou a sangrar", contou à Lusa um dos condutores, Enoque Matavel. "Não parei porque queria salvar os 37 passageiros" que seguiam abordo, acrescentou.
Os dois veículos e passageiros pernoitaram na povoação de Muxungué, de onde o transporte saiu às 7 horas e foram alvejados pouco depois de terem deixado o troço com escolta militar no distrito de Chibabava, na província de Sofala, perto da linha que a separa de Manica.
Os autocarros tinham saído de Maputo e tinham como destino Quelimane e Nampula.
Em declarações à Lusa, fonte do centro de saúde de Inchope confirmou a entrada e o tratamento de forma ambulatória de cinco pessoas por ferimentos de balas e estilhaços de vidro, que depois seguiram viagens.
Há cada vez mais deslocados no centro de Moçambique
Cerca de 6.000 pessoas estão alojadas em centenas de tendas distribuídas por quatro centros de acomodação do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INCG) nos distritos de Gondola, Vanduzi, Mossurize e Báruè.
Foto: DW/B. Jequete
Fugir à guerra
Mais de mil pessoas chegaram em setembro e outubro de 2016 ao novo centro de acolhimento de Vanduzi, na província de Manica, onde se avolumam as queixas. Fogem do conflito que opõe as forças governamentais aos homens armados da RENAMO, por medo de serem atingidas pelas hostilidades. Dezenas de cidadãos ficaram sem casa na sequência de incêncios provocados por grupos rebeldes.
Foto: DW/B. Jequete
Deslocados de todas as idades
As autoridades abriram o centro de acolhimento de Vanduzi recentemente face ao número crescente de ataques armados na região. Aqui, vivem adultos, idosos, jovens e crianças que foram obrigados a abandonar a escola. Feniasse Mateus está a faltar às aulas. "Viemos para aqui com a família, estou há um mês sem estudar", lamenta.
Foto: DW/B. Jequete
Sem água potável
Em Vanduzi, onde foi acolhida, Fátima Saíde queixa-se das fracas condições, nomeadamente pela inexistência de água potável. "Estamos a sofrer por causa da água, estamos a beber água suja, cheia de capim e de bichos. Têm-nos dado cloro para pormos na água e bebermos". Segundo esta deslocada, a água é retirada de furos tradicionais e charcos.
Foto: DW/B. Jequete
Risco de doenças
A falta de água própria para consumo a somar à falta de condições de higiene preocupa estes milhares de deslocados. Fátima Saíde, teme por exemplo, a eclosão de doenças como a cólera e os surtos de diarreia aguda. Por outro lado, a seca na região agrava as dificuldades.
Foto: DW/B. Jequete
Mais de uma centena de famílias deslocadas em Vanduzi
Os deslocados do novo centro de Vanduzi, criado no início de outubro inicialmente com 125 famílias, são provenientes de Nhamatema, Punguè Sul, Chiuala, Honde, Guta, Mucombedzi, Pina, cruzamento de Macossa, Mossurize, Dombe e Chemba, zonas críticas e agora despovoadas, onde são frequentes relatos de confrontos entre as forças governamentais e o braço armado do principal partido da oposição.
Foto: DW/B. Jequete
Uma fuga pela defesa e segurança
Joaquim Abril Jeque condena o clima de terror no centro do país que, na sua opinião, é culpa dos homens armados da RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana). "Achámos conveniente fugir à procura de defesa", conta este deslocado. Segundo ele, as ameaças da RENAMO são constantes. "Ameaçam-nos com armas, matam os nossos animais, levam a nossa comida, agridem as nossas mulheres", exemplifica.
Foto: DW/B. Jequete
"Toneladas" de bens de apoio a caminho
Cremildo Quembo, porta-voz do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC), diz que as autoridades estão a ajudar como podem as famílias deslocadas, em Vanduzi. "De salientar que este processo de assistência às famílias é contínuo e já estão a entrar toneladas [de bens de apoio] para todos os distritos afetados", garante o responsável.
Foto: DW/B. Jequete
Falta de espaço
Devido à insuficiência de tendas, duas ou mais famílias são obrigadas a conviver na mesma barraca de seis metros quadrados. Rostos tristes e lábios rasgados denunciam a pobreza e a fome. A maioria destes deslocados dependem apenas da distribuição de alimentos do INGC, que definem no entanto como "irregular".
Foto: DW/B. Jequete
Faltar à escola
Para além do trauma e do medo constante, a escalada do conflito interno em Moçambique terá outras consequências no futuro das crianças do centro do país. Chinaira José é uma de várias centenas de estudantes que ao serem obrigados a sair da sua zona de residência têm de faltar às aulas, pondo em risco a sua formação escolar.