1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Um século de diamantes em Angola

Fátima Valente12 de novembro de 2013

Angola tem grande potencial na produção e descoberta de jazigos de diamantes, indica o estudo "Cem Anos de Diamantes". O documento estima aumentos de produção entre 20 e 30 % para 10 milhões de quilates por ano.

Foto: picture-alliance/dpa

A exploração começou em 1917, mas os primeiros registos de diamantes remontam a 1912, como conta Luís Chambel, coordenador do estudo “Cem Anos de Diamantes em Angola”, lançado em outubro pelas consultoras Sínese e Eaglestone.

Com base nos registos históricos, o engenheiro de minas e consultor em geologia económica Luís Chambel situa as descobertas dos primeiros diamantes na Lunda Norte, no ribeiro Mussalala: “Foram descobertos por geólogos belgas, na sequência de trabalhos que estavam a ser realizados na atual República Democrática do Congo”.

O ano de 1952 também é importante na história diamantifera de Angola, já que é a data em que foi descoberto o primeiro kimberlito no país. “Quarenta anos depois da descoberta dos primeiros diamantes em Angola encontra-se uma das suas fontes primárias, e a partir daí, até 1975, são descobertos cerca de 600 kimberlitos, aponta o consultor.

No final da década de 1960, Angola produzia cerca de dois milhões de quilates. Registou-se depois um ligeiro decréscimo até 1974 e durante a guerra civil houve anos em que a produção foi inferior a um milhão e meio de quilates. Os níveis de produção só voltam a superar os dos anos sessenta no ínício da década de 2000 com a entrada em produção da mina do Catoca, que é mais ou menos coincidente com o processo de paz e estabilização de Angola. “O primeiro grande projeto industrial de kimberlitos deu-se praticamente 50 anos depois do primeiro kimberlito ter sido descoberto”, sublinha o consultor Luís Chambel.

Angola produz oito milhões de quilates de diamantes por anoFoto: Fotolia/ iTake Images


Indústria em transição

Angola tem atualmente uma produção de cerca de oito milhões de quilates de diamantes, correspondente a 1,1 mil milhões de dólares. De acordo com o relatório “Cem Anos de Diamantes em Angola”, o país deverá manter a quarta ou quinta posição mundial em termos de produção, atrás de países como o Botsuana, Canadá e Rússia. “Acredito que Angola deverá crescer 20 a 30 por cento para até 10 milhões de quilates por ano, e que a produção possa crescer para os 1,3 mil milhões de dólares nos próximos dois, três ou quatro anos”, refere Luís Chambel.

O consultor fala em fase de transição graças à entrada em produção de novas minas de kimberlitos (rocha vulcânica). E entre os factores da mudança destaca a estabilidade social no país e a nova lei mineira, que entrou em vigor em dezembro de 2011, e que passa a permitir que os investidores internacionais tenham a maioria do capital social das empresas de exploração mineira.

“Com a nova lei haverá um interesse de investidores estrangeiros em desenvolver o potencial diamantífero de Angola”, afirma. Na opinião do consultor, os operadores angolanos que extraem e prospetam diamantes no setor do aluvião (depósitos em leitos sedimentares ou fluviais) vão também ganhar relevância, deixando de ser parceiros mais ou menos passivos dos projetos.

Luís Chambel observa ainda que os avanços tecnológicos e o processo de aprendizagem dos recursos humanos locais vão contribuir para o crescimento da indústria diamantífera angolana de forma sustentada nos próximos anos.


Riqueza e população

Para o engenheiro de minas, os projetos de diamantes no interior de Angola ajudam a fixar populações em locais onde a alternativa é a agricultura de subsistência, atividades recoletoras como a caça. “Tem uma importância social muito grande. É talvez a principal atividade que cria empregos no interior de Angola”, salienta.
Já o jornalista e ativista angolano Rafael Marques considera que os projetos diamantíferos no país não têm beneficiado as populações locais. Numa entrevista concedida à DW, após a publicação do livro “Diamantes de Sangue”, em 2011, o ativista fala em abusos graves na região do Cuango. “É uma situação de permanente terror, por parte das forças de defesa e segurança e forças militares estacionadas naquela localidade. Por exemplo, diariamente garimpeiros (que são grande parte dos jovens daquela região por falta de emprego) são torturados, muitos são mortos. Há casos de execuções sumárias e às vezes até em série”.

Um século de diamantes em Angola

This browser does not support the audio element.

O ativista Rafael Marques denuncia abusos no livro publicado em 2001Foto: Tinta da China
Saltar a secção Mais sobre este tema