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Um sonho de migração encravado no Níger

Katrin Gänsler / Bettina Riffel3 de setembro de 2015

O fluxo de migrantes que chegam todos os dias à Europa não é novidade para ninguém. Mas o que passam para chegar até aqui, pode ser chocante. As histórias variam. Dependem do local de origem e dos caminhos que trilharam.

Migrantes em Agadez, Niger, trocam dinheiro para continuar viagemFoto: DW/K. Gänsler

Trabalho é o que não falta para Mamane Kanta, o diretor da Rádio Alternativa FM, da cidade de Agadez, no Níger. E como habitualmente o principal tema do programa dele é a migração.

Afinal, a cidade de Agadez se encontra bem no meio de uma das principais rotas para cruzar o deserto do Sahara. Logo, não deixa de ser uma das etapas mais importantes para quem viaje pelo continente africano, com destino ao norte de África e depois, para a Europa.

Na reportagem da jornalista da DW Katrin Gänslere, Mamane Kanta alerta os ouvintes sobre os perigos de viajar pelo deserto, pegar um bote para atravessar o Mar Mediterrâneo e das dificuldades para se conseguir um visto de residência num país europeu. Mas tudo isso parece não desencorajar as pessoas. Porque mesmo assim, todas as semanas, mais de mil jovens arriscam as suas vidas para tentar a sorte na Europa.

O diretor da Rádio conta que "os migrantes reclamam que a situação no seu país de origem está difícil. Que quando eles têm trabalho, ganham tão pouco e nem conseguem pagar a escola de um filho. Outros deixam os seus países em busca do sonho de estudar ou seguir uma carreira como atleta."

Mamane Kanta, diretor da Rádio Alternativa FMFoto: DW/K. Gänsler

Enganados pelos passadores

Para muitos, a cidade de Agadez é praticamente uma parada obrigatória. E às vezes, por tempo indeterminado. Isso porque raramente alguém consegue pagar toda a viagem a um passador (até a Europa) de uma só vez. Então, muitos param em Agadez e aguardam que os seus familiares enviem dinheiro, ou trabalham à base de salários diários para pagar a próxima etapa da viagem. Victória, de 23 anos, é natural do sudeste da Nigéria, e está há mais de um ano em Agadez. Ela foi vítima do tráfico de pessoas. O traficante prometeu-lhe um curso e um futuro na Itália, mas o sonho se transformou em pesadelo: "Fui vendida e tive que conseguir dinheiro para comprar a minha liberdade de volta. Tudo aqui é muito difícil, principalmente para estrangeiros. Não podemos andar livremente."

Victória trabalhou um ano como prostituta, profissão que provavelmente também teria exercido na Europa. Enganada, naturalmente. Mas o que exatamente aconteceu no ano passado, ela prefere não falar.

Atualmente, Victoria mora com um homem, em Agadez, que a apresenta como esposa dele. Quando na verdade eles apenas dividem um quarto. Desde que o Níger assinou um acordo para combater o tráfico de pessoas, pressionado pela União Europeia, os migrantes tentam esconder-se ao máximo para não chamarem a atenção das pessoas. Victoria passa a maior parte do tempo deitada num colchão manchado e velho assistindo a DVDs com programas religiosos. E os sonhos dela não morreram: "Se eu conseguir juntar dinheiro suficiente, poderei ir embora. Aqui não é fácil. Vamos ver para que país eu vou. Alemanha ou Canadá. Tenho alguns talentos. Eu sei cantar. Eu terminei a escola e posso trabalhar."

Foto: DW/K. Gänsler
Victória, migrante nigerianaFoto: DW/K. Gänsler


Também se desiste de alcançar o "El Dorado"

Khalid, um jovem do Senegal, também deixou o seu país no ano passado, com destino à Itália. Só para chegar à Líbia, ele teve que desembolsar o equivalente a 1200 euros. E depois de se ter dado conta que estava a lidar com traficantes de pessoas, desistiu do sonho de chegar à Europa.

Hoje, ele encontra-se num campo para refugiados da Organização Internacional para Migração (OIM), na periferia de Agadez: "Durante quatro meses e meio estive na Líbia. Eu ainda não tinha conseguido juntar o dinheiro para pagar a última etapa da viagem e queria trabalhar para então ir à Itália. Mas não deu certo. Pegaram-me e prenderam-me. Agora, quero ir para casa. Estou cansado." O jornalista e diretor da Radio Alternativa FM considera uma pena que a maioria dos jovens tem que passar por situações difíceis para dar valor ao lugar de onde vêm. Na opinião dele, os governos dessas regiões - de onde os jovens saem - deveriam ser mais responsáveis, por exemplo no combate ao desemprego que é elevado no seio da juventude.

Os jovens migrantes pretendem regressar ao SenegalFoto: DW/K. Gänsler

O jornalista Mamane Kanta defende que uma ótima oportunidade para as autoridades fazerem isso, principalmente em ano de eleição. Ele lembra que em 2015 cinco países da África Ocidental vão às urnas.

"Se os presidentes não fizerem nada, se durante a campanha eleitoral fizerem apenas barulho, nada vai mudar. Eu, pessoalmente, venho acompanhando esse problema há vinte anos. As autoridades precisam tomar alguma providência." Do contrário, diz o jornalista, a migração nunca vai ter um fim.

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