Cimeira EUA-África terminou esta sexta-feira (21.06.) em Maputo com promessas de abertura do mercado norte-americano aos países africanos. Na cimeira também foram anunciadas iniciativas de desenvolvimento do continente.
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Um dos pontos mais focados na cimeira EUA-África foi a necessidade de aumentar os investimentos norte-americanos em África.
Através da iniciativa "Prosper Africa", ou "Prosperar África", os Estados Unidos da América (EUA) querem revitalizar a parceria com vários países do continente e passar a fazer negócios de outra forma.
Segundo o administrador da USAID, Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional, Mark Green, a ideia é diminuir as barreiras alfandegárias, abrir mais o mercado norte-americano aos produtos africanos, além de ajudar as empresas dos Estados Unidos, reduzindo os seus riscos de investimento.
"O 'Prosper Africa' não é um novo programa, mas sim um novo caminho para se fazer negócio, capitalizar o uso de toda a cadeia de finanças, bem como o acesso a todos os recursos dos EUA para os empresários africanos", esclarece Green.
Virar a página
O secretário de Estado Adjunto dos EUA para os Assuntos Africanos, Tibor Nagy, salientou que é preciso virar a página: "Nós queremos mudar a mentalidade nas relações EUA-África com base nas novas parcerias. Estamos comprometidos em participar ativamente para alavancar as parcerias com os empresários africanos."
Na cimeira EUA-África foram ainda dados exemplos de experiências bem-sucedidas de apoio a mulheres empresárias, através de linhas de crédito.
Worku Gachou, diretor-geral para África da agência de desenvolvimento do Governo norte-americano OPIC conta que os EUA fizeram "um acordo com o Banco Nacional da Nigéria para abrir uma linha de crédito avaliada em 200 milhões de dólares para apoiar várias iniciativas empresariais de mulheres."
"Foi uma medida audaciosa, pois sabíamos que, com boa gestão, vamos sair das intervenções programáticas isoladas", afirmou.
As promessas
Esta semana, empresas norte-americanas também fizeram promessas de investimento ao país anfitrião da cimeira, Moçambique. O consórcio liderado pela gigante norte-americana Anadarko anunciou um investimento record de 25 mil milhões de dólares para o projeto de desenvolvimento de gás na província nortenha de Cabo Delgado.
Um virar de página nas relações EUA - África?
Farid Fezoua, presidente da empresa GE Healthcare Africa também prometeu investir: "Vamos investir na saúde. É uma das nossas áreas-chave. Temos conhecimentos de que o Presidente da República [Filipe Nyusi] lançou o projeto 'um distrito, um hospital' e gostaríamos de partilhar esta nova experiência em África para fortalecer o sistema de saúde em Moçambique, sobretudo nos cuidados primários."
O empresariado moçambicano aproveitou a cimeira para apresentar algumas das áreas em que é preciso investir. O empresário Kekobad Patel disse que um delas é o setor dos transportes.
"Onde se evidencia a necessidade de se incrementar o número de turistas transportados pelas companhias aéreas, através do aumento de frequências e a redução das tarifas dos voos domésticos", afirmou Patel.
Cimeira limpa má imagem de Moçambique?
Para o diretor da AIPEX, Agência para a Promoção de Investimentos e Exportações, Lourenço Sambo, esta cimeira veio lavar a má imagem de Moçambique, uma vez que "acontece depois dos ciclones Idai e Kenneth, que trouxeram mais um elemento negativo para a imagem de Moçambique: 'Moçambique das dívidas', de 'doenças'… E esta conferência muda um pouco o cenário."
Na Cimeira EUA-África participaram mais de mil representantes dos setores económicos africanos e norte-americano e vários chefes de Estado.
Cabo Delgado: Datas marcantes dos ataques armados
Começaram em outubro de 2017 em Mocímboa da Praia e já se alastraram a outros três distritos moçambicanos. Os ataques armados na província de Cabo Delgado, que somam já mais de 130 mortos, ainda não têm solução à vista.
Foto: DW/G. Sousa
Outubro de 2017
Os primeiros ataques de grupos armados desconhecidos na província de Cabo Delgado aconteceram no dia 5 de outubro de 2017 e tiveram como alvo três postos da polícia na vila de Mocímboa da Praia. Cinco pessoas morreram. Cerca de um mês depois, a 17 de novembro, as autoridades dão ordem de encerramento a algumas mesquitas por se suspeitar terem sido frequentadas por membros do grupo armado.
Foto: Privat
Dezembro de 2017
Surgem novos relatos de ataques nas aldeias de Mitumbate e Makulo, em Mocímboa da Praia. Na primeira semana de dezembro de 2017, terão sido assassinadas duas pessoas. Vários suspeitos foram identificados, tendo os moradores dado conta que os atacantes deram sinais de afiliação muçulmana. Por sua vez, a polícia desmentiu o envolvimento do grupo terrorista Al-Shabaab nestes ataques.
Foto: DW/G. Sousa
Janeiro a maio de 2018
Apesar de ter começado calmo, 2018 revelar-se-ia um ano de terror na província de Cabo Delgado com os ataques a alastrarem-se a mais distritos. Dada a gravidade da situação, a Assembleia da República aprovou, a 2 de maio, a Lei de Combate ao Terrorismo. Mas, no final do mês, dia 27, novos ataques foram realizados junto a Olumbi, distrito de Palma. Dez pessoas morreram, algumas decapitadas.
Foto: Privat
2 de junho de 2018
Dias mais tarde, a televisão STV dava conta que as forças de segurança moçambicanas haviam abatido, nas matas de Cabo Delgado, oito suspeitos de participação nos ataques. Foram ainda apreendidas catanas e uma metralhadora AK-47, além de comida e um passaporte tanzaniano. Por esta altura, já milhares de pessoas haviam abandonado as suas casas, temendo a repetição dos episódios de terror.
Foto: Borges Nhamire
4 de junho de 2018
Ainda se "festejava" os avanços na investigação das autoridades, e consequente abate dos suspeitos quando, a 4 e 7 de junho, se registaram novos incêndios nas aldeias de Naunde e Namaluco. Sete pessoas morreram e quatro ficaram feridas. Foram ainda destruídas 164 casas e quatro viaturas. O mesmo cenário voltou a repetir-se a 22 de junho: um novo ataque na aldeia de Maganja matou cinco pessoas.
Foto: Privat
29 de junho de 2018
Fortemente criticado por não se ter ainda pronunciado acerca dos ataques, o Presidente moçambicano Filipe Nyusi resolve fazê-lo, em Palma, perante um mar de gente. Oito meses e 33 mortos [25 vítimas dos ataques e oito supostos atacantes] depois... Em Cabo Delgado, Nyusi prometeu proteção aos cidadãos e convidou os atacantes a dialogar consigo, de forma a resolver as suas "insatisfações".
Foto: privat
Agosto de 2018
Depois de, em julho, um novo ataque à aldeia de Macanca - Nhica do Rovuma, em Palma, ter feito mais quatro mortos, Filipe Nyusi desafiou, a 16 de agosto, os oficiais promovidos no exército, por indicação da RENAMO, a usarem a sua experiência no combate contra estes grupos armados que, mais tarde, a 24 do mesmo mês, tirariam a vida a mais duas pessoas, na aldeia de Cobre, distrito de Macomia.
Foto: Jinty Jackson/AFP/Getty Images
Setembro de 2018
Setembro de 2018 voltava a ser um mês negro no norte de Moçambique. Ataques nas aldeias de Mocímboa da Praia, Ntoni e Ilala, em Macomia, deixaram pelo menos 15 mortos e dezenas de casas destruídas. No final do mês, o ministro da Defesa, Atanásio Mtumuke, afirmou que os homens armados responsáveis pelos ataques seriam "jovens expulsos de casa pelos pais".
Foto: Privat
Outubro de 2018
Um ano após o início dos ataques em Cabo Delgado, a polícia informou que os mais de 40 ataques ocorridos, haviam feito 90 mortos, 67 feridos e destruído milhares de casas. Foi também por esta altura que Filipe Nyusi anunciou a detenção de um cidadão estrangeiro suspeito de recrutar jovens para atacar as aldeias. No final do mês, começaram a ser julgados 180 suspeitos de envolvimento nos ataques.
Foto: privat
Novembro de 2018
Novos relatos de mortes macabras surgem na imprensa. Seis pessoas foram encontradas mortas com sinais de agressão com catana na aldeia de Pundanhar, em Palma. Dias depois, o cenário repetiu-se nas aldeias de Chicuaia Velha, Lukwamba e Litingina, distrito de Nangade. Balanço: 11 mortos. Em Pemba, o embaixador da União Europeia oferecia ajuda ao país.
Foto: Privat
6 de dezembro de 2018
A população do distrito de Nangade terá feito justiça pelas próprias mãos e morto três homens envolvidos nos ataques. Na altura, à DW, David Machimbuko, administrador do distrito de Palma, deu conta que "depois de um ataque, a população insurgiu-se e acabou por atingir alguns deles". Entretanto, o Ministério Público juntou mais nomes à lista dos arguidos neste caso. Entre eles está Andre Hanekom.
Foto: DW/N. Issufo
16 de dezembro de 2018
A 16 de dezembro, e após mais um ataque armado no distrito de Palma, que matou seis pessoas, entre as quais uma criança, Moçambique e Tanzânia anunciaram uma união de esforços no combate aos crimes transfronteiriços. 2018 chegava assim ao fim sem uma solução à vista para os ataques que já haviam feito, pelo menos, 115 mortos. O julgamento dos já acusados de envolvimento nos ataques continua.
Foto: privat
Janeiro de 2019
O novo ano não começou da melhor forma. Sete pessoas morreram quando um grupo armado intercetou uma carrinha de caixa aberta que transportava passageiros entre Palma e Mpundanhar. Na semana seguinte, outras sete pessoas foram assassinadas a tiro no Posto Administrativo de Ulumbi. Um comerciante foi ainda decapitado em Maganja, distrito de Palma, no passado dia 20.