Fábrica de açúcar em Moçambique pode ter os dias contados
Arcénio Sebastião (Beira)
2 de agosto de 2019
Cerca de 3.500 trabalhadores da Açucareira de Mafambisse, na província de Sofala, Moçambique, temem ficar desempregados. Má gestão é a justificação apontada para a saída da Tongaat Hulett, principal acionista da empresa.
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Os funcionários da Açucareira de Mafambisse foram informados verbalmente pela direção da empresa que a detém, a holding sul-africana Tongaat Hulett, que, após o fecho da atual campanha de processamento de açúcar, aquela gerência se irá retirar da unidade fabril de Mafambisse, da qual é a maior acionista.
O secretário do comité sindical da fábrica de Mafambisse, António Bassopa, adianta que a retirada da Tongaat Hulett está relacionada com o baixo rendimento da empresa e com as dívidas acumuladas pela holding em Moçambique e na África do sul. "Eles falam de três coisas... Falam de problemas de terras na África de Sul, do problema do dólar do Zimbabué, o tal bond que foi desvalorizado, para além da má gestão" da unidade moçambicana, indica o sindicalista.
Incerteza e medo
Com a anunciada retirada da empresa sul-africana, aumentou a situação de incerteza dos cerca de 3.500 trabalhadores da fábrica de Mafambisse.
Mário Paulo trabalha há sete anos na fábrica de açúcar. Com medo de perder o emprego, apela ao Governo moçambicano, como acionista minoritário da unidade, que procure parceiros para o negócio. "É só esperar que o Governo lute para encontrar um novo patrocínio para que a fábrica não fique parada, senão muitas pessoas daqui de Mafambisse vão ficar a chorar", explica o trabalhador.
Fábrica de açúcar em Moçambique pode ter os dias contados
"Estamos a sentir tristeza no momento", comenta Domingos Rafael, outro funcionário da açucareira. "Como no campo não há rega e este ano não houve admissão [de trabalhadores], não sabemos o que vai ser depois. Não se está a trabalhar como antes, não há rega, não há sacha, não há planeamento... Não sei o que vai ser", lamenta. "Estamos parados, sem trabalhar, sem vencimento", acrescenta.
A açucareira é detida em 85% pela sul-africana Tongaat Hulett e em 15% pelo Estado moçambicano, através do Instituto de Gestão das Participações do Estado (IGEPE).
Localizada na província de Sofala, a empresa deixou de lado o cultivo da cana para a produção de açúcar e está a manter a atividade apenas com a matéria-prima produzida em 2018. "Não temos mão-de-obra, porque o trabalho de campo é feito por [empregados] sazonais, que não foram admitidos. Os poucos homens que nós tínhamos no campo foram para reforçar a fábrica, porque também na fábrica não admitiram ninguém", descreve António Bassopa.
Trabalhadores tentam impedir pilhagem de máquinas
O representante sindical da Açucareira teme que, além do desemprego causado, a Tongaat Hulett retire maquinaria da unidade. "A nossa grande tarefa é mobilizar todos os trabalhadores para, apesar dessas palavras de abandono, mantermos firmes a nossa fábrica e todas as infraestruturas que existem aqui em Mafambisse", adverte.
"Por mais que a Tongaat Hulett queira abandonar, pelo menos que deixe as coisas em condições para que outro acionista encontre as coisas (...) a funcionar bem", apela o líder sindical.
A DW África contactou a direção da Tongaat Hulett, mas não conseguiu chegar à conversa com o diretor da unidade em Moçambique, por alegadamente se encontrar fora do país. Segundo números apurados junto da empresa, a holding sul-africana tem dívidas superiores a 11 mil milhões de randes, ou seja, 675 milhões de euros.
Agricultura urbana em Maputo: um modelo a ser seguido
A atividade de horticultura na cintura verde da capital moçambicana garante a subsistência de milhares de pessoas. O cultivo de hortícolas, como beterraba, couve e espinafre, é um propulsor da economia local.
Foto: DW/R. da Silva
Cintura verde
O vale do Infulene é a principal cintura verde da capital moçambicana. A produção de hortícolas é intensa com os agricultores a aproveitar a baixa do rio Milauze, que separa as cidades de Maputo e Matola e a zona da Costa do Sol. A agricultura urbana é praticada por milhares de pessoas. Abnério Matusse, de 26 anos, consegue, assim, alimentar os seus dois filhos.
Foto: DW/R. da Silva
No meio da cidade
O modelo de agricultura urbana de Maputo é semelhante ao implementado em Havana devido à Revolução Cubana. As cinturas verdes na capital cubana foram fundamentais para a população sobreviver ao isolamento na guerra civil. Em Maputo e arredores, mais de dez mil agricultores de pequena escala promovem a agricultura dentro da cidade.
Foto: DW/R. da Silva
Terras férteis
A cintura verde do vale do Infulene é a zona de agricultura urbana mais extensa. Os pequenos agricultores aproveitam a fertilidade dos solos para juntarem a produção à beleza. Os jovens que aqui trabalham criaram uma paisagem agrícola para atrair mais clientes.
Foto: DW/R. da Silva
No quintal de casa
Nas zonas onde a terra é bastante fértil, as famílias aproveitam os espaços nos seus quintais para reduzir a dependência dos mercados. Dessa maneira, não gastam dinheiro, senão pouco apenas para a compra de mudas.
Foto: DW/R. da Silva
Banquinha
Famílias de baixa renda preferem ir comprar verduras e vendê-las em banquinhas em frente às suas casas. Os principais clientes são os vizinhos, que reduzem assim as distâncias para os mercados. Os canteiros de beterrabas, couve-acelga, cenouras, espinafres e muitas outras hortícolas servem como base para a alimentação da população de Maputo.
Foto: DW/R. da Silva
Mercados
Perto da praia da Costa do Sol, existe também uma cintura verde que permite a produção de hortícolas para os mercados suburbanos de Maputo. Daqui, saem produtos para o maior mercado informal de Maputo, o mercado de Xikelene, na Praça dos Combatentes.
Foto: DW/R. da Silva
Couve, a preferida
Nestes canteiros na cintura da Costa do Sol, a couve é das mais procuradas hortaliças. Por isso, os agricultores sempre as colocam à disposição dos seus clientes.
Foto: DW/R. da Silva
Subsistência de famílias
Muitas famílias dedicam-se à pratica da agricultura urbana para sobreviver. Por se tratar de produtos da época, os vendedores afirmam que são muitos os clientes que compram para o consumo de vários tipos de saladas.
Foto: DW/R. da Silva
Nas escolas
A prática da agricultura já é uma realidade nas escolas. As autoridades educacionais introduziram a disciplina de agropecuária, e o resultado é visível. Muitos alunos dedicam-se a esta prática. Com a orientação de seu professor, cada um abre o seu canteiro.
Foto: DW/R. da Silva
Vendedores locais
Senhoras como dona Helena tem o seu próprio canteiro. A cidadã colhe quantidade suficiente para vender. Dependendo da adesão dos clientes, ela garante que regressa ao canteiro para buscar mais hortaliças.
Foto: DW/R. da Silva
Água para a rega
Mesmo no tempo seco, a água está sempre disponível. Os produtores abrem pequenas valas para canalizar água que chegue para todos. É uma fonte que não seca, por isso, mesmo no tempo de muito calor, as hortícolas são sempre vendidas.
Foto: DW/R. da Silva
Pressão
Na zona da Costa do Sol, há muita produção, mas há também muita pressão dos grandes burgueses em Maputo que compram espaços a fim de construir casas luxuosas. Há algumas pessoas que acabaram deixando de praticar a agricultura para ceder o espaço aos endinheirados.