No primeiro discurso de vitória, Presidente eleito da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, disse ser um "homem de concórdia nacional" e apelou ao fim das divergências. "Sou um Presidente de todos os guineenses", prometeu.
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"Vamos trabalhar para promover a união entre os nossos irmãos guineenses que estão hoje de costas voltadas por nossa causa", disse esta quarta-feira (01.01) Umaro Sissoco Embaló perante os seus apoiantes e candidatos derrotados na primeira volta, que apoiaram a sua candidatura na segunda volta das presidenciais.
No seu primeiro discurso como Presidente eleito, na capital guineense, Embaló falou na unidade nacional e pediu desculpas a todos os que se sentiram ofendidos durante a campanha para as presidenciais. "Durante a campanha eleitoral, quer nós, os candidatos, quer os nossos colaboradores e apoiantes, no calor da caça aos votos, é bem possível que tenham utilizado voluntariamente linguagem menos apropriada, pelo que quero pedir as minhas sinceras desculpas a todos aqueles que se tenham sentido ofendidos por mim e aproveito para da minha parte perdoar todos aqueles também que se dirigiram com palavras insultuosas contra a minha pessoa", afirmou.
Umaro Sissoco Embaló promete conciliação na Guiné-Bissau
Numa longa comunicação, o novo Presidente da Guiné-Bissau prometeu combater o tráfico de droga: "Todas as instituições da República devem congregar esforços para debelar os fenómenos do tráfico da droga, da corrupção que ocorrem na sociedade. As reformas institucionais que se acharem oportunas devem avançar para o reforço do nosso sistema democrático."
Umaro Sissoco Embaló também quer estreitar a cooperação com as organizações internacionais, nomeadamente A Comunidade Económica de Estados de África Ocidental (CEDEAO), a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), a União Africana (UA), as Nações Unidas, a União Europeia (UE) e O Grupo África, Caraíbas e Pacífico (ACP), porque a Guiné-Bissau "ainda precisa desse apoio associado aos nossos esforços de relançamento do desenvolvimento do país."
Simões Pereira pondera impugnar resultados
Segundo os resultados provisórios apresentados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), Umaro Sissoco Embaló, apoiado pelo Movimento para a Alternância Democrática (MADEM-G15) venceu o escrutínio da segunda volta com 53,55% dos votos, enquanto Domingos Simões Pereira, apoiado pelo Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), conseguiu 46,45%.
O candidato derrotado pondera recorrer à Justiça para impugnar os resultados anunciados pela CNE. Domingos Simões Pereira lamentou que perante as "evidências que foram produzidas e que questionam a verdade democrática" e dos resultados que foram divulgados, a plenária da Comissão Nacional de Eleições não os tenha tido em conta.
Simões Pereira citou também supostas irregularidades na segunda volta das presidenciais. "Alguns apoiantes do candidato adversário decidiram fazer campanha eleitoral no dia da votação à frente das assembleias de voto, beneficiando de um aparato militar de proteção. É um atentado à liberdade de escolha que deve poder ser exercido no momento da votação", criticou.
Em relação ao próprio ato eleitoral, Simões Pereira disse que "há ciclos eleitorais em que o somatório dos votantes ultrapassa o número dos inscritos". E sublinhou que "é demasiado flagrante para isso escapar à atenção da entidade que está a apurar esses dados."
Até ao momento, a CNE não comentou as supostas irregularidades apresentadas pelo candidato do PAIGC.
O desafio de unir os guineenses
Comentando as declarações do candidato derrotado, o sociólogo guineense Miguel de Barros lembra que qualquer ação terá de ter uma base legal e partidária. "Todo o tipo de contestação eleitoral deverá ter não só uma base política, mas legal e ao mesmo tempo salvaguardar o mecanismo de apresentação de reclamações e de contestação", independentemente das consequências dessa iniciativa, afirma.
Chefe da MOE da UA otimista sobre futuro da Guiné-Bissau
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Depois de uma campanha marcada por "bastante polarização", sublinha o sociólogo guineense, "o futuro Presidente da República terá o desafio de unir os guineenses" e, por isso, "é importante mobilizar os guineenses para uma reconciliação nacional e de estabilização do regime."
Para Miguel de Barros, os resultados da segunda volta das eleições presidenciais na Guiné-Bissau devem-se à conjugação de vários fatores. "Mostra, em primeiro lugar que, independentemente das alianças que foram feitas, as eleições aconteceram também num contexto de enorme contestação social", elementos críticos que, lembra, "levaram também, de algum modo, ao desgaste do Governo que é suportado pelo partido que também apoiou o candidato Simões Pereira."
Por outro lado, o sociólogo aponta "a questão da confluência de fatores que vem dessas alianças", sobretudo quando se olha para os resultados por região. Dá como exemplo Cacheu, onde o Presidente cessante José Mário Vaz ganhou a primeira volta "e a tendência do voto confirmou essas alianças", e a própria vitória na região de Quinara e Tombali, sul do país, que não tinha acontecido na primeira volta - são redutos que contam com apoio de Nuno Gomes Nabiam.
Presidenciais na Guiné-Bissau: Quem são os 12 candidatos?
Um Presidente cessante, o vice-presidente do Parlamento, quatro ex-primeiros-ministros, um antigo chefe das Forças Armadas, um estudante de Direito e ex-governantes disputam a Presidência da República da Guiné-Bissau.
Foto: DW/B. Darame
12 candidatos à Presidência
Quem será o novo inquilino do Palácio da República da Guiné-Bissau? Doze candidatos concorrem à Presidência guineense, nas eleições de 24 de novembro. A votação é tida como crucial para o futuro do país, após quatro anos de instabilidade política. Apresentamos aqui os 12 candidatos à Presidência guineense pela ordem em que aparecerão no boletim de voto.
Foto: DW/B. Darame
Mutaro Itai Djabi, candidato independente
Mutaro Itai Djabi é um dos estreantes nesta corrida à Presidência da República da Guiné-Bissau e será o primeiro a aparecer nos boletins de voto. É um candidato independente, mas sobre o qual se sabe pouco. Não se conhecem comícios do candidato no país. A DW tentou contactar Djabi, sem sucesso.
Foto: DW/B. Darame
Domingos Simões Pereira, candidato pelo PAIGC
DSP tem 56 anos. Mestre em Engenharia Civil. De 2004 a 2005 foi ministro das Obras Públicas e Urbanismo. O antigo secretário-executivo da CPLP (2008-2012) foi eleito duas vezes presidente do PAIGC. DSP foi primeiro-ministro em 2014. Doutorou-se em Ciências Políticas e Relações Internacionais em 2016. Com o PAIGC ganhou duas legislativas, mas foi retirado do poder pelo Presidente cessante, Jomav.
Foto: DW/B. Darame
Vicente Fernandes, candidato pelo PCD
Formou-se em Direito pela Universidade Clássica em Lisboa. Com 60 anos, "Vifer" disputa a sua segunda corrida presidencial. Cumpre o segundo mandato como líder do PCD, de que é um dos fundadores. Foi secretário de Estado do Turismo, ministro do Comércio e Indústria e depois ministro do Comércio e Turismo. O também empresário no setor da água potável confia na sua experiência para mudar o país.
Foto: DW/B. Darame
Afonso Té, candidato pelo PRID
Conhecido oficial militar, Té, que já foi chefe das Forças Armadas, vai concorrer à sua segunda eleição presidencial como candidato pelo Partido Republicano da Independência e Desenvolvimento. Despiu a farda após a guerra civil de 1998/99, que afastou o Presidente Nino do poder, para se dedicar à política ativa. Para as presidenciais tem feito campanha porta a porta.
Foto: DW/B. Darame
Nuno Gomes Nabiam, candidato pelo APU-PDGB
Concorre com apoios do seu partido e do PRS. Nabiam, de 53 anos, formou-se em Aviação Civil, na antiga União Soviética e tem o mestrado em Gestão Empresarial nos EUA. Foi assessor do ministro dos Transportes e presidente do Conselho de Administração da Agência de Aviação Civil. O engenheiro perdeu a última eleição presidencial na segunda volta, quando foi apoiado pelo ex-Presidente Kumba Ialá.
Foto: picture alliance/dpa
Baciro Djá, candidato pela FREPASNA
Psicólogo, de 46 anos, deu nas vistas no Instituto da Defesa Nacional. Em 2012 concorreu às presidenciais. Atual líder do partido que fundou, a FREPASNA, já foi ministro da presidência do Conselho de Ministros, ministro da Cultura, Juventude e Desportos e ministro da Defesa Nacional. Também foi terceiro vice-presidente do PAIGC. Em 2016 foi nomeado primeiro-ministro por duas vezes.
Foto: DW/B. Darame
Carlos Gomes Júnior, candidato independente
"Cadogo" foi eleito deputado nas primeiras eleições multipartidárias e nas eleições até 2007. Empresário foi líder do PAIGC em 2001 e 2008. Presidente da equipa de futebol UDIB. Em 2007 foi primeiro-ministro. Em 2012, enquanto primeiro-ministro, lançou-se para a Presidência, mas deu-se o golpe de Estado antes da segunda volta. Único que deu ao PAIGC a maioria qualificada com 67 deputados eleitos.
Foto: DW/B. Darame
Gabriel Fernandes Indí, candidato do PUSD
Com 36 anos de idade, Indí concorre à sua primeira eleição. Fundador do Futebol Clube de Safim, clube de qual é líder há oito anos, o candidato do PUSD, sem assento parlamentar, está a tirar uma licenciatura em Direito na Universidade Clássica de Lisboa. Nunca foi funcionário público na Guiné-Bissau. Diz que, se for eleito, será Presidente de todos os guineenses, não de um partido ou de grupos.
Foto: Gabriel Fernando Indi
Idriça Djaló, candidato pelo PUN
Formou-se em Economia pela universidade X Nanterre, de Paris. Djaló, empresário de 57 anos, entrou na política após a guerra civil. Em 2002 funda o PUN, que em 2004 foi o quinto mais votado nas legislativas. Em 2005, disputou a sua primeira eleição presidencial. Foi promotor da iniciativa "Estados Gerais para a Guiné-Bissau", que visava apontar soluções para a estabilização do país.
Foto: DW/B. Darame
José Mário Vaz, candidato independente
O primeiro Presidente a concluir os cinco anos de mandato completa em dezembro 62 anos. Formou-se em Economia, em Lisboa. Empresário bem-sucedido, mentor do grupo JOMAV. Em 1993 foi presidente da Câmara de Comércio. Em 2004 foi Presidente da Câmara Municipal de Bissau e em 2012 tornou-se ministro das Finanças. Em cinco anos na Presidência nomeou 8 primeiros-ministos, a maioria deles contestados.
Foto: DW/Braima Darame
Umaro Sissoco Embaló, candidato pelo MADEM-G15
Major-general, na reserva, Sissoco disputa a Presidência pela primeira vez. Com 47 anos de idade, o terceiro vice-coordenador do MADEM foi primeiro-ministro em 2016, durante um ano e meio. Nas últimas legislativas foi eleito deputado da nação, na região de Gabú, leste do país. Diz ter sido conselheiro de vários chefes de Estado africanos e ter uma boa relação com os líderes mundiais.
Foto: Di Povo Use
Mamadu Iaia Djaló, candidato pelo PND
"Velha raposa" da política guineense, Iaia Djaló foi ministro dos Negócios Estrangeiros, ministro do Comércio e da Justiça. Durante a crise, demitiu-se do cargo de conselheiro do Presidente, José Mário Vaz, alegando incompatibilidade. É líder do PND. Com o partido disputou as presidenciais de 2005 e foi o sexto mais votado entre 13 candidatos.