Guiné-Bissau: Umaro Sissoco está há um ano no poder
Lusa | rl
18 de novembro de 2017
Foi a 18 de novembro de 2016 que Umaro Sissoco tomou posse como primeiro-ministro da Guiné-Bissau. Um ano depois, o país continua sem Orçamento de Estado aprovado e a oposição continua a exigir a sua demissão.
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O executivo tomou posse a 18 de novembro de 2016, após a assinatura, em outubro do mesmo ano, do Acordo de Conacri, baseado no roteiro de seis pontos assinado em Bissau, dois meses antes.
Esta semana, e à margem da sua participação na Conferência das Nações Unidas sobre o Clima (COP 23), Umaro Sissoco afirmou, em entrevista à DW África, que "já não vale a pena falar do Acordo de Conacri”, uma vez que quem não o está a cumprir é o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC). O primeiro-ministro guineense teceu fortes críticas à liderança deste partido e deixou claro que, na sua opinião, a solução para a crise na Guiné-Bissau está dentro do próprio país. "A solução interna é a melhor solução”, afirmou Umaro Sissoco, acrescentando que "a única forma é sentarmo-nos numa mesa como irmãos e bons filhos da Guiné para ultrapassarmos esta crise”.
O Acordo de Conacri pretendia pôr fim à crise política instalada na Guiné-Bissau, depois de o chefe de Estado, José Mário Vaz, ter demitido das funções de primeiro-ministro Domingos Simões Pereira, líder do PAIGC, vencedor das legislativas de 2014.
O objetivo, tanto do roteiro de Bissau, como do Acordo de Conacri era a criação de um Governo consensual integrado por todos os partidos políticos com assento parlamentar e a nomeação de um primeiro-ministro de consenso e da confiança do chefe de Estado, bem como a reintegração no PAIGC de um grupo de deputados expulsos. No entanto, o Acordo de Conacri acabou por vir adensar a crise política na Guiné-Bissau, quando o Presidente decidiu nomear Umaro Sissoco Embaló para primeiro-ministro.
Segundo uma parte dos signatários do acordo, o nome escolhido para primeiro-ministro terá sido o de Augusto Olivais, mas o chefe de Estado não gostou e nomeou um chefe de executivo que reúne o apoio da maior parte dos deputados do parlamento, que está encerrado.
Protestos repetem-se
Entretanto, a comunidade internacional continua a apelar ao entendimento e ao cumprimento do Acordo de Concari. Nas ruas, repetem-se os protestos da oposição. Na quinta-feira (16.11), uma manifestação em Bissau acabou por ser dispersada pela polícia, que utilizou gás lacrimogéneo. Pelo menos 10 pessoas ficaram feridas e 14 foram detidas.
Na sexta-feira (17.11), a oposição voltou a sair à rua, não se tendo registado qualquer incidente. Milhares de pessoas protestaram entre a Chapa de Bissau, na avenida que liga o centro da cidade ao aeroporto nacional, até à União Desportiva Internacional de Bissau (UDIB), junto à Praça dos Heróis Nacionais, onde fica situada a Presidência da República guineense. Na ocasião, Nuno Nabian, presidente da Assembleia do Povo Unido - Partido Democrático da Guiné-Bissau, afirmou que a manifestação de quinta-feira foi uma "vitória da democracia". "Mostrámos ao Jomav (forma como é tratado o Presidente guineense, José Mário Vaz) que não temos medo de ninguém”, afirmou.
Na mesma ocasião, Domingos Simões Pereira, presidente do PAIGC, voltou a insitir que "este Governo não vai organizar eleições, porque não foi escolhido pelo povo para nada".
Enquanto a crise política se adensa e provoca cada vez mais divisões na sociedade guineense, o Governo de Umaro Sissoco Embaló tem recolhido apoios do Fundo Monetário Internacional (FMI), do Banco Mundial e de outras instituições financeiras internacionais.
São presidentes, príncipes, reis ou sultões, de África, da Ásia ou da Europa. Estes são os dez chefes de Estado há mais tempo no poder.
Foto: Jack Taylor/Getty Images
Do golpe de Estado até hoje - Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo assumiu a Presidência da Guiné Equatorial em 1979, ainda antes de José Eduardo dos Santos. Teodoro Obiang Nguema derrubou o seu tio do poder: Francisco Macías Nguema foi executado em setembro de 1979. A Guiné Equatorial é um dos países mais ricos de África devido às receitas do petróleo e do gás, mas a maioria dos cidadãos não beneficia dessa riqueza.
Foto: DW/R. Graça
O Presidente que adora luxo - Paul Biya
Paul Biya é chefe de Estado dos Camarões desde novembro de 1982. Muitos dos camaroneses que falam inglês sentem-se excluídos pelo francófono Biya. E o Presidente também tem sido alvo de críticas pelas despesas que faz. Durante as férias, terá pago alegadamente 25 mil euros por dia pelo aluguer de uma vivenda. Na foto, está acompanhado da mulher Chantal Biya.
Foto: Reuters
Mudou a Constituição para viabilizar a reeleição - Yoweri Museveni
Yoweri Museveni já foi confirmado seis vezes como Presidente do Uganda. Para poder concorrer às eleições de 2021, Museveni mudou a Constituição e retirou o limite de idade de 75 anos. Venceu o pleito com 58,6% dos votos, reafirmando-se como um dos líderes autoritários mais antigos do mundo. O candidato da oposição, Bobi Wine, alegou fraude generalizada na votação e rejeitou os resultados oficiais.
Foto: Getty Images/AFP/I. Kasamani
"O Leão de Eswatini" - Mswati III
Mswati III é o último governante absolutista de África. Desde 1986, dirige o reino de Eswatini, a antiga Suazilândia. Acredita-se que tem 210 irmãos; o seu pai Sobhuza II teve 70 mulheres. A tradição da poligamia continua no seu reinado: até 2020, Mswati III teve 15 esposas. O seu estilo de vida luxuoso causou protestos no país, mas a polícia costuma reprimir as manifestações no reino.
Foto: Getty Images/AFP/J. Jackson
O sultão acima de tudo - Haji Hassanal Bolkiah
Há quase cinco décadas que o sultão Haji Hassanal Bolkiah é chefe de Estado e Governo e ministro dos Negócios Estrangeiros, do Comércio, das Finanças e da Defesa do Brunei. Há mais de 600 anos que a política do país é dirigida por sultões. Hassanal Bolkiah, de 74 anos, é um dos últimos manarcas absolutos no mundo.
Foto: Imago/Xinhua/J. Wong
Monarca bilionário - Hans-Adam II
Desde 1989, Hans-Adam II (esq.) é chefe de Estado do Liechtenstein, um pequeno principado situado entre a Áustria e a Suiça. Em 2004, nomeou o filho Aloísio (dir.) como seu representante, embora continue a chefiar o país. Hans-Adam II é dono do grupo bancário LGT. Com uma fortuna pessoal estimada em mais de 3 mil milhões de euros é considerado o soberano europeu mais rico.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Nieboer
De pastor a parceiro do Ocidente - Idriss Déby
Idriss Déby (à esq.) foi Presidente do Chade de 1990 a 2021. Filho de pastores, Déby formou-se em França como piloto de combate. Apesar do seu autoritarismo, Déby foi um parceiro do Ocidente na luta contra o extremismo islâmico (na foto com o Presidente francês Macron). Em abril de 2021, um apenas dia após após a confirmação da sua sexta vitória eleitoral, Déby foi morto num combate com rebeldes.
Foto: Eliot Blondet/abaca/picture alliance
Procurado por genocídio - Omar al-Bashir
Omar al-Bashir foi Presidente do Sudão entre 1993 e 2019. Chegou ao poder em 1989 depois de um golpe de Estado sangrento. O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu em 2009 um mandado de captura contra al-Bashir por alegada implicação em crimes de genocídio e de guerra no Darfur. Em 2019, foi deposto e preso após uma onda de protestos no país.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
O adeus - José Eduardo dos Santos
José Eduardo dos Santos foi, durante 38 anos (de 1979 a 2017), chefe de Estado de Angola. Mas não se recandidatou nas eleições de 2017. Apesar do boom económico durante o seu mandato, grande parte da população continua a viver na pobreza. José Eduardo dos Santos tem sido frequentemente acusado de corrupção e de desvio das receitas da venda do petróleo. A sua família é uma das mais ricas de África.
Foto: picture-alliance/dpa/P.Novais
Fã de si próprio - Robert Mugabe
Robert Mugabe chegou a ser o mais velho chefe de Estado do mundo (com uma idade de 93 anos). O Presidente do Zimbabué esteve quase 30 anos na Presidência. Antes foi o primeiro-ministro. Naquela época, aconteceram vários massacres que vitimaram milhares de pessoas. Também foi criticado por alegada corrupção. Após um levantamento militar, renunciou à Presidência em 2017. Morreu dois anos mais tarde.