Moçambique foi o principal beneficiário da ajuda ao desenvolvimento da Alemanha Oriental. Mas um ataque a 6 de dezembro de 1984 em Unango, na província do Niassa, travou um dos maiores projetos agrícolas em África.
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Como "país irmão" socialista, Moçambique foi o principal beneficiário da ajuda ao desenvolvimento da República Democrática Alemã (RDA). No início da década de 1980, o Governo da Alemanha Oriental iniciou um mega-projeto para modernizar a agricultura em Moçambique. Foram planeadas explorações agrícolas de 120.000 hectares em vários pontos do país. Mas um ataque desmoronou o projeto.
O ataque teve lugar a 6 de dezembro de 1984 na província nortenha do Niassa. Peritos da RDA - mais de uma dezena - trabalhavam na aldeia de Unango, ajudando a cultivar 1.500 hectares. Viviam na capital provincial, Lichinga, e percorriam todos os dias 60 km até aos campos em Unango, num mini-autocarro ou numa carrinha. Durante uma destas viagens, foram atacados por homens armados. Foi o pior ataque a funcionários da ajuda ao desenvolvimento da RDA em Moçambique. Oito cidadãos da RDA, um trabalhador jugoslavo e cinco moçambicanos morreram. Até hoje, não se sabe ao certo quem levou a cabo o ataque.
Manfred Grunewald foi um dos chamados "cooperantes" enviados pela RDA a Unango. Ele estava em Maputo quando recebeu a notícia do ataque, estava prestes a voar para casa.
DW África: O que aconteceu exatamente naquela manhã de dezembro, quando esta coluna de peritos da RDA acompanhados pelo Exército moçambicano se deslocou de Lichinga, o local da residência dos peritos, em direção a Unango, o local de trabalho?
Manfred Grunewald (MG): Três meses antes do ataque, as nossas viagens ao local de produção agrícola passaram a ser escoltadas porque, ao contrário do que acontecia no passado, apareceram no norte pessoas da RENAMO [Resistência Nacional Moçambicana] que atacavam a população. A RENAMO não visava alvos militares estratégicos, mas atacava a população de forma muito intensa - aldeias inteiras ficaram vazias. Foi o que aconteceu neste percurso, em que duas aldeias foram atingidas. A nossa escolta era constituída por militares do Exército e também "antigos combatententes", militares que ajudaram a libertar o país a partir do norte com Samora Machel [o primeiro Presidente de Moçambique]. Tinham estatuto militar, mas claro que tinham muito pouca formação.
DW África: O que aconteceu exatamente?
MG: A estrada em que seguíamos era uma estrada betuminosa ainda do tempo dos portugueses que vai para o norte, em direção a Metangula, ou seja, em direção ao Lago Niassa ou à Tanzânia. Nós usávamos esta estrada todos os dias. Primeiro, íamos em mini-autocarros, quando ainda tínhamos gasolina. Mais tarde, já sem gasolina suficiente e tendo de usar gasóleo, só nos restava a carrinha. Sentávamo-nos na carrinha e íamos todos os dias para Unango. Iam muitos moçambicanos connosco e eram feitas colunas, que seguiam para Unango, com escolta, na ida e na volta. E nessa manhã, já eu me encontrava em Maputo, provavelmente eles estivessem à espera que a coluna passasse. Só a meio caminho, em Bacarilla, é que os guardas se juntaram à coluna. No trajeto até aí, de Lichinga, não houve problemas. Mas 20 km depois, ou seja, 10 km antes de chegar a Unango, houve um forte ataque com metralhadoras contra pessoas completamente desarmadas.
Os guardas, que tinham pouca formação, deveriam proteger-nos. Mas um soldado sabe que, quando começa a ser atacado, tem de se retirar, para se proteger. Mais tarde, isso foi interpretado nos relatórios do MfS [Ministério da Segurança do Estado, o serviço secreto da RDA] como "comportamento capitulatório" dos militares. Não vejo as coisas dessa forma. Cria-se uma ideia completamente errada do que aconteceu quando as coisas são ditadas para dossiers dos serviços secretos a 1.800 quilómetros do local em Maputo. Quantas avaliações superficiais foram feitas na altura?!
DW África: Ou seja, nenhum dos guardas ficou ferido. Só morreram os peritos da RDA?
MG: Não, não é bem assim. Sete alemães foram mortos no local, houve um ferido ligeiro e outra pessoa ficou gravemente ferida na cabeça. Havia também um cooperante jugoslavo e cinco moçambicanos, incluindo dois militares, que morreram. Não é verdade que os militares tenham desaparecido ou que não tenham disparado. Pelo contrário. Foram mortos porque resistiram.
Nós europeus - os jugoslavos ou nós cooperantes alemães - não tínhamos armas, claro. Nunca um cidadão da RDA andou com uma arma em Moçambique, pelo menos não onde eu estava. E, mesmo os moçambicanos que foram mortos, incluindo um estudante de doutoramento que tinha acabado de chegar dos EUA e que estava no meu departamento há apenas três semanas, foram alvejados, tal como o motorista com quem organizávamos a maioria das ações de venda de vegetais, milho, lenha, carvão vegetal, etc. Ele era quem tinha mais medo da RENAMO e foi o primeiro a ser baleado. Os nomes deles estão, como os dos outros, num pequeno monumento que erguemos 25 anos mais tarde perto de Lichinga, no local do ataque, em memória dos mortos.
DW África: Ambos os feridos sobreviveram?
MG: O ferido grave foi levado para Maputo num pequeno avião e foi operado. Sucumbiu aos ferimentos dez dias mais tarde. No seu caso, suspeitava-se que foi atingido por uma bala dum dum [bala expansiva]. Isto significa que foram utilizados projéteis que hoje em dia não são autorizados na guerra e que naquela altura também já não eram permitidos. Esse especialista morreu e, mais tarde, o corpo dele foi transferido para a RDA. A pessoa que foi ferida por uma bala na perna viajou connosco para casa. Sobreviveu e pôde continuar a desempenhar a sua profissão. O problema é que quase todos ficaram traumatizados.
DW África: Portanto, no total, houve oito peritos da RDA que morreram, um perito jugoslavo e cinco moçambicanos. Estes outros mortos raramente são mencionados nas reportagens nos média aqui na Alemanha. O que aconteceu nos dias seguintes? O projeto continuou ou todos tiveram de regressar?
MG: Receamos que até tenha havido mais mortos, mas não conseguimos descobrir se isso é verdade. Este ataque terrorista que resultou na morte de tantas pessoas também teve como resultado o encerramento deste projeto de um dia para o outro. Havia atiradores furtivos em Unango que nem sequer permitiam que as máquinas e outro equipamento fossem retirados do local. Mais tarde, o Exército teve de ir para lá e proteger as máquinas que lá estavam desde a época da RDA, para que pudessem ser transferidas para outra localidade. Alguns trabalhadores ainda se conseguiram mudar para outra exploração. Ao todo, havia mais de 500 postos de trabalho em Unango. Isso significa, grosso modo, que mais de 2.000 pessoas viviam do que ali fazíamos. Não só receberam dinheiro, como também aprenderam connosco disciplina. Aprenderam a fazer uma boa distribuição quando há constrangimentos. Também aprenderam o trabalho no escritório, no trator, na oficina, em todo o lado. Tudo isto desmoronou de um momento para o outro, porque se suspeitava da presença de atiradores furtivos, algo que afugentava qualquer pessoa que lá quisesse trabalhar.
Património ferrugento: socialismo em África
As relações entre África e o mundo socialista foram tema de uma mostra em Bayreuth. "Things Fall Apart" narra a história desde o início da União Soviética, passando pela desintegração do bloco socialista até ao presente.
Foto: Universität Bayreuth/Iwalewahaus
Correntes antigas - novas visões
Quando, nos anos 50 do século passado, os países africanos começaram a conquistar a independência, os ex-colonizadores já se encontravam no meio da guerra fria. Esta luta por ideologias também atingiu o continente africano. A União Soviética tentava angariar simpatias entre os jovens Estados independentes com slogans como "A África luta – A África ganha".
Foto: Universität Bayreuth/Iwalewahaus
Utopia ferrugenta
O amor fraternal entre a União Soviética e os Estados africanos só durou algumas décadas. Mas as consequências fazem-se sentir até hoje. Em 2006, o fotógrafo angolano Kilonji Kia Henda descobriu o pesqueiro Karl Marx num cemitério de navios no norte de Luanda. Era parte de uma frota pesqueira doada a Angola por Moscovo, mas que só operou durante poucos anos.
Foto: Universität Bayreuth/Iwalewahaus
Guerra por procuração em África
Os murais desbotados de Leonid Brejnev, Fidel Castro e Agostinho Neto (centro), o primeiro Presidente de Angola, documentados pela fotógrafa sul-africana Jo Ractliffe, recordam a História socialista de Angola. Na guerra civil, o Governo foi assistido por tropas de Cuba e armas da União Soviética. O outro lado recebia apoio financeiro e armamento da África do Sul e dos Estados Unidos da América.
Foto: Universität Bayreuth/Iwalewahaus
Homenagem a um ícone do anti-imperialismo
Também Patrice Lumumba, o primeiro chefe do Governo da República Democrática do Congo, simpatizava com o socialismo. Uma crise no jovem Estado levou-o a pedir ajuda à União Soviética, o que conduziu à sua queda do poder e ao seu assassínio às mãos dos serviços secretos belgas. A União Soviética honrou o ícone da luta africana pela independência com um selo.
Foto: Universität Bayreuth/Iwalewahaus
Convidados, mas nem sempre bem-vindos
Moscovo convidava jovens africanos para estudarem na Universidade Patrice Lumumba desta cidade. Os estudantes eram muitas vezes mais atraídos pelas despesas pagas do que pela ideologia. Mas eram continuamente confrontados com racismo, contra o qual protestavam. A primeira manifestação pública na União Soviética pós-Estaline no final dos anos 50 foi um protesto de estudantes africanos.
Foto: Universität Bayreuth/Iwalewahaus
Brejnev: engajamento em solo africano
A União Soviética não poupou esforços nem custos para disseminar a sua ideologia em África. Uma visita de Leonid Brejnev à Guiné em 1957 ficou documentada em filme. O realizador Alexander Markov enquadrou este trabalho propagandístico num documentário mostrado no Festival do Cinema de Berlim em 2015.
Foto: Universität Bayreuth/Iwalewahaus
Unidos no espaço sideral
Propaganda na forma de som e imagem era fácil de transportar, e, por isso, muito popular. A imagem estereotipada de crianças de três continentes tinha por objetivo demonstrar que só a união tornava o progresso possível. Pode ser que a esperança de participar numa missão espacial tenha motivado muitas crianças.
Foto: Universität Bayreuth/Iwalewahaus
Aplausos para o socialismo
A Etiópia, sede da Organização da União Africana (OUA), era considerada a chave para o continente. O regime militar de Mengistu Hailemariam devia muito à União Soviética. À frente do edifício da organização foi colocada uma estátua gigantesca de Lenine. Um monumento a Marx (imagem), doado pela extinta República Democrática Alemã, ainda pode ser visto no parque universitário de Addis Abeba.
Foto: Getty Images/AFP/A. Joe
Legado da era socialista
Muitos políticos africanos continuam a recorrer à estética socialista. Este monumento de bronze de nome "Renascimento Africano" foi encomendado em 2010 pelo Presidente senegalês, Abdoulaye Wade. O conceito e a execução ficaram a cargo de uma empresa da Coreia do Norte que já forneceu construções gigantescas à Etiópia e outros 20 Estados africanos.
Foto: picture-alliance/dpa
A estética do realismo socialista
Em 2005, o Presidente do Botswana, Festus Mogae, inaugurou esta instalação tripla, que representa os três chefes ("Three Dikgosi") considerados os precursores do Estado atual. O autor desta obra que é expressão de uma estética totalitária é o sul-coreano Onejoon Che. A estética do realismo socialista ainda tem muitos adeptos entre os poderosos em África.
Foto: Universität Bayreuth/Iwalewahaus
O que resta do espetáculo
O Burkina Faso é considerado a última tentativa de estabelecer um socialismo de cunho africano. Na capital do filme africano, Ouagadougou, são exibidos filmes de realizadores que estudaram em Moscovo, como Ousmane Sembène. O oficial socialista Thomas Sankara foi um impulsionador importante do festival de cinema FESPACO. O fotógrafo Isaac Julien (2005) retrata um cinema vazio.
Foto: Iwalewahaus/Isaac Julien
Brevemente em África?
A mostra ambulante "Things Fall Apart" foi concebida em Londres e na cidade alemã de Bayreuth, onde esteve patente até 18 de setembro. A partir de Dezembro poderá ser vista por dois meses em Budapeste. E depois? A Casa Iwalewa em Bayreuth negoceia atualmente uma possível exibição em países africanos. O sonho socialista permanece uma utopia também em África.
Foto: Universität Bayreuth/Iwalewahaus
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DW África: Então, o Governo em Berlim decidiu retirar todo o pessoal da RDA deste projeto?
MG: Todo o desenvolvimento agrícola que foi iniciado com a RDA entrou em colapso.
DW África: Não só em Unango?
MG: Não só em Unango. Mas o projeto Unango era o mais desenvolvido e o mais bem sucedido. Foi o que me disseram os peritos moçambicanos quando fiz uma visita há dez anos, quando erguemos o monumento. E é provavelmente por isso que Unango tenha sido um alvo. Por vezes aparecíamos nos jornais, tanto na Alemanha como em Moçambique. E isso foi mal visto pelos adversários. Mas, até hoje, não sabemos quem eram os verdadeiros atiradores.
DW África: Então nem sequer sabe ao certo se foi um ataque da RENAMO?
MG: Não temos a certeza disso. Há dez anos, começámos a fazer um pequeno filme para a MDR [Mitteldeutscher Rundfunk, uma emissora pública alemã] porque não abordávamos esta questão há duas décadas. Durante 20 anos, só falávamos sobre o que aconteceu entre nós, do grupo de Lichinga-Unango, que manteve o contacto. Em conjunto, fizemos também um trabalho psicológico, porque, de outra forma, não teríamos sido capazes de falar sobre aqueles dias e horas difíceis da nossa vida. Houve também uma mudança política com o fim da RDA [em 1989]. Depois, cada um teve de lutar pelo seu posto de trabalho e por tudo.
"Os mortos têm netos e eles querem saber o que aconteceu!"
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DW África: Depois do seu regresso, recebeu ajuda para lidar com o trauma, ou os familiares das vítimas?
MG: Tanto quanto sei, as viúvas só tiveram direito a alguns dias de baixa quando regressaram. Os funerais foram pagos, tal como os anúncios dos falecimentos nos jornais locais. Isso foi permitido. Também foi prestada ajuda a uma viúva que tinha de ir para outro local, porque precisava de uma mudança na sua vida. Houve apoio. Houve também pensões de sobrevivência para os filhos órfãos e pensões de viuvez - eram coisas que estavam previstas nas leis da RDA. Mas não houve nenhum apoio especial, nem antes nem depois do fim da RDA.
O ataque nem sequer foi investigado. O Estado não fez nada. Nem a RDA, nem a República Federal da Alemanha ou o Ministério Público tentaram esclarecer este massacre, este ataque terrorista.
Sou um "filho da RDA". Recebi uma boa educação, apesar dos meus pais terem tido oito filhos. Todos recebemos uma educação muito boa e tive a sorte de poder viajar para o estrangeiro. Essa era, na verdade, a nossa grande ambição. É claro que estávamos interessados neste tratado [de cooperação e amizade entre a RDA e Moçambique], mas estávamos especialmente interessados na possibilidade de ir para o estrangeiro. Lá conseguimos mostrar e aplicar o que aprendemos em cursos de formação de agricultura tropical. E falámos português desde o primeiro dia, porque tínhamos feito cursos perto de Leipzig, onde tínhamos sido preparados.
DW África: Quando voltaram à RDA depois destes terríveis acontecimentos e ninguém se mostrou interessado, não se sentiram sozinhos?
MG: O que mais me desapontou, na verdade, foi que a sociedade tenha aproveitado pouco ou nada do que lá se fez. Bem, os amigos e familiares ou mesmo colegas de trabalho estavam sempre interessados.
Ao longo dos anos, mais de 1.000 peritos estiveram em Moçambique e ajudaram em diversas áreas especializadas. O grupo de agricultores demonstrou que é possível produzir alguma coisa mesmo naquelas condições, na estação seca e chuvosa, apesar das caraterísticas do solo e dos condicionalismos naturais do norte de Moçambique, a uma altitude de 1.000 metros, em Lichinga. Os moçambicanos não precisam de pedir comida à Europa.
DW África: O que desejaria dos dois governos, do alemão e do moçambicano, para que este ataque de Unango seja finalmente esclarecido?
MG: Antes de mais, gostaria que a Alemanha não se ficasse por procedimentos técnico-jurídicos, mas pensasse também em reconhecer publicamente os feitos dos peritos naquela época. Em segundo lugar, será que é possível resolver esta questão? Quem esteve por detrás do ataque ao nosso grupo? Num curto ataque, foram todos alvejados e deixados para trás - aquelas pessoas pagaram com as suas vidas o seu empenho por boa causa.
Mas não há ninguém no nosso grupo que sinta ódio ou antipatia pelo povo moçambicano. Pelo contrário, sabemos que existiam elementos que queriam perturbar o desenvolvimento. Quando há guerra e terror, a humanidade não se consegue desenvolver normalmente. Mas aquela era uma oportunidade: no Niassa, seja com socialismo, seja com capitalismo, poderíamos ter produzido alimentos em quantidade suficiente para colocar no mercado. Já tínhamos duas lojas de venda de legumes, milho e carvão vegetal. Portanto, estávamos a construir algo que não deveria ter sido destruído. É isso que imputo aos elementos moçambicanos que provocaram essa destruição. Há dez anos atrás houve um filme da MDR [emissora pública alemã], em que estivemos envolvidos. Na altura, um representante da RENAMO de Lichinga disse: "Acontece muita coisa no contexto da guerra. Mas não fomos nós que fizemos este ataque."
Moçambique não pode recuar para essa posição e dizer apenas que há uma amnistia, que já não vai investigar, que já não está interessado. Éramos alemães, mas temos direito a que haja uma investigação em Moçambique, mesmo que estas pessoas já tenham morrido há muito tempo. As crianças tornaram-se adultos. Os mortos têm agora netos e eles querem saber o que aconteceu naquela altura!
Uma relação especial: a Alemanha Oriental e África
A República Democrática Alemã manteve relações estreitas com os países africanos de orientação socialista. Entre eles estavam Angola, Etiópia, Moçambique e Tanzânia. A cooperação terminou com a reunificação em 1990.
Foto: Ismael Miquidade
Formação de profissionais africanos
A República Democrática Alemã (RDA), extinta após a reunificação da Alemanha a 3 de Outubro de 1990, formou muitos trabalhadores vindos de países africanos socialistas. Estes angolanos participam num curso em Dresden, em 1983, no Instituto para Segurança no Trabalho. Angola estava em guerra nessa altura. O chamado "Bloco de Leste" apoiava o Governo marxista-leninista do MPLA.
Foto: Bundesarchiv/183-1983-0516-022 /U. Häßler
Ajuda ao desenvolvimento para aliados políticos
Depois do fim do colonianismo português em África, em 1975, a Alemanha Oriental (RDA) apoiou os partidos socialistas que foram conquistando o poder. A ideia era fazer desses novos Estados africanos aliados e parceiros económicos do Bloco de Leste. Aqui, o angolano Eduardo Trindade recebe formação de mecânico de máquinas agrícolas (1979).
Foto: Bundesarchiv/183-U0213-0014/P. Liebers
Formação para jornalistas africanos
Não havia só formação para profissões técnicas. A Alemanha Oriental também formava jornalistas africanos. Centenas de jornalistas, de quase todos os países de África, passaram pela Escola de Solidariedade da Associação de Jornalistas da RDA, em Berlim-Friedrichshagen. Na foto: jovens jornalistas de Angola, Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe durante o curso em dezembro de 1976.
Foto: Bundesarchiv/183-R1210-302
Cooperação no desporto
Esta foto foi tirada em setembro de 1989, em Leipzig, numa aula de atletismo da Escola Superior Alemã para Educação Física (DHfK), com treinadores de Angola, Nicarágua e Moçambique. Em Leipzig, a partir de 4 de setembro, os cidadãos começaram a exigir todas as segundas-feiras mais liberdade na RDA - primeiro eram centenas, depois dezenas de milhares. A 9 de novembro de 1989 caiu o Muro de Berlim.
Foto: Bundesarchiv/183-1989-0929-019/ W. Kluge
Estudantes nas universidades da RDA
Moisés José da Costa, de Angola, fez parte de um grupo de estudantes de 34 países que frequentou a Escola Superior Técnica de Karl-Marx-Stadt em 1986. A cidade passou a chamar-se Chemnitz em 1990. Muitas ruas da Alemanha Oriental, com nomes de políticos marxistas, também foram renomeadas. Hoje, muitos estrangeiros que viveram na RDA têm dificuldade em encontrar endereços antigos.
Foto: Bundesarchiv/183-1986-1112-002/W. Thieme
"Escola da Amizade"
1983: O Presidente de Moçambique, Samora Machel (dir.), e Margot Honecker, ministra da Educação da RDA (esq.), encontram-se com a direção da "Escola de Amizade", na localidade de Staßfurt. Em 1979, ambos os países decidiram que 899 crianças moçambicanas frequentariam essa escola na Alemanha Oriental durante quatro anos. Algumas dessas crianças tinham apenas 12 anos de idade.
Foto: Bundesarchiv/Bild 183-1983-0303-423/H. Link
Escola "Dr. Agostinho Neto"
Em outubro de 1981, durante uma visita do Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, à Alemanha, a 26ª Escola de ensino médio da RDA "Berlim-Pankow" recebeu o nome do seu antecessor. Passou a chamar-se Escola "Dr. Agostinho Neto". Jovens da Alemanha Oriental receberam o Presidente angolano com cartazes propagandísticos, como: "Apoiando a União Soviética pela paz e socialismo."
O Presidente angolano José Eduardo dos Santos (o quinto, a partir da esq.) visitou o Muro de Berlim na Porta de Brandemburgo. O muro começou a ser construído em 1961 para impedir que a população da RDA fugisse para Berlim Ocidental, onde se tinha livre-trânsito para o Ocidente. Oficialmente, o muro era chamado de "Muralha Antifascista". Cerca de 200 pessoas morreram ao tentar fugir.
Foto: Bundesarchiv
Congresso do SED com convidados africanos
O Partido Socialista Unificado da Alemanha (SED) gostava de exibir os seus convidados estrangeiros. No 10° Congresso do partido, em 1981, recebeu Ambrósio Lukoki, do MPLA (atrás, à direita), e Berhanu Bayeh (atrás, o segundo à esq.), que mais tarde se tornou chefe da diplomacia da ditadura marxista-leninista etíope do Derg, período em que milhares de pessoas foram mortas.
Foto: Bundesarchiv/183-Z0041-138/M. Siebahn
Visitas a congressos partidários africanos
O contrário também era comum. Konrad Naumann (na segunda fila, à dir.), membro do SED, participou do 3° Congresso do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) em Bissau, em novembro de 1977. O evento foi realizado sob o lema "Independência, Unidade e Desenvolvimento".
Foto: Bundesarchiv/Bild 183-S1118-026/Glaunsinger
Acampamentos de verão para crianças e adolescentes
Também durante o período de férias, a RDA tentava educar as crianças de acordo com os ideais comunistas. E convidavam-nas para acampamentos de verão. Aqui também vinham convidados estrangeiros. Na foto, dois membros da organização juvenil da Alemanha Oriental "Pioneiros" explicam a uma criança da República Popular do Congo uma matéria do jornal "Die Trommel".
Foto: Bundesarchiv/183-T0803-0302
Fim-de-semana em casa de família alemã
As crianças estrangeiras que, em 1982, participaram no acampamento dos "Pioneiros" também passaram um fim-de-semana com famílias alemãs para conhecer o dia-a-dia na Alemanha Oriental. Elas foram de comboio até à cidade de Schwedt, na fronteira com a Polónia. Sandra Maria Bernardo, de Angola, foi recebida pela sua "mãe-anfitriã" Ingeborg Scholz e a filha Petra.
Foto: Bundesarchiv/183-1982-0731-010 /K. Franke
Solidariedade militar
1973: Combatentes do MPLA marcham durante o Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes, que teve lugar no estádio da Juventude Mundial, no leste de Berlim. A RDA solidarizou-se com a luta do MPLA contra o poder colonial português. Os outros dois movimentos de libertação de Angola, a UNITA e a FNLA, foram apoiados pela África do Sul e EUA.
Foto: Bundesarchiv/Bild183-M0814-0734/F. Gahlbeck
Hora do adeus
Depois de formados na RDA, namibianos despedem-se no aeroporto Berlim-Schönefeld. De 1981 a 1984, eles estiveram a receber formação na Alemanha Oriental. No entanto, não puderam regressar às suas casas porque a Namíbia só se tornou independente da África do Sul em 1990. Por isso, voaram para Angola, para trabalhar como técnicos de silvicultura, canalizadores ou mecânicos de automóveis.
Foto: Bundesarchiv/183-1984-0815-031/A. Kämper
A ajuda chega de avião
Na foto, uma aeronave da companhia aérea Interflug, pertencente à extinta RDA, no aeroporto de Luanda. A bordo: material escolar para crianças angolanas. Em 1978, além de Angola, o Comité de Solidariedade da Alemanha Oriental enviou donativos à Etiópia, Moçambique, Vietname, República Popular do Iémen e às organizações de libertação do Zimbabwe (ZANU), da Namíbia (SWAPO) e da África do Sul.
Foto: Bundesarchiv/183-T0517-0022/R. Mittelstädt
Tratores para aliados socialistas
Doação de máquinas agrícolas da fábrica de tratores Schönebeck (da RDA) para a Etiópia. Os tratores do tipo "ZT 300-C" eram comuns na Alemanha Oriental e foram exportados para 26 países. Incluindo Angola e Moçambique. (1979)
Foto: Bundesarchiv/183-U1110-0001/Schulz
Máquinas têxteis da RDA para a Etiópia
Fábrica têxtil na cidade de Kombolcha, na província etíope de Amhara (foto de novembro de 2005). Esta fábrica processa algodão para fazer lençóis e toalhas. Foi construída em 1984 com o apoio da RDA e da hoje extinta Checoslováquia. Quase todas as máquinas foram produzidas pelo consórcio TEXTIMA, na antiga cidade de Karl-Marx-Stadt, hoje Chemnitz.
Foto: picture-alliance/dpa
Construções pré-fabricadas da RDA em Zanzibar
Ainda hoje, é possível ver prédios, construídos a partir de elementos pré-fabricados, em Zanzibar, com os quais a Alemanha Oriental apoiou a Tanzânia socialista criada em 1964 sob o Presidente Julius Nyerere. Os materiais chegaram de navio e tiveram apenas de ser montados. "Michenzani" é o nome do projeto com mais de 1,5 km de comprimento.
Foto: cc-by-sa/Sigrun Lingel
RDA - Nostalgia em Maputo
Cerca de 15 mil moçambicanos trabalharam na Alemanha Oriental no final dos anos 80. A maioria voltou ao seu país de origem após a reunificação da Alemanha, a 3 de Outubro de 1990. Em casa, são chamados de "Madgermanes", uma palavra derivada de "Made in Germany". Até aos dias de hoje, eles reúnem-se com frequência no Jardim 28 de Maio, em Maputo, para reivindicar os seus direitos.