Chade: União Africana apela à reposição da governação civil
Lusa
24 de abril de 2021
Depois do funeral do Presidente chadiano, a UA tornou pública a sua posição sobre a subida ao poder de um conselho militar chefiado pelo filho de Idriss Déby. França e G5 Sahel estão disponíveis para apoiar transição.
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A União Africana (UA) apelou esta sexta-feira (23.04) à reposição da governação civil no Chade o mais rápido possível, depois de o poder ter sido assumido por um conselho militar chefiado pelo filho do falecido presidente Idriss Déby Itno.
O Conselho de Paz e Segurança da UA reuniu-se na quinta-feira, mas esperou até sexta-feira, depois do funeral do presidente chadiano, para tomar posição sobre os acontecimentos dos últimos dias, manifestando "séria preocupação" com a tomada de poder pelo conselho militar presidido pelo general Mahamat Idriss Déby, de 37 anos de idade.
A UA exorta as forças de segurança do Chade "a respeitar o mandato e a ordem constitucional" e a lançar "rapidamente um processo de restauração da ordem constitucional e de transferência do poder político para as autoridades civis".
A declaração também apela a "um diálogo nacional inclusivo" e pede à Comissão da UA, presidida pelo chadiano Moussa Faki Mahamat, que "estabeleça rapidamente uma missão de investigação de alto nível" para se deslocar ao país.
França e G5 juntos no apoio à transição
A França e cinco países da região do Sahel (G5 Sahel) já manifestaram o "apoio ao processo de transição civil-militar" no Chade, a ser conduzido pelo filho do ex-Presidente, morto por insurgentes.
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Idriss Déby morreu na segunda-feira, com 68 anos de idade, em resultado de ferimentos sofridos na frente de batalha, no norte do Chade, contra insurgentes do movimento FACT.
Mahamat Idriss Déby, até agora comandante da Guarda Republicana e rodeado pelos generais mais leais ao seu pai, foi investido de plenos poderes, dissolveu o Parlamento e o governo anterior, suspendeu a constituição, anunciando uma "Carta de Transição", e formou um "Conselho de Transição" com 15 generais, prometendo "novas instituições" após eleições "livres e democráticas" dentro de 18 meses.
Para muitos opositores do regime, regularmente vítimas de intimidação e violência, esta tomada de poder não é mais do que um "golpe de Estado institucional".
O Presidente francês, Emmanuel Macron, e os seus homólogos do Níger, Burkina Faso, Mali e da Mauritânia foram recebidos esta sexta-feira em N'djamena pelo general Mahamat Idriss Déby, antes do início das cerimónias fúnebres do antigo chefe de Estado chadiano, a quem manifestaram a sua "unidade de pontos de vista", indicou à agência France Presse uma fonte não identificada da presidência francesa.
Idriss Déby Itno, que liderou o país com mão de ferro durante 30 anos, foi sepultado numa cerimónia que contou com a presença do chefe de estado francês, o único líder ocidental presente, e dos seus homólogos do G5 Sahel, assim como com o presidente do Conselho Soberano do Sudão, general Abdel Fattah al-Burhan e o chefe de Estado sul-africano, Félix Tshisekedi, presidente em exercício da União Africana (UA), entre uma dúzia de chefes de Estado e de governo.
Um sinal claro de Paris
Pouco antes da cerimónia, Macron e os outros quatro chefes de Estado do G5 Sahel, que formaram uma força militar apoiada por Paris para combater os jihadistas na região, liderada pelo Chade, deram testemunho ao jovem Déby numa audiência privada da "unidade de objectivos" e do "apoio conjunto ao processo de transição civil-militar para a estabilidade da região".
A presença de Macron no Chade representa um sinal claro de que a França, que salvou militarmente, pelo menos, duas vezes o regime do falecido Idriss Déby, ameaçado pelos rebeldes em 2008 e 2019, mantém o apoio ao seu sucessor.
Paris estabeleceu o quartel-general da Barkhane, a sua força anti-jihadista no Sahel, no Chade, o seu aliado mais forte contra os extremistas islâmicos na região. Desde que chegou ao poder pela força das armas, em 1990, com a ajuda de Paris, Idriss Déby contou sempre com o apoio da antiga potência colonial.
Várias organizações de defesa dos direitos humanos expressaram hoje a sua "preocupação" com a situação política no Chade. "As nossas organizações expressam a sua profunda preocupação com o que parecer ser um plano de sucessão para continuar a tomada do poder", referiram, num comunicado conjunto, a Federação Internacional para os Direitos Humanos (FIDH), a Liga dos Direitos Humanos (LDH) e a Liga Chadiana para os Direitos Humanos.
"Durante três dias houve um golpe de Estado que desmantelou o sistema institucional e legislativo chadiano. A constituição de uma comissão de transição composta exclusivamente por militares e as primeiras decisões impostas sem um diálogo político inclusivo não são sinais tranquilizadores", afirmou a secretária-geral da FIDH, Drissa Traoré, citada pela agência France-Presse (AFP).
Os chefes de Estado há mais tempo no poder
São presidentes, príncipes, reis ou sultões, de África, da Ásia ou da Europa. Estes são os dez chefes de Estado há mais tempo no poder.
Foto: Jack Taylor/Getty Images
Do golpe de Estado até hoje - Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo assumiu a Presidência da Guiné Equatorial em 1979, ainda antes de José Eduardo dos Santos. Teodoro Obiang Nguema derrubou o seu tio do poder: Francisco Macías Nguema foi executado em setembro de 1979. A Guiné Equatorial é um dos países mais ricos de África devido às receitas do petróleo e do gás, mas a maioria dos cidadãos não beneficia dessa riqueza.
Foto: DW/R. Graça
O Presidente que adora luxo - Paul Biya
Paul Biya é chefe de Estado dos Camarões desde novembro de 1982. Muitos dos camaroneses que falam inglês sentem-se excluídos pelo francófono Biya. E o Presidente também tem sido alvo de críticas pelas despesas que faz. Durante as férias, terá pago alegadamente 25 mil euros por dia pelo aluguer de uma vivenda. Na foto, está acompanhado da mulher Chantal Biya.
Foto: Reuters
Mudou a Constituição para viabilizar a reeleição - Yoweri Museveni
Yoweri Museveni já foi confirmado seis vezes como Presidente do Uganda. Para poder concorrer às eleições de 2021, Museveni mudou a Constituição e retirou o limite de idade de 75 anos. Venceu o pleito com 58,6% dos votos, reafirmando-se como um dos líderes autoritários mais antigos do mundo. O candidato da oposição, Bobi Wine, alegou fraude generalizada na votação e rejeitou os resultados oficiais.
Foto: Getty Images/AFP/I. Kasamani
"O Leão de Eswatini" - Mswati III
Mswati III é o último governante absolutista de África. Desde 1986, dirige o reino de Eswatini, a antiga Suazilândia. Acredita-se que tem 210 irmãos; o seu pai Sobhuza II teve 70 mulheres. A tradição da poligamia continua no seu reinado: até 2020, Mswati III teve 15 esposas. O seu estilo de vida luxuoso causou protestos no país, mas a polícia costuma reprimir as manifestações no reino.
Foto: Getty Images/AFP/J. Jackson
O sultão acima de tudo - Haji Hassanal Bolkiah
Há quase cinco décadas que o sultão Haji Hassanal Bolkiah é chefe de Estado e Governo e ministro dos Negócios Estrangeiros, do Comércio, das Finanças e da Defesa do Brunei. Há mais de 600 anos que a política do país é dirigida por sultões. Hassanal Bolkiah, de 74 anos, é um dos últimos manarcas absolutos no mundo.
Foto: Imago/Xinhua/J. Wong
Monarca bilionário - Hans-Adam II
Desde 1989, Hans-Adam II (esq.) é chefe de Estado do Liechtenstein, um pequeno principado situado entre a Áustria e a Suiça. Em 2004, nomeou o filho Aloísio (dir.) como seu representante, embora continue a chefiar o país. Hans-Adam II é dono do grupo bancário LGT. Com uma fortuna pessoal estimada em mais de 3 mil milhões de euros é considerado o soberano europeu mais rico.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Nieboer
De pastor a parceiro do Ocidente - Idriss Déby
Idriss Déby (à esq.) foi Presidente do Chade de 1990 a 2021. Filho de pastores, Déby formou-se em França como piloto de combate. Apesar do seu autoritarismo, Déby foi um parceiro do Ocidente na luta contra o extremismo islâmico (na foto com o Presidente francês Macron). Em abril de 2021, um apenas dia após após a confirmação da sua sexta vitória eleitoral, Déby foi morto num combate com rebeldes.
Foto: Eliot Blondet/abaca/picture alliance
Procurado por genocídio - Omar al-Bashir
Omar al-Bashir foi Presidente do Sudão entre 1993 e 2019. Chegou ao poder em 1989 depois de um golpe de Estado sangrento. O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu em 2009 um mandado de captura contra al-Bashir por alegada implicação em crimes de genocídio e de guerra no Darfur. Em 2019, foi deposto e preso após uma onda de protestos no país.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
O adeus - José Eduardo dos Santos
José Eduardo dos Santos foi, durante 38 anos (de 1979 a 2017), chefe de Estado de Angola. Mas não se recandidatou nas eleições de 2017. Apesar do boom económico durante o seu mandato, grande parte da população continua a viver na pobreza. José Eduardo dos Santos tem sido frequentemente acusado de corrupção e de desvio das receitas da venda do petróleo. A sua família é uma das mais ricas de África.
Foto: picture-alliance/dpa/P.Novais
Fã de si próprio - Robert Mugabe
Robert Mugabe chegou a ser o mais velho chefe de Estado do mundo (com uma idade de 93 anos). O Presidente do Zimbabué esteve quase 30 anos na Presidência. Antes foi o primeiro-ministro. Naquela época, aconteceram vários massacres que vitimaram milhares de pessoas. Também foi criticado por alegada corrupção. Após um levantamento militar, renunciou à Presidência em 2017. Morreu dois anos mais tarde.